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Análise: Com Binary Domain (PS3), a era das máquinas se inicia

Com o passar dos anos, os seres humanos dependem cada vez mais da tecnologia, criando mais, mas e quando ela não depender mais de nós?

Já é um fato indubitável e inquestionável que a tecnologia faz parte de nosso dia a dia. Seja para nos ajudar a acordar, para fazer um cafezinho ou até mesmo para nos manter vivos. Com o passar do tempo, novas tecnologias são criadas com o objetivo de nos ajudar mais e mais. Há muito, várias obras abordando o tema, de forma considerada fantasiosa e talvez radical, foram feitas, fosse o tão famoso Monstro de Frankenstein, de Mary Shelley, a franquia Exterminador do Futuro, de James Cameron, ou até mesmo a que possuo um apreço especial, Eu, Robô, de Isaac Asimov, todas com o mesmo ponto: Onde a criação acaba por superar o criador de alguma forma.

Ainda hoje novas obras, abordando o mesmo tema, são criadas, algumas se inspiram em outras, fazem mais sucesso, outras nem tanto, mas também há aquelas que muitos simplesmente não sabem que existem. Binary Domain é uma dessas obras, tanto que conseguiu divergir minha própria opinião em seu decorrer. Será que as faces desse Domínio Binário são tão diferentes? É o que vamos descobrir!

Em um futuro não tão distante…

Ainda no século XXI, o aquecimento global fez com que os polos glaciais fossem derretidos ao ponto de fazer com que o nível do mar subisse desastrosamente. Três quartos de todo o planeta foi coberto pela água. Inúmeras cidades foram destruídas e ficaram submersas no novo “oceano”, milhões de vidas se perderam no processo. Para conseguir se reerguer, a humanidade reconstruiu várias de suas cidades, desta vez acima das já inundadas, utilizando as antigas como uma espécie de base. Para que essa reconstrução fosse possível, novas tecnologias foram sendo desenvolvidas, a principal delas foi a robótica.
Após ser reconstruída, a Cidade de Tóquio deu um novo jeito de separar as classes sociais.
Com o desenvolvimento dos robôs em seu auge, a humanidade acabou por depender deles para inúmeros atos, não só para a construção das cidades em si, mas também para o seu dia a dia. Algumas das responsáveis pelo desenvolvimento dessas máquinas foram a empresa Bergen, dos EUA, e a Corporação Amada, do Japão.

Sendo o destaque desde o início, a Corporação Amada liderava no campo da robótica, até que subitamente Bergen obteve sua ascensão, chegando ao ponto de tornar a si e os EUA uma mega potência econômica, instalando-se assim como a maior e mais importante fabricante de tecnologia no mundo.
Lembra da famosa Shibuya, caro leitor?
Yohji Amada, da Corporação Amada, alegava que Bergen havia roubado suas pesquisas e tecnologia, fazendo uso delas para que sua ascenção fosse possível. Entretanto, Bergen já era poderosa o suficiente para que os inúmeros processos movidos pelo rival fossem anulados sem maior investigação.

Nada além de mentiras

No ano de 2040, uma reunião de todos os Estados ainda presentes fora feita, batizada de Nova Convenção de Geneva. Nessa reunião, o foco fora colocar em pauta o que poderia, de fato, ser ou não feito com o avanço da tecnologia, mais especificamente a robótica. Dentre várias outras, a cláusula 21 é a mais (e a única) apontada pelo jogo. Ela proibia que qualquer empresa produzisse robôs que se assemelhassem ao extremo a um ser humano, limitando-os a apenas possuir um exoesqueleto base, mas mantendo a aparência metálica original.

