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Análise: Hitman: Absolution (PS3)

Matar é uma arte, e o Agente 47 é um artista muito hábil, embora estivesse há anos de férias. A IO Interactive, junto com a Square Enix, t... (por Unknown em 04/12/2012, via PlayStation Blast)

Matar é uma arte, e o Agente 47 é um artista muito hábil, embora estivesse há anos de férias. A IO Interactive, junto com a Square Enix, trouxeram de volta o assassino mais criativo dos videogames e, de quebra, fizeram a série Hitman chegar definitivamente à geração atual com Hitman: Absolution, um jogo que, embora não seja perfeito, traz todos os elementos necessários para satisfazer fãs da franquia e jogadores menos acostumados, igualmente. Confira tudo sobre as mais novas formas de matar e veja se esse é o jogo que você estava esperando para gastar suas economias de fim de ano com a nossa Análise!

Sandbox é um termo em inglês que quer dizer "caixa de areia". Se você pensou em banheiro de gato, errou. A caixa de areia aqui é no sentido de playground, um local pré-definido em que você pode brincar e fazer o que quiser. A proposta de Hitman é essa: criar diversos locais pré-definidos em que o jogador pode agir da forma que bem entender, desde que complete os objetivos colocados.

Diana é encontrada por 47 em uma saia justa... digo...
Os objetivos, no caso, são assassinatos. O Agente 47, durante toda a franquia, foi empregado da Agência, e matou desde alvos militares até um homem que estava no programa de proteção às testemunhas do FBI. Dessa vez, no entanto, a história é bem mais pessoal. Incumbido de assassinar sua ex-supervisora, Diana Burnwood, que aparentemente voltou-se contra a Agência, ele logo descobre que as coisas não são assim tão simples, e precisa resgatar uma garota chamada Victoria, que foi criada para ser uma nova assassina; uma "Hitgirl", se preferir.

A história é um tanto clichê, mas funciona bem, e é a primeira vez que vemos 47 sendo um ser humano. Ele realmente se preocupa e acaba se afeiçoando à Victoria, embora demonstre isso de uma maneira mais discreta, sendo fiel ao personagem. Em boa parte das missões, os alvos não são apenas designados por alguém, mas pessoas que merecem, e é gratificante eliminá-los. Ao contrário dos jogos anteriores, a história não é só uma desculpa para os assassinatos, embora ela se dobre nesse sentido em diversos momentos. Digo apenas o seguinte: praticamente todos os personagens que aparecem em algum momento tornam-se alvos de 47.

Matar nunca foi e nunca será tão divertido

A graça da série Hitman sempre foi tentar descobrir maneiras de eliminar os alvos. E o jogo sempre oferece muitas possibilidades: envenenamento, estrangulamento, simplesmente parar na frente da pessoa e atirar, forjar "acidentes"... tudo isso contando com objetos no ambiente, disfarces e tudo o mais.


Pouca coisa mudou em Absolution. Os ambientes trazem sempre várias maneiras de completar os objetivos, seja infiltrar-se em algum lugar ou matar determinada pessoa, e ao mesmo tempo coloca obstáculos específicos para equilibrar a dificuldade. O que mudou é que agora 47 conta com seu Instinto, que funciona como o Detective Mode em Batman: Arkham Asylum e Arkham City e a Eagle Vision de Assassin's Creed. Ativar isso mostra onde os inimigos próximos estão, para onde eles estão indo e também dá dicas, mostrando onde estão elementos propícios para completar as missões, sejam esses elementos disfarces, objetos para causar acidentes ou objetos que concedam acesso a outros locais. Isso facilita um pouco as coisas, mas jogadores que estão acostumados com os jogos anteriores podem escolher uma das dificuldades maiores e livrar-se dessas dicas.

Outra coisa que mudou muito foi o sistema de disfarces. Não basta vestir a roupa de um personagem do cenário e ficar praticamente invisível; agora qualquer personagem que está com a mesma roupa consegue ver "através" do disfarce, e para evitar isso é preciso gastar a barra de Instinto. Isso adiciona um tanto de estratégia e força o jogador a planejar melhor seu caminho, além de favorecer o lado stealth. Claro que nem tudo é perfeito. O sistema não é nem um pouco realista, já que alguns grupos não deveriam suspeitar de alguém que não conhecem. Um exemplo: policiais de uma cidade não deveriam ser capazes de reconhecer todos os seus colegas. De qualquer maneira, foi um jeito inteligente de não facilitar demais as coisas, o que era uma preocupação geral em relação a Absolution. Em praticamente todas as missões existe um "disfarce perfeito", um personagem único naquele cenário que permite acesso a maior parte das áreas; mas conseguir esse tal disfarce é sempre um verdadeiro desafio.

Pobres policiais de Chicago...
Uma mudança interessante é que agora os pontos de cada missão são mostrados em tempo real. Matar um civil custa muitos pontos, enquanto pacificar um inimigo sem ser visto e esconder o corpo não afeta a pontuação. O jogo também traz desafios, relacionados a formas específicas de eliminar os alvos e/ou infiltrar-se em locais. Isso estende ainda mais a vida útil de um jogo que já é naturalmente longo e que pede múltiplas jogatinas.

