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Análise: GNOG (PS4) une o palpável ao virtual

Não podemos tocar nos objetos de um jogo, mas podemos ter uma experiência similar.


Nós, jogadores de videogames, estamos habituados a interagir com mundos e quebra-cabeças completamente virtuais, separados do mundo real e seguindo suas próprias séries de regras. Talvez seja por isso que, ao nos depararmos com objetos e situações do mundo real que repliquem a experiência de estar em um videogame, ficamos fascinados. Pode ser um bom jogo de tabuleiro, um quebra-cabeças que parece ser resolvido apenas com mágica, a onda recente de salas de escape ou até mesmo o quadro Maratoma do Domingão do Faustão.

Interagir com objetos palpáveis é algo que não podemos fazer em videogames, ou pelo menos não por enquanto, mas, usando nos dispositivos de realidade virtual como o Oculus Rift, o HTC Vive e o PlayStation VR, podemos ao menos fazer nossos olhos perceberem uma interação direta. É aí que entra GNOG (PS4, PSVR opcional), um jogo no qual devemos interagir com maletas virtuais pressionando botões, puxando alavancas, girando discos e mais.

O motivo pelo qual eu o comparo com objetos reais é que, além da estética fantasiosa, os quebra-cabeças de GNOG parecem muito coisas que eu gostaria de poder interagir com as minhas próprias mãos — assim como The Room (iOS/Android) faz com salas de escape. É invariavelmente intrigante descobrir qual é a consequência de pressionar cada objeto e, então, pensar como usá-los para desvendar o segredo de cada fase.

Como experiência de realidade virtual, o mais fascinante é poder fisicamente movimentar a cabeça para ter uma visão melhor dos detalhes. O instinto natural que temos de nos aproximarmos de algo mostra-se importante e útil para, em alguns momentos, ter ideia de como progredir. Além disso, podemos notar vários detalhes sutis que servem apenas para complementar a estética do game.

A estética, por si só, é um dos grandes apelos de GNOG. Com cores psicodélicas e figuras bizzaras que lembram objetos e animais, este encaixa-se como mais um dos jogos de realidade virtual que beiram a insanidade. Aliado à trilha sonora, que se desenvolve à medida que resolvemos partes dos quebra-cabeças, a conclusão de cada fase é um clímax de loucura audiovisual que palavras só podem tentar descrever.


GNOG brilha nos momentos em que devemos prestar bastante atenção aos detalhes para descobrir como progredir. Às vezes, as dicas para as soluções, como uma senha ou uma combinação, são mecanicamente fáceis de encontrar, mas exigem cautelosa atenção a tudo que o jogo está apresentando. Em outras, basta um pouco de raciocínio e intuição para encontrar o caminho. Infelizmente, em boa parte do jogo a sensação é de estar apenas lidando com o cenário arbitrariamente para encontrar objetos que reagem à interação do jogador, e em vários casos esses objetos são algum tipo de progresso por si só.

Além da facilidade de alguns dos quebra-cabeças, o jogo é incrivelmente curto, com apenas nove fases que, em geral, podem ser resolvidas em alguns minutos. Eu teria terminado todas elas em apenas uma sessão, se não fosse pelo fato que comecei a jogá-lo pela primeira vez já bastante cansado. Naturalmente, o próprio estilo do jogo faz com que haja pouco motivo para jogar fases novamente — afinal, sabendo as soluções, completar uma delas é trivial. Até mesmo os troféus secretos de GNOG são apenas de bronze e sem uma platina no final.



Essa brevidade é algo que já aprendi a esperar de jogos voltados à realidade virtual. Como usar dispositivos de VR pode ser fisicamente cansativo, faz sentido desenvolvedores quererem trabalhar em algo que não seja associado a esse cansaço. Ao mesmo tempo, não vejo por que um jogo como esse não possa ser espalhado em múltiplas sessões, que é como geralmente finalizamos jogos, afinal.

Ainda assim, o fato de ser curto não tira o mérito que GNOG tem com seu conceito interessante e bem trabalhado, além de estética e trilha sonora cativantes. Definitivamente é uma experiência que vale a pena ser conferida em realidade virtual, mas deixa seus jogadores desejando um pouco mais no fim.

Prós

  • Estilo de quebra-cabeças pouco visto e bem executado;
  • Estética e trilha sonora muito bem acertadas;
  • Superar alguns dos desafios é muito satisfatório;
  • Trabalha bem com a relação entre o real e o virtual.

Contras

  • O jogo nunca leva suas mecânicas ao limite, permitindo que o jogador permaneça em sua zona de conforto;
  • Pouco número de fases resulta em uma experiência muito curta;
  • Estilos dos puzzles tira o sentido de jogar fases repetidas vezes.
GNOG — PS4 — Nota: 7.0

Quando não está ocupado sendo diretor, redator, newsposter, podcaster e RP do PlayStation Blast, Renan Greca gosta de jogar videogames. Às vezes, lembra de focar em seu mestrado também.

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