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Análise: Danganronpa: Trigger Happy Havoc (PS Vita) matou meu tédio

Trancados em uma escola, estudantes são forçados a participar de um jogo de assassinato e investigação onde apenas o vencedor terá o direito de sair do colégio.

Danganronpa: Trigger Happy Havoc é o primeiro título da franquia de Visual Novel que teve início no fim de 2010 e foi lançado para PSP no Japão. Desenvolvido pela Spike Chunsoft e distribuído pela mesma no Japão, o jogo demorou para dar as caras no ocidente, porém, graças à NIS America, nós tivemos oportunidade de adquirir este jogo no começo desse ano para o PS Vita. É provável que você já tenha conhecido a série animada (exibida no Japão nessa mesma época do ano passado) antes do jogo para o portátil da Sony. Se esse é o seu caso, não se preocupe: eu estou no mesmo barco! Apesar de ter conhecido o título original no PSP pouco depois de ter assistido a série animada, esse ano tive oportunidade de jogar a adaptação para o ocidente que já devo adiantar estar excelente.

Duas colheres de sopa de Persona

Recordo-me quando uma amiga me recomendou o anime de Danganronpa. Ela me falou muito bem sobre, a história me interessou bastante, e sua empolgação claramente me contagiou — o que foi um ponto positivo, já que eu tenho um gosto similar ao dela. Em meu primeiro contato com a franquia, pesquisando sobre ela na internet, lembrou-me muito sobre a série Persona. Aquela estética tão colorida e feliz resultando naquele "fashion gritante". Os personagens eram muito únicos e pareciam muito estereotipados também. Pelo visual do rapaz de óculos, já poderia imaginar que ele era rico e inteligente. O garoto com jaqueta aberta e topete dava a imaginar que se tratava de uma gangue ou algo similar.


Foi jogando que encontrei mais pontos que me lembravam Persona. Era uma história de estudante, sombria e eu investia muito tempo desenvolvendo relações com esses estudantes, mesmo que apenas conversando com eles e aprendendo mais sobre cada um.

500ml de Virtue's Last Reward

Ainda nesse ponto, o jogo me lembrou um outro título da mesma desenvolvedora, Virtue’s Last Reward (também disponível no PS Vita). O elenco é igualmente excêntrico e também temos um mascote sádico que se diverte com a desgraça dos personagens. Sobre essas duas franquias, é interessante notar como Danganronpa também trabalha os dias e os períodos, sendo que funcionam com jogabilidades bem diferentes. O jogo tem seis capítulos principais (você pode levar cerca de três horas para concluir cada um) e eles se dividem em Daily Life e Deadly Life.

O primeiro caso é a parte onde você vive uma rotina comum conversando com seus colegas e conhecendo-os melhor. Essas atividades, apesar de parecerem bem triviais, rendem Skill Points para você acessar novas habilidades. Em dado momento, alguém é assassinado e é quando vamos para o segundo modo de jogo, o Deadly Life. Nesse modo você pode explorar a escola em busca de pistas junto de seus colegas, e no momento em que todas forem encontradas é quando vocês partem para o Class Trials (e é aqui onde você usa suas habilidades). O Class Trials, por ser a conclusão de cada capítulo, pode ser visto como um chefe de cada fase. Mas Monokuma (o mascote sádico) não é o chefe, você não se encontrará em um combate contra ele. Esse modo é composto por diversos mini-games, dentre um debate regido por todos os estudantes presos na escola. Neste, você precisa encontrar o culpado pelo assassinato com base nas pistas que juntou. Caso você acerte, o assassino é executado e todos continuam suas vidas. Caso você erre, o assassino pode sair da escola, e todos os outros morrem.

200g de The Hunger Games

Rotina comum, alguém é assassinado, você junta pistas e um tribunal para decidir o culpado. Esse fluxo se repete durante todos os capítulos e, por falar assim, você pode pensar que será um jogo cansativo e repetitivo, mas posso garantir que não será.O primeiro motivo é que os capítulos são longos. Houve um certo ponto da história onde eu não estava certo de que alguém seria assassinado. Demorando cerca de três horas para concluir cada capítulo, você poderá finalizar o jogo perto de vinte horas, mas não é difícil chegar em trinta ou quarenta horas de jogo se você for como eu, que gosta de ler tudo o que encontra e explorar o cenário ao máximo.

