Jogamos

Análise: Enslaved: Odyssey to the West (PS3)

Mensalmente o mercado dos games é invadido por vários lançamentos, desde os jogos derivados de franquias bem sucedidas a games de menor ex... (por Jeferson dos Santos em 25/11/2012, via PlayStation Blast)

Mensalmente o mercado dos games é invadido por vários lançamentos, desde os jogos derivados de franquias bem sucedidas a games de menor expressão. Infelizmente, não há como apreciar tudo o que chega às prateleiras das lojas e temos que escolher uns e abrir mão de outros. Nesse dilema, nem sempre os que ficam para trás retornam a nossa lista de prioridade, pois no mês seguinte há mais lançamentos e isso gera um ciclo vicioso atingindo bons jogos, que por sua vez acabam caindo no esquecimento e assim passam pelo mercado despercebidos, mesmo tendo tanto a oferecer. Esse foi o caso de Enslaved: Odyssey to the West.

Um jogo muito bem inspirado

Jornada para o Oeste foi escrita no século XVI em plena Dinastia Ming por Wu Cheng’em. A obra do escritor compõe os Quatro Grandes Romances Clássicos da literatura chinesa – sendo os outros Três Reinos, Foras da Lei do Pântano e Sonho da Câmara Vermelha. De lá para cá Jornada para o Oeste vem sendo referenciada não só como parte de uma cultura local, mas também como parte da cultura pop mundial, pois foi adaptada para diversas mídias desde sua publicação. No ocidente as obras mais conhecidas que foram inspiradas na fábula são O Reino Proibido – filme estrelado por Jackie Chan e Jet Li – e a franquia Dragon Ball de Akira Toriyama.

A obra de Wu Cheng’em, basicamente, descreve as aventuras de um monge chamado Xuan Zang e seus três discípulos: Sun Wukong (o rei macaco), Zhu Bajie (o porco) e Sha Wujing  (o ogro). O grupo parte da China tendo como objetivo chegar à Índia, pois lá precisam resgatar certos pergaminhos e escrituras sagradas para o budismo. Durante o longo e traiçoeiro caminho para o Oeste diversos desafios testam o quarteto intimamente, onde cada provação tende a intimar o ponto fraco e os defeitos de cada um dos viajantes, e tudo ocorre num momento que eles também estão numa busca por elevação espiritual. No total, os protagonistas devem superar 81 tribulações que afrontam a fé e a força de vontade de cada um do grupo e assim garantir o sucesso da missão.
Tendo em vista a oportunidade de levar a um público especifico esse clássico da literatura mundial, a mídia mais rentável da atualidade não deixaria de adaptar tal épico para os videogames. E esta não é a primeira vez nessa geração de consoles que tivemos a satisfação de prestigiar bons games baseados em obras da Sexta Arte. Num passado ainda recente foram lançados títulos como Dante’s Inferno, The Bourne Conspiracy e The Witcher 2: Assassins of Kings.

Uma jornada para o oeste

Lançado em 2010, Enslaved: Odyssey to the West foi desenvolvido pela Ninja Theory, que também é responsável por jogos como Kung Fu Chaos, Heavenly Sword e pelo ainda não lançado – e polêmico – DMC: Devil May Cry.  Essa moderna versão de Jornada para o Oeste foi roteirizada por Alex Garland (Extermínio e Sunshine – Alerta Solar) e ambientada há 200 anos no futuro, nos EUA. O rei macaco agora se chama Monkey, um grandalhão solitário com muitas de habilidades de combate, já o monge agora é Trip, uma bela garota muito perspicaz na arte de hackear sistemas.


Monkey e Trip se conhecem a bordo de uma nave que carrega escravos humanos, o veículo está avariado e sobrevoa a cidade de Nova Iorque que está devastada por conta de um apocalipse robótico e consumida pela fauna colorida e vibrante. Antes da queda da nave escravagista, a dupla se salva em um módulo de emergência. No solo, Monkey acorda com Trip mexendo num arco em sua cabeça, o adereço é utilizado pelos androides para submeter os humanos as suas decisões por meio da dor e Trip o programa para que Monkey obedeça a suas vontades, pois sabe que não sobreviverá sozinha num local tão hostil. A garota quer voltar para seu lar, que fica a oeste de onde estão e Monkey sem muita saída concorda em ajudá-la em troca de sua liberdade.