Em 2080, uma ocorrência acabou por chocar o mundo, revelando que o ser humano não possuía limites para a criação. Um homem invadiu o complexo da empresa Bergen, alegando que toda sua vida fora uma mentira, revelando-se um robô. Com isso, uma nova “espécie” de robôs foi descoberta, a qual foi intitulada: Hollow Children (Crianças Vazias).
Sendo enganados durante toda a vida, as Hollow Children sequer sabiam de sua própria real identidade.
As Hollow Children eram robôs inimaginavelmente avançados, com aparência humana, que possuíam livre-arbítrio, podendo viver como qualquer outra pessoa, sem que pudessem ser descobertos. Os segredos eram tantos que tampouco eles mesmos sabiam que eram robôs, podendo crescer, viver o equivalente a uma vida humana e morrer sem saber. Esses modelos “humanos” eram claras violações à cláusula 21 da concordata e o principal suspeito pela criação deles era o já desaparecido Yohji Amada. Como eram apenas suspeitas e não havia provas concretas sobre nada disso, nenhuma acusação legal poderia ser feita, fazendo com que os políticos agissem sob sigilo convocando a IRTA.

A IRTA (Agência Internacional de Tecnologia Robótica) foi a empresa criada para fins de segurança e punição daqueles que violassem o código de Geneva. Ao ser acionada, a IRTA uniu uma equipe de agentes especiais, apelidada de Rust Crew, que é formada para lidar com os problemas envolvendo intervenções armadas e robôs. O objetivo da missão é: invadir o complexo-sede da Corporação Amada, conseguir as evidências necessárias para uma acusação formal e extraditar o cientista para que o julgamento pudesse ser feito. Mas, como nada até o momento foram mil maravilhas, inúmeros desafios e situações de vida ou morte estarão no caminho desses soldados.
Uma dica: eles não são muito fãs de "cabeças de lata".

A Tripulação Ferrugem

Em Binary Domain somos apresentados a uma equipe de soldados de operações especiais, nomeada Rust Crew (ou Tripulação Ferrugem). Eles lidam com as ameaças e intervenções armadas envolvendo robôs e/ou máquinas que possuem algum tipo de I.A. (Inteligência Artificial). Inicialmente, o jogo nos apresenta cinco soldados. São eles:

Dan Marshall: Mais conhecido pelo apelido Survivor (Sobrevivente), Dan faz parte da unidade de operações especiais dos EUA, onde nasceu, tendo servido por quatro anos até receber o título de Primeiro-Sargento. Marshall se assemelha muito com vários estereótipos de soldados americanos, por ser um “soldado nato”, possuir um humor irônico e ser o melhor no que faz, embora questione algumas das ordens que recebe. Dan é amigo próximo de Roy Boateng, ou como o chama, “Big Bo”.

Roy Boetang: Apelidado por Marshall de Big Bo, possui o mesmo posto que o parceiro, tendo servido, também, por quatro anos para a IRTA. Nascido nos EUA, Bo possui uma aparência “casca-grossa”, carrega os armamentos mais pesados e é um mulherengo de carteirinha. Mesmo com tudo isso, o sargento ainda consegue ser gentil quando se trata de animais e crianças.

Rachael Townsend: Faz parte da unidade britânica da IRTA, servindo também por quatro anos. Rachael é especialista em bombas e equipamentos de destruição. É parceira de longa data de Charlie e, embora se importe com os outros membros, frequentemente os coloca em risco em certas situações.

Charles Gregory: Comandante da operação, Charles serviu no serviço secreto inglês até se aposentar. Após algum tempo fora de serviço, fora convidado por sua antiga parceira Rachel para participar da unidade britânica da IRTA. O comandante possui um enorme senso de dever, sem questionar qualquer ordem nenhuma vez sequer, o que acaba por criar certos conflitos contra Marshall.

Faye Lee: Embora servindo por apenas metade de um ano, Faye possui um posto maior que Bo e Dan, sendo primeiro-tenente. Nascida na China, fazia parte do exército do país (People’s Liberation Army), possuía as melhores notas em todas as avaliações a que era imposta. Os méritos conquistados por ela fizeram com que fosse promovida rapidamente e chamada para servir à IRTA.

À primeira vista, os personagens do jogo são apenas estereotipados e enjoativos, dando a impressão que não possuem carisma algum, mas, algo que me surpreendeu, foi o fato de isso não passar de uma impressão inicial.

“Não é assassinato se eles não estiverem vivos”

Para completar a missão, a equipe necessitará invadir a cidade sob sigilo, mas isso não significa que será fácil adentrar no local, longe disso, aliás. Para a segurança, várias cidades aderiram aos robôs, ou seja, ao invés de soldados para impedir a entrada de invasores, são utilizados robôs de segurança. É aí que o verdadeiro design do jogo se encontra.

