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Análise: Mass Effect 3 (PS3)

Grandes RPGs tomam tempo para serem feitos e jogados. Você sempre tem uma infinidade de personagens, side quests, itens… E a série Mass Eff... (por Unknown em 29/04/2012, via PlayStation Blast)

O jogo do século? Grandes RPGs tomam tempo para serem feitos e jogados. Você sempre tem uma infinidade de personagens, side quests, itens… E a série Mass Effect sempre foi sinônimo de imersão, ao fornecer a possibilidade de criar seu próprio protagonista e guiá-lo através de suas próprias decisões. Após cinco semanas escrevendo a respeito dele e mergulhando em cada detalhe possível no Blast Log, finalmente posso escrever a análise de Mass Effect 3. Será que ele é o jogo da década?

A trilogia

Mass Effect nasceu no Xbox 360 no ano de 2007. Após a Bioware produzir Star Wars: Knights of the Old Republic, a desenvolvedora logo se lançou numa empreitada maior: uma trilogia sci fi própria. Desnecessário dizer que eles se saíram excepcionalmente bem.

Mass Effect 1: capaz de te fazer arrancar os cabelos.

O primeiro jogo era um caos em termos de jogabilidade, mas um marco tecnológico tratando-se de identificação de escolhas do jogador. A promessa da Bioware era que os jogadores poderiam importar seus personagens e decisões nos dois próximos jogos. Ninguém acreditou muito. Mas eles cumpriram.

Mass Effect 2 foi aclamado pela crítica, e chegou ao PS3 no início de 2011. Com o status de “uma das melhores franquias de games da história”, a Bioware estava com a faca e o queijo na mão e logo anunciou Mass Effect 3, que recebeu a adição do multiplayer cooperativo e, talvez devido ao enorme hype, ganhou também uma série de controvérsias.

Os Reapers… estão aqui

Tudo em Mass Effect gira em torno de uma ameaça muito antiga. Os Reapers, uma raça de enormes máquinas dotadas de inteligência, destroem a vida orgânica na galáxia de tempos em tempos, dando tempo para novas raças se desenvolverem apenas para repetir o ciclo.

Shepard, o (ou a) protagonista, já impediu essa invasão duas vezes. Uma delas custou um sistema solar inteiro, incluindo um planeta povoado por membros de uma raça alienígena. Quando Mass Effect 3 se inicia, Shepard está numa instalação militar, sob custódia por ter cometido esse crime, ainda que justificado. E é aí que os Reapers atacam a Terra.

Todo o jogo tem um clima sombrio. A morte está sempre próxima, rondando Shepard e todos os outros. Planetas são tomados, cidades são destruídas. A Terra está sendo devastada enquanto você anda pela galáxia captando recursos e ajudando outras raças para ver se elas nos ajudam também. A capacidade do jogo de te jogar no ambiente proposto é excelente.

Além disso, é delicioso jogar e reencontrar os antigos amigos e ver o resultado das nossas escolhas. Pode não parecer a princípio, mas há diversos momentos chaves em que cada escolha feita impacta de forma diferente, como se fosse uma equação, com resultados bastante diversos.

O lado ruim? Um jogador novo na série não vai sentir o mesmo peso. Esse novo jogador não vai conseguir se “inserir” no universo da mesma forma de alguém que jogou os anteriores. Ele vai poder aproveitar cada instante da aventura, mas não vai ser a mesma coisa. Claro, é o final de uma trilogia, mas se a intenção da Bioware e da EA era tornar o jogo acessível para novatos, eles falharam gravemente.

O Shepard padrão: chato. Entediante. Faça o seu.Mas isso realmente não importa. Ver as peças se encaixando, os personagens lutando por suas vidas, os dramas pessoais de cada um… é disso que Mass Effect se trata, e a emoção é o ponto forte. Nenhuma outra franquia é capaz de fazer isso, pois nenhuma leva em conta suas decisões dessa forma. Que outras desenvolvedoras aprendam e copiem isso. Nesse caso, a cópia é bem vinda.

Ação x RPG

O primeiro Mass Effect era um jogo desajeitado, mas competente na parte de RPG. O segundo já era bem mais agradável na parte de ação, enquanto os elementos de RPG tinham sido bastante reduzidos. O equilíbrio foi a solução para Mass Effect 3.

A parte de ação foi melhorada ao extremo, com novos comandos e um sistema de cover absurdamente melhor. Os inimigos também estão muito mais desafiadores, principalmente porque a inteligência foi bem trabalhada. Eles agora utilizam granadas para te arrancar de trás das proteções, e trabalham em grupo para fortalecer as defesas.

Por outro lado, o fator RPG também voltou, com maior possibilidade de edição dos atributos dos personagens e muito mais armas para se escolher. O jogo continua não tendo o looting (itens deixados por inimigos) e eliminou completamente os minigames de hacking e os trechos de direção de veículos.

Cerberus: nem todos os humanos estão do seu lado nessa guerra.

Resultado: Mass Effect 3 é delicioso de se jogar. Ok, ele tem bugs que chegam a ser engraçados, como personagens surgindo e desaparecendo de animações, inimigos flutuando, luzes vindas do além… isso além dos bugs mais “quebradores de jogo”, que felizmente já foram corrigidos, mas me custaram umas três ou quatro reinicializações do PS3. Ah sim, por diversas vezes, enquanto você estiver passando por pontos específicos, o jogo parece travar por instantes, para carregar a área seguinte. Isso sem falar no framerate, que cai bastante em mais de uma situação.

