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Análise: Bulletstorm (PS3)

Desde a geração passada de consoles que os jogos em primeira pessoa – especificamente – buscam por realismo cinematográfico em... (por Jeferson dos Santos em 22/12/2012, via PlayStation Blast)

Desde a geração passada de consoles que os jogos em primeira pessoa – especificamente – buscam por realismo cinematográfico em suas abordagens. Isso é facilmente percebido em games recorrentes como Call of Duty e Battlefield.  E mesmo em jogos com propostas fantasiosas, como Unreal, Doom e o recente Dishonored, é palpável ao menos a naturalidade necessária para que tudo neles seja real dentro de sua própria condição existencial, sem exageros que arruínem a sensação de imersão do jogador. Porém, Bulletstorm veio contrariando isso.

Evoluindo até o marasmo

Hoje é quase comum vermos games com gráficos super-realistas, dublagens competentes, física bem desenvolvida simulando o real e o natural, personalidades definidas com motivações que reforçam a existência dos personagens a fim de estreitar a ligação entre eles e os jogadores. Claro que essa evolução veio de um processo gradativo limitado pela tecnologia da época em que os games foram desenvolvidos e lançados.

E marcando passo com esse enriquecimento de recursos técnicos, os jogos em primeira pessoa aos poucos foram deixando de lado os famigerados caçadores, alienígenas e demônios do final da década de 1990 e evidenciando cada vez mais em seus enredos terroristas, mercenários e equipes táticas de respostas imediatas em conflitos modernos cheios de firulas.

Ser diferente faz bem, mas e a trama?

A fórmula funciona e a prova disso são os milhões arrecadados a cada lançamento de blockbusters em FPS. Naturalmente, ir contra esse fluxo pode ser arriscado, contudo Bulletstorm se sai muito bem em praticamente tudo o que sugere ao gamer, deixando de lado o que já é certo e voltando ao básico dos jogos em primeira pessoa, garantindo o que de fato importa nos videogames: diversão.

Desenvolvido pela People Can Fly em parceria com a Epic Games, Bulletstorm foi distribuído pela Eletronic Arts no inicio do ano de 2011. O jogo traz uma trama deveras simples, sem a menor preocupação em convencer quem está o jogando. O protagonista do game é Grayson Hunt, um pirata espacial preso num planeta hostil, Stygia, com seu ex-amigo, Ichi, que agora é um ciborgue e Trishka, uma garota impaciente e explosiva. O trio tem que arranjar uma maneira de escapar do planeta e para isso precisam abrir caminho na base da “bicuda” e do tiro, pois há muitos inimigos que tentarão impedi-los.

Ichi, Trishka e Grayson, os protagonistas de Bulletstorm.
Mesmo com uma trama que está ali apenas como “muleta” – cheia de furos e clichês – para justificar toda a carnificina, o jogo possui diálogos divertidos cheios de humor negro e palavrões que são conferidos ao longo do gameplay e das muitas cutscenes. Infelizmente, nessas cenas de corte que intercalam o jogo é que somos lembrados do quão banal é a história contada ao longo da jogatina, evidenciando sem vergonha alguma o ponto fraco de Bulletstorm.

História para quê? O que importa e a diversão!

Mas, se por um lado o enredo é “manjado”, por outro o game prende o jogador com seu “às na manga”: o arsenal. O gamer tem a sua disposição um chicote de energia acoplado a uma luva que é capaz de puxar inimigos e objetos distantes para perto, um chute potente que lança objetos e inimigos para longe e armas mirabolantes que vão desde um rifle de precisão onde a bala pode ser direcionada depois do disparo até um dinossauro mecânico que lança raios laser.

Para ter-se uma idéia, com essas armas pode ser feito o seguinte: puxar o inimigo distante com chicote, no percurso de vinda do mesmo, fuzilá-lo, depois o chutá-lo em direção a uma cerca elétrica (ou em qualquer outro elemento do cenário, só pra ver o que acontece) ou atirar na cabeça com a sniper. Não existe regra e nem limite – enquanto o oponente estiver vivo –, criatividade é sinônimo de estilo em Bulletstorm o que garante situações inusitadas e reações como “Não imaginava que dava para fazer isso!” e quanto mais criativo for, maiores pontuações são conquistadas.



Interessante é perceber que mesmo com inúmeras formas de executar os inimigos a jogabilidade é simples e eficiente, não exigindo prática ou tutorias maçantes. E o mais legal é que já nas primeiras horas de jogo o conceito de diversão em games já é posto em “xeque”, pois o jogo da Epic Games e da People Can Fly é acessível e criativo de forma funcional.

Equipe de “responsa”, mas a beleza acaba onde os bugs começam

Na bagagem a polonesa People Can Fly tem Painkiller enquanto a Epic Games traz o incontestável Gears Of War e ambas desenvolveram o game com a Unreal Engine, o que confere ao jogo gráficos competentes – para a época. Cliff Bleszinski, idealizador de Gears Of War,se envolveu diretamente na produção do jogo, talvez daí a semelhança no design dos personagens de Bulletstorm com os do Gears Of War.Mas de forma geral, o título é bem colorido, sendo o oposto de Gears, trazendo identidade visual própria que salta os olhos.

Contudo, mesmo com um visual inspirado e com uma equipe competente por de trás de Bulletstorm, o jogo carrega algumas bizarrices. A exemplo, o chicote energético que atravessa qualquer coisa que esteja dentro do perímetro de visão do jogador. Isso seria legal se não fosse pelo fato de puxar algo ou alguém que não pode ser visto e por vezes fazê-lo atravessar determinada barreira por conta dos bugs presentes no game.

Tais problemas de programação também afetam o chute, ou seja, não é raro acionar a “bicuda” diante de um inimigo e ele nem sentir que foi chutado. A soma dessas problemáticas pode gerar forte incomodo em situações em que há muitos inimigos na tela e nem tudo a disposição do jogador funciona como deveria, gerando mortes indevidas, que mesmo não sendo constantes geram frustrações.

Multiplayer sem deathmatch, como assim?

Se tratando de jogos em primeira pessoa, em especial os FPS, os modos multiplayers são muito importantes para dar longevidade aos games, mas até nessa questão game vai à contramão do que já está estabelecido, pois não traz o essencial, o deathmatch. Isso sim é muito ruim, pois as opções existentes são divertidas, mas não prendem por muito tempo – ou simplesmente não prendem – dependendo do que o jogador espera.


Bulletstorm também herdou de Gears of War semelhanças no modo multiplayer. O game não oferta partidas competitivas – como já mencionado –, apenas cooperativismo para quatro players, muito parecido com “Horde” de Gears of War. Aqui o modo chama-se “Anarchy”, onde os jogadores enfrentam inimigos cada vez mais fortes e disputam entre si pela melhor pontuação.

Outra modalidade que tenta dar sobrevida ao games é “Echoes Mode”, onde o gamer refaz o caminho das fases da campanha principal que são divididas em pequenos setores e que para avançar é necessário obter uma quantidade específica de pontos que são lançados num ranking mundial.

Prós

  • Jogabilidade acessível
  • Belos gráficos
  • Diversão de verdade

Contra

  • História fraca
  • Bugs que comprometem a experiência
  • Multiplayer limitado
Bulletstorm – PlayStation 3 – Nota: 8.5
Visual: 8.0 | Som: 8.0 | Jogabilidade: 9.0 | Diversão:9.0
Revisão: Ramon OIiveira de Souza




Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

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