Uma dupla equilibrada

Juntos eles formam uma improvável, mas bem equilibrada parceria, onde o jogador controla ambos os protagonistas no decorrer da jornada. Monkey fica a cargo do uso da força física, das peripécias acrobáticas e dos combates diretos e indiretos com seu bastão retrátil – que não é mágico, mas que assim como o de Goku, muda de tamanho conforme sua vontade e necessidade.


Por sua vez, Trip deve ser sempre mantida em segurança, mesmo que o progresso da partida dependa diretamente de suas habilidades. A garota sub-controlada segue as instruções de Monkey que são ordenadas pelo jogador, com isso ela corre, se esconde, invade sistemas, abre portas e por vezes é uma ótima isca para distrair os inimigos – nesse caso o inverso também acontece, onde Monkey se evidencia para que a garota passe por um local sem ser percebida.

Jogabilidade prática, mas não evolutiva

Apesar da jogabilidade leve e funcional, o protagonista possui um sistema de evolução pobre, pois quase nada é acrescentado ao combate no decorrer do jogo, mas isso não impede o jogador de usar táticas e de mesclar os golpes com os disparos de plasma feitos pelo bastão de Monkey e de até mesmo agir de maneira furtiva e evasiva para superar determinados desafios, apoiando-se – nessas ocasiões – em seu único meio de transporte, uma plataforma de energia flutuante chamada cloud (nuvem em inglês).

Limitado pela trama e com gosto de quero mais

Apesar de ter sua trama livremente inspirada em Jornada para o Oeste, o game da Ninja Theory possui um universo rico que pede para ser explorado, mas é limitado pela história, que mesmo intrigante não evita o jogador de querer ir além da linearidade que o contém, pois tudo em Enslaved o convida.

No entanto, a única frustração real no game acaba sendo o fato de o jogador vivenciar a jornada de dois protagonistas podendo controlar diretamente apenas um, Monkey. Seria muito interessante ter um ponto de vista diferente da mesma aventura ou até mesmo ter a possibilidade de jogar a campanha de forma cooperativa, com cada jogador assumindo um personagem.

Trabalho cinematográfico

Enslaved: Odyssey to the West é uma bela aventura em terceira pessoa, com um trabalho gráfico muito bem produzido, rico em detalhes. Muitas vezes o jogador se pegará parado, admirando os cenários pós-apocalípticos que sugerem o tempo todo o que pode ter acontecido ali. Os personagens são bem desenvolvidos psicologicamente e isso é refinado pelo trabalho de MOCAP (Captura de Movimentos), que traz expressões físicas e faciais impressionantes que são conferidas nas cenas de cortes muito bem animadas.


Andy Serkis, o ator que serviu como base para a captura de movimentos de Gollum (Senhor dos Anéis), King Kong, Caesar (Planeta dos macacos: A Origem) e Capitão Haddock (As Aventuras de Tintin) também teve suas performances mapeadas em Enslaved ao interpretar e dublar Monkey. É inevitável se impressionar com a naturalidade da relação entre os personagens. No decorrer da aventura o jogador vai se sentindo cada vez mais próximo das motivações de Monkey, Trip e Pigsey − personagem que é incluído posteriormente na história e que equivale ao personagem Zhu Bajie, o porco, do romance original.


Mesmo oprimido, merece ser jogado

Enslaved: Odyssey to the West é um game que nos envolve mais pelo drama dos personagens e pela qualidade técnica do que pela aventura propriamente dita, mesmo por mais que ela seja bem estruturada e motivadora. No jogo, tudo funciona muito bem e em harmonia. Gráficos, jogabilidade, efeitos sonoros e dublagem são ótimos, entretanto isso tudo não foi o bastante para convencer o público perante tantos blockbusters que chegaram ao mercado na mesma época de seu lançamento, tais como Call of Duty: Black Ops, Castlevania: Lords of Shadow, Dead Rising 2, Gran Turismo 5 e Star Wars:  The Force Unleashed 2.

Prós

  • Artisticamente completo
  • Emocionalmente envolvente
  • História bem inspirada e intrigante

Contra

  • Merecia modo cooperativo na campanha
  • Sistema de evolução das habilidades é pobre
Enslaved: Odyssey to the West – Playstation 3 – Nota: 8.5
Visual: 9.0 | Som: 8.0 | Jogabilidade: 8.0 | Diversão: 9.0
Revisão: Samuel Coelho

Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

Comentários

Google
Disqus
Facebook