Jogamos

Análise: Muramasa Rebirth traz beleza e muita ação ao PS Vita

Lançado originalmente para o Wii, a adaptação do RPG de ação para o portátil da Sony melhorou vários aspectos do original.


Muramasa: The Demon Blade é considerado um dos melhores jogos de Wii por conta de sua bela direção de arte e jogabilidade rápida e divertida. Todos ficaram surpresos e animados quando a produtora Vanillaware anunciou uma versão melhorada do título para PS Vita. Intitulado Muramasa Rebirth, o novo jogo trouxe novidades como gráficos melhorados, ajustes nos controles e até mesmo histórias extras por DLC. Sua qualidade fez com que fosse considerado rapidamente um dos melhores jogos do portátil da Sony.

O fugitivo e a princesa

A trama de Muramasa Rebirth se passa no Japão, na era Genroku (de 1688 a 1704). Nesta época, a nação era governada por shoguns — generais militares de grande poder e influência. Um comandante chamado Tokugawa Tsunayoshi colocou todo o país em conflito por conta de sua ganância por poder. No centro dessa disputa estão as Demon Blades, espadas amaldiçoadas que, segundo as lendas, só trazem tragédia e destruição.

Dois indivíduos acabam se envolvendo nessa situação por possuírem uma dessas lâminas amaldiçoadas. Kisuke é um ninja fugitivo, acusado de um crime terrível. O problema é que ele perdeu a memória e não entende as motivações de seus perseguidores. Em posse de uma das espadas amaldiçoadas, o ninja vai tentar descobrir seu passado. Já Momohime é uma princesa que, ao ser ferida mortalmente, foi possuída pelo espírito de Jinkuro, um espadachim maligno. A garota fica à mercê dele e não tem outra escolha a não ser colaborar com seus atos sombrios.

Criaturas do folclore japonês como espíritos e demônios estão muito presentes no jogo. Toda a trama gira em torno de seres e fatos sobrenaturais e os dois protagonistas se encontram várias vezes durante a aventura, mesmo que suas histórias sejam independentes.

Cortando tudo

O game para o portátil da Sony pode ser classificado em um jogo de ação com toques de RPG. No controle de Kisuke ou Momohime, o jogador visita localidades japonesas como florestas, montanhas e cavernas. O conceito básico é simples: vá até o local indicado, converse com os personagens e derrote o chefe, sendo que essa estrutura é repetida por toda a aventura. Durante a exploração, é possível encontrar itens e conversar com alguns poucos personagens como mercadores e viajantes. O avanço é bem linear, pois barreiras impedem acessar várias áreas fora do momento correto.

Mas como era de se esperar, viajar pelo Japão não é um simples passeio: pelo caminho aparecem inúmeros inimigos tentando assassinar os protagonistas. Quando oponentes aparecem, Muramasa se torna um jogo de ação. Kisuke e Momohime atacam com espadas e vários movimentos acrobáticos. Os controles são precisos e é muito fácil executar proezas como lançar inimigos no ar e realizar combinações de ataques aéreos. Alguns movimentos como defender e escapar não são muito simples e exigem comandos um pouco mais complicados — a esquiva, por exemplo, é ativada ao segurar o botão de ataque e mover o direcional diagonalmente para a direção que se quer escapar. Felizmente, existe a possibilidade de colocar estas e outras ações em botões separados, é muito mais cômodo e preciso escapar de ataques inimigos ao apertar o botão R, por exemplo.

A dupla pode levar até três espadas para o combate e as lâminas são classificadas em curtas (para ataques rápidos, mas um pouco mais fracos) e longas (de grande alcance e poder, ao custo de golpes lentos). É possível alternar entre as três a qualquer momento, o que permite mudar rapidamente de estratégia durante os combates. Cada arma tem um ataque especial, que consome um pouco da energia da espada para ser executado. Outras ações como defender e repelir ataques também diminuem a barra das lâminas. Abusar de sua resistência é perigoso, pois elas acabam se quebrando. Nesses momentos, basta trocá-la, pois quando uma lâmina está guardada sua energia é recuperada lentamente.

Vencer os confrontos é essencial para se dar bem em Muramasa Rebirth. Além de receber experiência para aumentar de nível, os personagens também recolhem as almas dos oponentes derrotados. Com elas, o espírito do ferreiro Muramasa pode forjar novas armas, cada qual com características e ataques especiais únicos. 108 espadas podem ser construídas, o que torna alto o fator de customização dos personagens — e é necessário terminar o jogo com ambos os personagens para ter acesso a todas elas. Além disso, cavernas de desafio estão espalhadas pela aventura e as histórias têm vários finais.