Por utilizar robôs, o jogo abusa da criatividade para dar enorme variedade aos inimigos, passando de pequenas máquinas que dão choque, a robôs humanoides muito bem armados, até mesmo macacos robôs estão presentes. Isso é apenas para os “casuais” que encontramos no decorrer do caminho. Já os chefes conseguem ter um brilho à parte, surpreendendo no tamanho, no design e na dificuldade para derrotá-los.
A Aranha é um dos modelos avançados de segurança na cidade. Na verdade é um chefão, estou apenas sendo chato mesmo!
Além do design, a forma como os robôs são danificados é realmente muito detalhada, fazendo com que o dano resulte no local onde o jogador atirou. Por exemplo: caso o jogador atire no braço do robô, a carenagem será destruída e, caso inflija mais dano, posteriormente o braço. Caso o jogador destrua a cabeça do robô, este perderá a capacidade de distinção de aliados ou inimigos e atacará outros robôs. Estranhamente, eles atacam apenas outros robôs e não tudo que estiver à volta.
O nível de detalhes na destruição dos robôs chega a surpreender.

É hora da briga!

Binary Domain adere a jogabilidade de tiro em terceira pessoa (TPS), ou seja, a câmera do jogo é posicionada atrás do personagem, seguindo o gênero de ação e aventura. O jogador controla o primeiro-sargento Dan Marshall. Os comandos básicos são: andar, correr, rolar, atirar com as armas de fogo disponíveis, atirar bolas de energia da arma principal, dar ataques físicos, subir em certos locais e buscar cobertura em algum local próximo, seja parede, barricada ou até mesmo bancos. Caso Dan seja abatido, ele ficará no chão até que algum aliado o ajude a se recuperar ou o jogador utilize o comando para recorrer a um número limitado de kits médicos. Embora possua o básico de vários jogos do gênero, BD também consegue variar constantemente a jogabilidade, mesmo que apenas em uma fase. Haverá momentos em que o jogador poderá nadar, pular ou escalar nos chefes, e até mesmo situações que envolverão Quick Time Events (quando o jogador deve apertar tal botão em um curto período de tempo).

Outra coisa realmente interessante é o sistema de relacionamentos com os membros do grupo do jogador, que pode, de certa forma, punir ou recompensar o mesmo dependendo da relação que possuir com os membros do grupo (algo muito parecido com os Social Links presentes na franquia Persona). A cada fase, o jogador poderá escolher dois membros para acompanhá-lo, com isso, as decisões tomadas durante a jogatina com aqueles personagens resultará em retaliação verbal ou até mesmo elogios.
Caso faça algo impressionante, a moral de Dan para com seus companheiros aumentará.
Além disso, BD também possui um sistema de comandos de voz que interfere nas ações, tendo um certo número de palavras registradas possíveis para comando. Por exemplo: Caso o jogador atire por acidente em algum aliado, ele pode pedir desculpas pelo tiro e tudo ficará bem, caso não peça, o status de confiança do aliado vai reduzir, levando ele a questionar as habilidades de Dan em algum momento de intervalo das batalhas. Embora muito útil, os comandos de voz não são perfeitamente funcionais, podendo prejudicar o gameplay em certos momentos. Contudo, os comandos com o microfone são opcionais, pois o jogo já possui algumas ordens registradas que podem ser acessadas com os botões.

O sistema de relações também interfere no rumo final da história do jogo, dando possibilidade a três: um bom, um normal e um ruim, com direito a traições e até baixas. Entretanto, as consequências das escolhas surtirão efeito apenas na reta final da trama.

Os aprimoramentos

No decorrer das fases, encontramos várias máquinas de venda, onde podemos comprar munição, armas, granadas, kits médicos e nanorobôs, que servem para aprimorar alguma característica do personagem, seja de Dan ou de seus aliados, basicamente, é uma árvore de habilidades.
A árvore de habilidades pode ser vista no menu de status do jogo.
Os aprimoramentos disponíveis nas máquinas servem para aumentar a capacidade da arma principal do personagem (a posicionada à esquerda), dando mais poder de fogo, estabilidade na hora de atirar ou alcance de bala, algo que realmente é útil e ajuda o jogador no decorrer do jogo. Tais itens e aprimoramentos podem ser adquiridos com créditos, que por sua vez são ganhos destruindo inimigos.