Galáxia em Guerra

O modo multiplayer de Mass Effect 3 foi motivo para diversas controvérsias, e tenho certeza que todos esses chatos pagaram por tudo que disseram. Assim como o modo single player, o modo cooperativo, apelidado de Galaxy at War, é uma maravilha.

Bem balanceado, o jogo incentiva o trabalho em grupo. É de fato necessário sempre contar com os colegas de equipe para completar os objetivos, eliminar os inimigos e proteger uns aos outros. A exemplo do single player, cada classe tem suas fraquezas e forças, e a adição de poder jogar com raças alienígenas é ótima. Os Krogan, com a força bruta, são especialmente divertidos, mas o multiplayer adiciona como um todo um fator de longevidade para o jogo.

Não sou um fã de multiplayer. Eu de fato costumo fugir de títulos que exigem esse tipo de coisa, mas Mass Effect 3 me mostrou que é possível fazer um modo cooperativo divertido e que incentiva bons jogadores a interagirem entre si. Não que eu seja um deles. Apenas gosto de trabalhar em grupo.

E o Oscar vai para…

Não é exagero: Mass Effect 3 poderia ganhar um Oscar de Melhor Trilha Sonora Original. Os trabalhos de Clint Mansell (famoso pelas trilhas dos filmes Requiem Para Um Sonho e Cisne Negro) são especialmente bons, mas existem faixas excelentes espalhadas pelo jogo, sempre fortalecendo o impacto emocional de cada cena. Isso tudo é ampliado pela dublagem incrível. Todos os atores são ótimos, desde os mais conhecidos até os que são mais “exclusivos” do mundo dos videogames.

Além disso, os gráficos receberam diversas melhorias, especialmente nas texturas. Armaduras agora possuem um brilho metálico, plástico parece de fato plástico, as peles dos alienígenas estão mais vivas… apenas nos próprios humanos é que tudo continua meio estranho, mas nada que seja feio. O que é feio mesmo é o exagero no físico do Shepard caso seja do sexo masculino. Chega a parecer o protagonista de Gears of War, Marcus Fenix, que é uma massa de músculos. Meus Shepards, em particular, não são o tipo de pessoa que iriam se exercitar até ficarem tão fortes.

Onde Mass Effect 3 perderia prêmios? Provavelmente no roteiro. Todo mundo acompanhou o drama ao redor do final do jogo. Não era só o final de um jogo, mas o final de uma trilogia em que muita gente investiu 5 anos, tomando decisões e moldando um universo. E ele é, de fato, deprimente e insatisfatório. A Bioware já está trabalhando nisso, e irá lançar um DLC chamado Extended Cut, para melhorar a sensação de fechamento e esclarecer os diversos furos. Mas não seria justo levar em conta esse DLC para analisar o jogo. Como o jogo foi lançado, seu final é um problema grave.

Ah, como esquecer dos elementos 2D nos cenários? Pássaros voando, pessoas correndo no fundo… tudo isso são modelos 2D bem porcamente feitos.

Journal, todos te odeiam. Outro ponto extremamente frustrante é o Journal. É nele que você acompanha o progresso das missões. Antes, ele mostrava em detalhes onde ficava o próximo passo. Agora é um caos: você recebe uma sidequest andando pela Citadel, sem maiores detalhes, e tem que ir na sorte, ou adivinhando o que precisa fazer. É possível perder sidequests razoavelmente importantes por causa disso. Essa é, sem dúvidas, a maior falha de Mass Effect 3.

Conclusões

Eu sou um grande fã da série Mass Effect. Joguei cada jogo (corri para comprar o primeiro no Steam, já que ele não está e nunca estará disponível para PS3), conheço cada personagem, sistema solar e detalhe da rica história. Minha ansiedade pelo terceiro jogo foi amplamente recompensada no decorrer da jogatina, apesar dos bugs notórios. Foi só ao chegar no final que eu quase pensei que tivesse jogado esse tempo todo fora. Digo quase porque acredito que um final mal trabalhado não é capaz de anular toda a minha diversão no decorrer dos jogos, e a evolução tecnológica trazida pela Bioware através deles.

Mass Effect 3 poderia ser o melhor jogo de todos os tempos. Poderia ser o jogo da década. Mas ele é apenas um dos melhores que já joguei, o que já é um enorme mérito.

Prós

  • História envolvente e que cumpre a promessa de levar em conta as decisões tomadas, ainda que não seja no final.
  • Gráficos incríveis, ainda que contenham elementos mal feitos.
  • Trilha sonora e dublagem incomparáveis.
  • Jogabilidade deliciosa, cheia de adições interessantes e um equilíbrio entre RPG e ação.

Contras

  • Numerosos bugs gráficos e outros que são capazes de travar completamente seu console, que por sorte já foram corrigidos.
  • Novos jogadores vão ficar perdidos nos elementos da história.
  • O final do jogo parece deslocado do resto, contradizendo pontos importantes da história e provocando uma sensação horrível em qualquer um.
  • Sistema de acompanhamento de missões (Journal) não indica de forma precisa o que deve ser feito.

Mass Effect 3 – PlayStation 3 – Nota final: 9,5
Gráficos: 9,0 | Som: 10,0 | Jogabilidade: 9,5 | Diversão: 9,0

Revisão: Rafael Becker


Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

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