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Análise: Reverie (PS Vita/PS4) é uma dose cheia de nostalgia

O título da Rainbite mistura clássicos do Super Nintendo e o sentimento de crescer na Nova Zelândia.

A primeira vista, Reverie pode enganar alguns, por acharem que se trata de um título da série Mother da Nintendo. Todo aspecto visual é realmente bastante similar, lembrando principalmente o clássico Earthbound (Mother 2: Gyiyg no Gyakushū) do SNES. Ao se jogar, no entanto, percebe-se que as influências da Big N na era 16-bit não param por aí. As mecânicas de jogo são muito parecidas com as de The Legend of Zelda: A Link to the Past.


Esses elementos, somados ao fato de que a história do jogo se baseia em um mito Maori chamado "Maui e o Peixe Gigante", revelam uma grande dose de pessoalidade na obra, principalmente em relação às memórias de infância. Pois o estúdio independente Rainbite, responsável pelo seu desenvolvimento, é sediado em Auckland, na Nova Zelândia, terra natal dos membros de sua equipe.

Um mito se tornando realidade

Tai, o protagonista, ouve de sua mãe a lenda de que há muito tempo Heke e seus irmãos saíram para o mar com intenção de voltar com o barco cheio de peixes. Entretanto, com o passar das horas, nada fora pescado e todos resolveram descansar, exceto Heke. Este, em uma de suas incansáveis tentativas, acabou fisgando algo e, ao puxar a linha, fez emergir do fundo do mar a ilha de Toromi. Consumidos pela inveja, seus irmãos o atiraram para dentro do oceano. Heke os amaldiçoou. Uma grande onda destruiu seu barco e os lançou para Toromi Island, onde passaram a vagar atrás de comida, mas acabaram morrendo de fome. Até hoje seus espíritos assombram as profundezas dessa terra.


Nosso herói está chegando a Toromi Island para passar suas férias de verão na casa de seus avós na cidade de Harikoa. Ao explorar o local, ele fica sabendo que terremotos que vem ocorrendo na ilha são obra das almas dos irmãos de Heke que estão aprisionadas no interior de determinadas áreas e parte em sua aventura para libertá-las. Infelizmente a história não avança muito mais além disso, há alguns poucos diálogos e acontecimentos que dão prosseguimento aos fatos da trama. Não há um desenvolvimento de personagens e tudo que se segue até o final é bastante previsível.


Os NPCs encontrados durante as andanças em Toromi Island têm carisma e características relativamente marcantes, porém são poucos deles que mostram ter havido algum impacto suas vidas desencadeado pelos problemas com os espíritos. A ilha em si é muito bem caracterizada em cada uma de suas áreas, com diversas referências à Nova Zelândia, seus ambientes naturais, fauna, cultura e esportes. Tudo isso representado visualmente num estilo parecido com o de Earthbound, trazendo um ar nostálgico e muito simpático para a obra.

Explorando dungeons e coletando itens

As mecânicas de jogo são basicamente as mesmas de Zelda. Tai circula pelo mundo do jogo e encontra criaturas, as quais deve derrotar através de golpes de seu taco de cricket, que faz as vezes de espada. Além da arma principal, nosso herói também pode fazer uso itens que, após encontrados, ficam disponíveis em seu inventário, como um ioiô, uma pistola de dardos, uma pá e um óculos de mergulho. Um toque mais moderno dado ao gameplay é a possibilidade rolamento para se esquivar de ataques inimigos.


Cada uma das dungeons é bem caracterizada e com level design interessante. Os puzzles são inteligentes, em geral lembram bastante o tipo de desafio que estamos acostumados, mas alguns trazem um ar de novidade. Nas masmorras, o uso do item encontrado em seu interior é exigido tanto para se conseguir acessar salas e áreas, quanto no combate com seus chefes. Isso é feito tanto de uma forma já batida no caso da dart gun, quanto de jeito criativo no caso de Stephen, a pedra pet.


Há ainda uma side quest que funciona como a busca das heartpieces (embora não tenha uma utilidade prática) que é a procura pelas penas de aves nativas da Nova Zelândia. Tai recebe um livro de sua avó para preencher suas folhas com as penas que coletar em sua aventura. Elas são localizadas em pontos espalhados pelo mapa, dentro e fora de dungeons. É um elemento bem legal, pois incentiva a explorar cada cantinho de Toromi Island e usar a criatividade para encontrar caminhos.

Uma obra charmosa, porém curta

Reverie tem uma apresentação realmente muito boa, o visual é muito bonito, a música e os efeitos sonoros casam muito bem com cada momento. A homenagem feita à terra natal de seus desenvolvedores com diversos elementos de sua natureza e cultura agrada bastante.


Há ainda também uma nostalgia gamer muito bem referenciada. Contudo, o jogo é curto e o enredo não tem a evolução que se espera. O saldo final, no entanto, é positivo e deve agradar àqueles que cresceram jogando os clássicos da Nintendo nos anos 1990.

Prós

- Belo estilo visual inspirado em Earthbound;
- Bom design de dungeons e puzzles;
- Uma verdadeira carta de amor à Nova Zelândia.

Contras

- Enredo pouco explorado;
- Personagens pouco desenvolvidos;
- Um pouco curto demais.

Reverie — PS4/PS Vita — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PS Vita

Revisão: Ana Krishna Peixoto


é formado em Direito pela UFJF. Adora videogames desde que se entende por gente. Gosta de jogos antigos, mas está sempre ligado nos novos games e tecnologias. Pode ser encontrado no Facebook e no Twitter.

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