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Análise: Utawarerumono: Mask of Deception (PS4/PS Vita) — entre muita leitura e algumas batalhas

Esse visual novel tenta inovar ao trazer combates táticos, mas o foco ainda é a grande quantidade de texto.


Visual Novel é um gênero para poucos, pois esses títulos costumam basicamente ser livros com algum nível de interação. Utawarerumono: Mask of Deception, lançado para PlayStation 4 e PS Vita, é um representante desse estilo e tenta trazer mais variedade com batalhas táticas e elementos de RPG. Mesmo com esses combates, permanece a sensação de jogar um visual novel extenso, para o bem e para o mal.

Perdido em um mundo estranho

Utawarerumono utiliza um conceito já muito usado em animes e outras mídias parecidas. Acompanhamos Haku, um jovem com amnésia que é salvo por uma garota chamada Kuon. Ele acorda em mundo estranho, repleto de humanos com características de animais, como orelhas e caudas, e vai aos poucos tentando entender o que aconteceu com ele e por qual motivo ele foi parar nesse lugar. A trama começa como uma simples aventura nos moldes básicos, com aliados variados aparecendo, porém, aos poucos a história entra em assuntos políticos do reino de Yamato.


Mask of Deception é, na verdade, a primeira parte da história, que será concluída com Mask of Truth. Por conta disso, a trama acaba em um momento bem emblemático e muitas coisas ficam sem conclusão. A sensação que eu tive é que Mask of Deception é uma introdução ao mundo e os personagens de Utawarerumono, pois boa parte do jogo se concentra em construir a personalidade de Haku e seus aliados. É um começo interessante, entretanto, é meio frustrante ver somente parte do todo.

Trama interessante e repleta de diálogos extensos

Utawarerumono se vende como um misto de visual novel e RPG de estratégia. Sim, há batalhas táticas, todavia, elas são bem escassas. Na história principal existem 16 batalhas e confrontos adicionais são desbloqueados após se terminar a história. Na maior parte do tempo, o jogo é um visual novel puro, ou seja, basicamente lemos muito texto em inglês acompanhado de várias ilustrações estáticas e dublagem em japonês. Ao contrário de outros títulos do gênero, ele é completamente linear, ou seja, não há escolhas a serem feitas e nem finais alternativos — somos forçados a ver até mesmo as cenas fora da trama principal.

Por ser um visual novel, o foco é na trama e personagens. Particularmente, gostei muito dos personagens da aventura, todos eles são bem interessantes e únicos, e as interações entre eles são ótimas. É notável que alguns personagens são mais desenvolvidos do que outros, como Haku e Kuon, porém todos são bem explorados. Há, também, alguns mistérios que me deixaram intrigado o tempo todo. Gostei, especialmente, de cenas paralelas que ajudam a aprofundar o laço dos heróis — muitas delas são bem divertidas e interessantes.


A trama em si é um pouco clichê (um desmemoriado acorda em um mundo estranho), mas prende com seus mistérios e viradas. Contudo, Utawarerumono tem sérios problemas de ritmo: a história demora demais para se desenvolver, principalmente no início, só lá pela metade da trama as coisas ficam um pouco melhores e mais coisas acontecem. Também achei estranho a quebra de alguns momentos: em uma cena, por exemplo, Haku descobre algo no qual ele tem que tomar uma decisão importantíssima; porém, logo em seguida ele sai pra beber com os amigos, como se nada tivesse acontecido.

Para piorar, o jogo te força a ver todas as cenas que não fazem parte da trama principal.  Elas costumam ser bem longas, com personagens explicando várias vezes as mesmas coisas ou então com uma grande quantidade de diálogo para dizer coisas muito simples. Também há um pouco de repetição nos temas e fiquei entediado ao ver Haku apreciando bebidas pela trigésima vez. Entendo que elas ajudam a montar a ambientação e personagens, porém são um bocado cansativas — eu mesmo preferi pular algumas delas. Acredito que seria muito melhor se todas essas cenas fossem completamente opcionais, acessadas por um menu separado. Há, também, a opção de assistir o anime baseado no jogo, que provavelmente foca somente na trama principal.

Um sistema de combate um pouco subutilizado

Em momentos da aventura, aparecem algumas batalhas. Todos os combates utilizam mecânicas simplificadas de RPGs táticos, como Tactics Ogre, Disgaea e Final Fantasy Tactics. Nesses confrontos, controlamos um time de personagens e temos que executar alguma tarefa, como derrotar todos os inimigos ou um chefe. O diferencial de Mask of Deception está no sistema de combo e acerto crítico: ao atacar, é necessário executar comandos em tempo real para aumentar o ataque das técnicas e ativar efeitos adicionais. Também é possível voltar turnos livremente, o que permite corrigir erros. O sistema de batalha conta com algumas outras nuances, como atributos elementais e zonas de influência.


As mecânicas de batalha são boas e a adição de comandos executados em tempo real ajudam a deixar tudo mais dinâmico. No início é tudo bem fácil, porém mais para o final da aventura as coisas ficam bem mais intensas, mas nunca impossíveis. No entanto, não precisei de muita estratégia durante a aventura: simplesmente ataquei de qualquer jeito com meu grupo e consegui sair vitorioso de boa parte das batalhas. Os mapas têm desenhos simples e em boa parte são bem abertos, o que facilita ainda mais os confrontos.

Na dificuldade Hard as coisas ficam um pouco mais interessantes, mas ainda é um pouco fácil. Desafio mesmo só nas missões extras que aparecem depois de terminar a história — logo as primeiras exigem pensar muito bem cada movimento para sair vitorioso. Mesmo com os problemas, achei as batalhas bem divertidas e perfeitas para quebrar um pouco a leitura de grandes blocos de texto.

São poucos combates durante toda a história e eles acontecem de forma bem espaçada entre si. A primeira batalha, por exemplo, só acontece depois de umas duas horas de jogo; a segunda só após cinco horas. Felizmente, a qualquer momento, é possível acessar o modo Free Battle no menu e jogar novamente qualquer missão já completada, o que ajuda a quebrar um pouco o ritmo. No fim das contas, fica bem claro que os combates são uma espécie de extra e que o foco é de fato o aspecto visual novel.

Experiência para poucos

Utawarerumono: Mask of Deception é um visual novel que se destaca por tentar inovar. Nesse aspecto, o título faz um ótimo trabalho com personagens cativantes, boa variedade de situações e uma história interessante (por mais que incompleta). Mesmo assim, o ritmo é irregular, com muitos momentos tediosos e acontecimentos importantes bem distantes uns dos outros. Há algumas batalhas táticas e elas são divertidas, porém, elas são simples e exigem pouco do jogador na maior parte do tempo — o que é uma pena, pois as mecânicas são bem legais. Sendo assim, Utawarerumono: Mask of Deception é recomendado para fãs de visual novels.

Prós

  • Personagens cativantes e bem construídos;
  • História interessante;
  • Sistema de combate elaborado.

Contras

  • História de ritmo irregular;
  • Batalhas podem ser vencidas sem muita estratégia;
  • Mecânicas de estratégia mal aproveitadas.
Utawarerumono: Mask of Deception — PS4/PS Vita — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PS Vita

Revisão: Ana Krishna Peixoto

é brasiliense e gosta de explorar games obscuros e pouco conhecidos. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de boardgames, game music, fotografia e livros. Além de mostrar seus cliques no Flickr, tem também um blog onde escreve sobre inúmeros assuntos e também pode ser encontrado no Twitter.

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