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Análise: Shiren The Wanderer: The Tower of Fortune and The Dice of Fate (PS Vita) quase acerta

O título homenageia o passado da franquia, mas também traz elementos novos à fórmula já um pouco desgastada.

A série Mystery Dungeon já é tradicional. Pode-se dizer que é praticamente um sinônimo de roguelike no ramo dos RPGs japoneses. A partir dela surgiram subséries e spin-offs como Pokémon Mystery Dungeon e Etrian Mystery Dungeon. No entanto, seu fio principal, Shiren The Wanderer, tem um histórico irregular de localizações ocidentais.


The Tower of Fortune and The Dice of Fate é um port de Shiren The Wanderer 5, lançado apenas no Japão para o Nindendo DS no ano de 2010. Na versão de 2016, que acabou de chegar ao PlayStation Vita, várias melhorias foram implementadas, como o suporte a widescreen, por exemplo. Embora tudo indique que o papel pensado para a obra seja reafirmar tradição do estilo, de certa forma, o título parece renovado.

Ajudando a salvar Oyu

O enredo não é um dos pontos fortes do jogo, é pouco desenvolvido, mas serve para ambientar e apresentar os objetivos de forma suficiente. Tudo começa quando o andarilho Shiren e seu parceiro Koppa, uma doninha tagarela, chegam a um vilarejo nas montanhas em uma de suas viagens. No local, conhecem Jirokichi e decidem ajudá-lo a mudar a sorte de sua amada Oyu, que se encontra muito doente. Para isso, eles devem obter os Dice of Fate (Dados do Destino) para acessar a Tower of Fortune (Torre da Fortuna) e conseguir encontrar em seu topo Reeva, o deus do destino.

Uma homenagem aos clássicos da era 16-bit

Visualmente, o jogo está bonito. Os gráficos em pixel art foram melhorados e, na tela OLED do Vita original (“fat”), as cores realmente saltam aos olhos. É compreensível que a intenção tenha sido homenagear a velha guarda, porém a impressão é que, mesmo mantendo-se o estilo, algo mais trabalhado poderia ser obtido no portátil da Sony. Mas talvez isso seja algo pessoal.


As torres do Passado, do Presente e do Futuro (onde se encontram os Dados) carecem de personalidade. Com exceção do último piso, não há elementos nos cenários que remetam à temática de cada uma, os monstros se repetem nas três torres em sua maior parte, assim como os itens encontrados. Acaba ficando muito repetitivo. Porém isso é amenizado após todas serem terminadas, pois para acessar a Tower of Fate é necessário passar por apenas uma delas novamente.


Como um bom roguelike, os pisos das dungeons são gerados proceduralmente. Por isso, nunca se sabe a localização de itens até que se adentre uma sala/área e eles sejam indicados no mapa. O mesmo pode-se dizer sobre os inimigos. Isso alivia a sensação de repetição causada por ter que recomeçar de Nekomaneki (vila que funciona de hub) do level 1 e sem itens quando se é derrotado (outra característica do estilo).

Exploração e estratégias

Dentro das dungeons tudo acontece por turnos, que são determinados por ações do protagonista. A cada passo, ataque ou uso de item feito por Shiren, os monstros e NPCs fazem também algo. Essa é a mecânica fundamental do gameplay. Além disso, há uma infinidade de itens e equipamentos que podem ser encontrados, cada um deles com diversos efeitos. A combinação dessas características revela o forte fator tático e estratégico da progressão, um grande ponto alto do jogo.


É também bastante positivo o fato do progresso ser pouco determinado pelo sistema de levels. A repetição da experiência de efetivamente jogar faz com que o jogador melhore suas habilidades e consiga avançar. Faz com que ele busque estratégias e o uso criativo de itens e dos personagens auxiliares. Todavia, isso não é perfeito. Mais adiante no game os inimigos ficam excessivamente poderosos e a dificuldade fica um pouco exagerada, forçando o grind nas novas tentativas.


Há algumas formas de atenuar as consequências do sistema de permadeath imposto pelo estilo roguelike. Itens como o Escape Scroll e o Undo Grass permitem que se retorne a Nekomaneki com tudo que estiver na mochila. É possível também colocar uma etiqueta em um equipamento para recuperá-lo caso seja derrotado. Esses recursos funcionam bem. Existe ainda a funcionalidade Rescue, que permite que um jogador faça, através da internet, o resgate de outro que tiver sido derrotado. Porém, a função acaba não sendo utilizada por causa de menus confusos e é pouco atrativa.


Falando-se em menus, aí temos um dos pontos baixos deste Shiren The Wanderer. São elementos base para a forma como se joga o game, entretanto são confusos e obstam a fluidez que devia haver. Os nomes de funções e itens não deixam claro quais as suas utilidades, gerando confusão. Por exemplo, para salvar deve-se selecionar ‘Abort’, mesmo estando em alguma vila. Além disso, é quase sempre preciso ficar lendo as descrições de cada um dos itens, dada a diversidade deles.

Companheiros reais e virtuais

Shiren não explora torres e caminhos sozinho, está sempre acompanhado por Koppa , a voz da dupla, carismático e dá boas dicas para o jogador. Além disso, conforme avança em sua aventura, o andarilho conhece guerreiros que ajudam a enfrentar os monstros em seu caminho. Cada um deles batalha de uma forma e fazer um bom uso de seus suportes faz parte de uma boa estratégia.


O modo multiplayer é um complemento muito bem-vindo. Além da diversão de se jogar em dupla, o desafio fica mais tranquilo de ser batido com um parceiro. Mas há não só o “coop”, também é possível jogar no versus. O ponto negativo fica por conta de não se poder jogar acompanhado através da internet, mas apenas pela conexão ad hoc. Outra inclusão interessante são os minigames da Dungeon Center, que misturam jogos consagrados como Sokoban e Campo Minado com elementos da jogabilidade padrão da série. São excelentes para uma jogada mais descompromissada.

Um jogo de nicho

Para um RPG roguelike atual não é necessário apresentar somente as características clássicas do estilo, pois isso TTOFATDOF tira de letra. É também preciso trazer um gameplay equilibrado, que consiga tirar proveito da dificuldade elevada e da repetição através da sintonia com outros ingredientes, atraindo o jogador em vez de cansá-lo. De certa forma, o game tenta fazer isso em diversos pontos e consegue em boa parte deles, mas em outros não. No geral, a sensação é de que apesar de ter havido uma inserção de tantos elementos que se contrapõem, o esforço não foi suficiente para se chegar a um equilíbrio. O título é uma boa contribuição ao gênero, mas certamente será mais apreciado por jogadores do nicho.

Prós:

  • Elaborado sistema estratégico de exploração e combates;
  • Progressão pouco dependente do sistema de levels;
  • Presença de modo multiplayer cooperativo e versus;
  • Ótimos minigames.

Contras:

  • Dificuldade pouco balanceada nos níveis mais avançados;
  • Menus complicados e confusos;
  • Dungeons um pouco genéricas;
  • Função ‘Rescue’ mal implementada.

Shiren The Wanderer: The Tower of Fortune and The Dice of Fate — PS Vita — Nota: 7.5

Revisão: Vitor Tibério


é formado em Direito pela UFJF. Adora videogames desde que se entende por gente. Gosta de jogos antigos, mas está sempre ligado nos novos games e tecnologias. Pode ser encontrado no Facebook e no Twitter.

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