Explorando um Japão estonteante

É impossível não ficar impressionado com os gráficos de Muramasa Rebirth. Completamente 2D, os cenários e personagens são pintados e desenhados à mão. Tudo é muito bem trabalhado e repleto de detalhes, como personagens se movimentando discretamente no fundo das planícies e as suculentas refeições saboreadas pelos protagonistas. O visual já era muito bom no Wii e ficou ainda melhor no Vita por conta da alta resolução e tela do portátil. O resultado são gráficos vibrantes, coloridos e incríveis.

A produtora Vanillaware teve o mesmo esmero no áudio do título. De autoria do estúdio musical Basiscape, a trilha sonora de Muramasa Rebirth é repleta de ótimas composições que misturam música tradicional japonesa com características contemporâneas. O mais interessante é que a maioria das faixas tem duas versões: durante a exploração o som é tranquilo e calmo, mas quando começa um combate, a composição recebe uma nova camada de instrumentos e se torna energética e contagiante.

Assim como a versão de Wii, os diálogos têm dublagem somente em japonês e legendas em inglês. O texto na edição de Vita foi completamente retrabalhado e expandido, sendo o resultado muito mais fácil de ler e entender.

Repetição enfadonha

Nem toda a beleza de Muramasa Rebirth consegue esconder os dois principais problemas do jogo: a repetição e simplicidade. A aventura se resume em ir de um lugar a outro, enfrentando inimigos no caminho, em uma estrutura bem simplista. Não há muito o que fazer fora das batalhas: são áreas e áreas, em sua maioria planas, que não apresentam nada. E para piorar a situação, tudo é muito distante. Até existe um sistema de atalhos por meio de barcos e liteiras, mas ele tem pouca utilidade por conta de sua quantidade reduzida e destinos que raramente coincidem com os próximos objetivos — ao menos é possível se teletransportar para qualquer área após terminar o jogo. Prepare-se para passar boa parte do jogo somente andando pra lá e pra cá.

A outra questão é a jogabilidade repetitiva. Além da necessidade exagerada de caminhar pelos cenários vazios, os combates podem se tornar cansativos. O motivo é que a variedade de inimigos é pequena e, na maioria das vezes, usar a mesma estratégia funciona em quase todos os casos. Os oponentes até se tornam um pouco mais agressivos na dificuldade Chaos, mas apertar o botão de ataque repetidamente é suficiente em boa parte dos confrontos. Algumas características ajudam a abrandar esses problemas: os confrontos contra os chefes são bem desafiantes, exigindo estratégia e bons reflexos, e várias cavernas contendo desafios opcionais estão espalhadas pelo mundo — por mais que a maioria delas só pode ser acessada após terminar a jornada. Mas, mesmo assim, a aventura pode se tornar cansativa para alguns.

A versão definitiva

Muramasa já era um ótimo jogo no Wii e ficou ainda melhor no Vita. O título conta com jogabilidade divertida, ótima parte técnica e muito conteúdo. Essa versão remasterizada deixou o jogo mais interessante com seus gráficos em alta resolução, opção de customizar os controles e texto retrabalhado. Além disso, histórias extras estão disponíveis por download e contam com personagens de jogabilidade bem distintas. O porém fica por conta da falta do que fazer nos cenários e o combate um pouco repetitivo, o que pode tornar a aventura enfadonha e cansativa para alguns. Por conta de tudo isso, é fácil perceber o motivo de Muramasa Rebirth ser um dos grandes destaques do PS Vita.

Prós

  • Jogabilidade precisa e divertida;
  • Belíssimos gráficos e música;
  • Boa quantidade de conteúdo e desafios;
  • Muitas opções de customização.

Contras

  • O combate pode se tornar repetitivo;
  • Pouca variedade de situações fora das batalhas.
Muramasa Rebirth — PS Vita — Nota: 8.5
Revisão: Catarine Aurora
Capa: Diego Migueis

é brasiliense e gosta de explorar games obscuros e pouco conhecidos. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de boardgames, game music, fotografia e livros. Além de mostrar seus cliques no Flickr, tem também um blog onde escreve sobre inúmeros assuntos e também pode ser encontrado no Twitter.

Comentários

Google
Disqus
Facebook