Apesar de falarmos sobre o clímax do jogo, Class Trials, não comentei ainda sobre como a situação chegou a esse ponto. Hope's Peek Academy, o colégio onde a história se passa, é uma escola elitista que recolhe os melhores estudantes em algum aspecto para estudarem no local. Por exemplo, temos "Ultimate Fanfic Writer", "Ultimate Baseball Player" e nosso protagonista é o "Ultimate Lucky", pois, diferente dos outros que foram convocados por suas habilidades excepcionais em algum ponto, nosso protagonista foi selecionado por uma espécie de sorteio. Ao chegar na escola, todos percebem que estão trancados e não poderão sair ou sequer ver o sol.

Até esse ponto não temos um grande problema, pois pessoalmente eu não tenho medo de ficar trancado em ambiente algum. O problema começa quando Monokuma, o que é aparentemente um urso de brinquedo, diz que eles precisam matar um estudante e não serem descobertos por seus colegas para conseguirem sair dali. É quando começamos esse ciclo de alguém matar um estudante, investigarmos a situação, e então irmos para um tipo de tribunal debater quem é o culpado. Como já foi dito: se você acertar, ele será condenado e o ciclo se repete, pois ninguém conseguiu cumprir o propósito de matar alguém sem ser descoberto. Se você errar, o assassino conseguiu vencer e ele sairá do colégio, mas todos os outros que falharam em identificá-lo, morrerão.

Uma xícara e meia de Ace Attorney

Após as descrições acima, deve ter ficado bem claro que o ápice do jogo é o final de cada capítulo, o Class Trials. Esse é o momento onde você vê o resultado de tudo o que você adquiriu durante a parte Daily Life e a investigação na primeira parte do Deadly Life. Não apenas atirar suas Truth Bullets em depoimentos contraditórios, mas também contamos com mini-games simples que remetem aos arcades dos anos 1980 ou populares jogos rítmicos que temos atualmente. Diferente das aventuras de nosso querido Phoenix Wright, em Danganronpa temos um tribunal mais realista. Ace Attorney é muito enraizado na cultura oriental (apesar da adaptação ocidental tentar ocultar isso em seus diálogos), enquanto Danganronpa respira uma cultura mais familiar para nós ocidentais. Então, por exemplo, não teremos uma raposa de nove caudas como culpada por algum dos assassinatos.

Ainda assim, a ideia de que alguém apresenta um argumento e você pode invalidar com uma contrarresposta me lembra muito os "Objection!" de Ace Attorney. Mas, claro, com muita música techno. E muito sangue rosa, um urso sádico em vez de um juiz bobão e um estudante sem noção alguma no lugar de um advogado lendário.
A NIS America já confirmou o lançamento da sequência do jogo para o fim desse trimestre no ocidente. Jogar esse primeiro título não é obrigatório, mas ajudará a entender melhor a ambientação da história. Também, se você gostou do anime no ano passado, esse é um título que recomendo com vigor. Caso não, ainda é um jogo que recomendo para quem jogou e gostou de Virtue's Last Reward.

Prós


  •  Trilha sonora excelente, do tipo que você procura para ouvir depois de jogar;
  •  Visual consegue mesclar bem entre arte 2D e 3D sem parecer tão forçado;
  •  Explorando cada canto e aproveitando os Extras, o jogo pode te envolver por duas ou três semanas.

Contras


  •  Não tem um multiplayer, mas seria muito divertido jogar com amigos;
  •  Apesar de linear, pode não ser muito intuitivo para quem nunca jogou Visual Novels;
  •  O port (dito como remake) para PS Vita não muda tanta coisa sobre a versão de PSP.

Danganronpa: Trigger Happy Havoc — PS Vita — Nota: 9.0

Revisão: Jaime Ninice 
Capa: Vitor Nascimento

Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

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