“Todos vivos!? Gritem se não estiverem mais!”

A ambientação de BD é variada dentro de seus limites, ou seja, é muito bem detalhada e não foge da proposta: a Cidade de Tóquio em si. Os personagens passarão por várias situações em meio a prédios, esgotos, depósitos de lixo (ferro velho) e até mesmo rodovias, quando em perseguição.

Os cenários em si não são possuem muitas opções para interação. Entretanto, quando os chefes entram em cena, a destruição é claramente visível e chega a impressionar, do mesmo modo que ocorre com a destruição dos robôs em si.
Só de ver o Grand-Lancer chegando já consigo imaginar o resultado final.

Nem mesmo máquinas são perfeitas

Embora BD traga várias novidades e aspectos positivos, o jogo ainda possui seus problemas. Um deles, por exemplo é a constante queda nos frames dos personagens em si, o que é estranho comparada aos robôs, cenários, até mesmo as fases mais coloridas: nada perde a qualidade, APENAS os personagens humanos.

Além dos comandos de voz serem um tanto falhos, a jogabilidade em si, mesmo sendo simples, pode acabar complicando algumas situações “simples”, como tentar correr em um local fechado, por exemplo, o que muitas vezes faz com que o personagem se coloque contra a parede, buscando cobertura, pois os comandos são os mesmos.

A Inteligência artificial dos aliados é funcional e, contando com o fato de que ela realmente obedece as ordens dadas pelo jogador, muito boa, mas em vários momentos, os aliados ficam perdidos em meio ao tiroteio e simplesmente entram na linha de fogo de Dan, levando tiros e resultando em queda no nível de relacionamento.
Se atirar nos inimigos de tamanho normal já é difícil, com a IA se atrapalhando, imagine nos pequenos.
BD também possui um multiplayer online com modalidades já conhecidas por aqueles familiarizados com o gênero, ou seja, Mata-mata (Deathmatch), Rouba-bandeira (Capture the Flag) e algumas outras. Contudo, o online realmente é muito fraco, isso tanto em relação aos modos disponíveis quanto à quantidade de jogadores presentes, que é quase inexistente, o que impediu que alguns dos outros modos presentes fossem testados.

“That was sweet!”

Binary Domain é uma obra que, como o próprio produtor colocou, aborda o conceito da “vida”, tanto que seu nome de desenvolvimento era este. O jogo se inspira claramente em obras muito famosas, tais como Exterminador do Futuro, Eu, Robô e muitas outras, seja para design ou conceito da trama, o que não tira o mérito. Longe disso, aliás, apenas o faz ganhar mais ainda pelo fato de conseguir representar tão bem.

Mesmo com suas falhas, que, se comparadas aos acertos, são mínimas, o jogo consegue possuir uma identidade própria e apresentar muitas coisas que outros jogos tentaram e acabaram não conseguindo, mas também decepciona pelo fraquíssimo apoio de marketing que a SEGA deu, fazendo com que o jogo fosse “esquecido” em pleno ano de lançamento (2012).

Por ser fã do gênero sci-fi e fascinado por robôs, fui apresentado por acaso ao jogo, que acaba se desenvolvendo aos poucos e consegue chegar ao ápice do entusiasmo no final, assim como um bom livro ou filme do gênero.

Prós


  • Trama imersiva e intensa;
  • Conceito abordado de forma interessante; 
  • Personagens com desenvolvimento progressivo no quesito carisma;
  • Detalhes de destruição;
  • Jogabilidade diversificada e variada;
  • Comandos de voz.

Contras


  • Queda gráfica relevante nos personagens;
  • Inteligência Artificial um tanto confusa;
  • Controles se atrapalham um pouco;
  • Multiplayer genérico e sem necessidade;
  • Comandos de voz.


Binary Domain - SEGA - PS3 - Nota: 8.0
Revisão: Bruno Nominato
Capa: Leonardo Correia

Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

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