A jogabilidade é fluida, fácil de aprender e traz uma sensação de recompensa, além de uma tensão constante. O interessante é que, embora 47 seja um assassino hábil, são raros os momentos em que eu me senti como um super-herói. Sempre que eu conseguia passar desapercebido, eu me sentia habilidoso, e não simplesmente sortudo ou poderoso, o que difere o título de jogos como Deus Ex: Human Revolution, que também é stealth, mas me passava uma sensação de ser um "bad ass" o tempo todo, eliminando os inimigos discretamente. Hitman faz você se sentir tenso, às vezes até sobrepujado pelos seus inimigos, e justamente por isso traz uma sensação muito maior de recompensa quando você consegue um disfarce perfeito ou quando consegue eliminar aquele alvo de uma maneira discreta e genial.
Matar com estilo é para poucos.

Contratos

Para ampliar ainda mais a vida útil do jogo, a IO Interactive implementou o modo Contracts. Nele, os jogadores podem criar desafios para outros jogadores, marcando alvos específicos e exigindo formas diferentes de matá-los. Basta jogar o estágio, marcar os alvos e matá-los (provando assim que é possível), estabelecendo exigências para quem for tentar jogar esse estágio personalizado.

A ideia é excelente e foi bem executada. Alguns contratos criados por jogadores são tão desafiadores que levam mais tempo que o estágio normal para terminar. É possível curtir, "descurtir" e usar os Contratos para desafiar seus amigos na PSN, comparando a pontuação final de cada um. É uma forma divertida de incluir elementos online no jogo sem perder a alma de Hitman e sem cair na mesmice do multiplayer.

Killgram

A parceria com a Square Enix beneficiou Hitman: Absolution através da melhoria gráfica. As cutscenes em computação gráfica são lindas, bem animadas e a captura de movimentos é quase tão boa quanto em L.A. Noire, o que é surpreendente. O jogo tem um visual muito característico, com as cores um tanto "distorcidas", que lembra muito os filtros vintage do aplicativo Instagram. Embora seja um pouco estranho a princípio, esse filtro dá uma unidade visual ao jogo e no final acaba sendo agradável, já que foge daquela imagem granulada e também da imagem "lavada", sem nenhum tipo de tratamento que alguns jogos recebem atualmente.

"Hum... o Instagram ainda não tem filtro ensanguentado."
Para completar, o jogo tem uma dublagem inspirada, com excelentes atuações e, embora o texto seja às vezes um tanto infame e ofensivo (principalmente pelas piadas machistas/homofóbicas/racistas), é eficaz para passar emoções e para fortalecer ideias dentro do universo de Hitman. Os sons em si são muito bons, e o jogo tem um sistema de acústica muito interessante: num bar lotado, a música e as vozes são muito altas. Basta entrar no banheiro e o som já fica mais abafado. Falando em lugares lotados, Absolution tem verdadeiras multidões que ajudam 47 a se camuflar, e a maior parte desses NPCs "aleatórios" têm comportamentos bem realistas, falas próprias e tudo o mais. Um trabalho minucioso.

Conclusões

A verdade é que, embora seja muito divertido, Hitman não é para qualquer um. Jogadores afoitos, que não gostam de jogos com um ritmo lento e voltados para o stealth vão se irritar muito com o jogo. Quem gosta de partir pro tiro ou pra porrada também vai se frustrar, ainda que o jogo tenha evoluído muito nesse sentido. A melhor abordagem é sempre a mais discreta, enquanto a pior é a do combate direto.

O nível de dificuldade também deve afastar pessoas, incluindo fãs. Não é possível salvar a qualquer momento, tendo que depender de checkpoints, e morrer no final de um estágio é particularmente frustrante. O fato do jogo ser mais segmentado que os outros da série (quase todas as missões englobam dois ou três estágios) facilita um pouco esse sentido, mas mesmo isso foi alvo de críticas de fãs mais saudosistas.

Mas aqueles que apreciam um bom jogo stealth, que incentiva a criatividade e premia o jogador simplesmente por se divertir em um ambiente bem trabalhado irão aproveitar cada momento jogando Hitman: Absolution.

Prós

  • Fiel às origens, o jogo mantém os elementos que tornaram Hitman uma franquia bem sucedida, e adiciona outros que aprofundam a experiência;
  • Boa história, texto e dublagem;
  • Visual diferente e bem característico;
  • Jogabilidade fluida, divertida e que incentiva a criatividade;
  • Desafiador na medida certa.

Contras

  • Piadas desagradáveis e ofensivas permeiam o jogo;
  • Não é qualquer jogador que vai apreciar o estilo fortemente stealth do jogo;
  • O sistema de disfarces poderia ser um pouco mais complexo.
Hitman: Absolution - PlayStation 3 - Nota final: 9.5
Visual: 10 | Som: 9.0 | Jogabilidade: 9.5 | Diversão: 10
Revisão: Rafael Becker 

Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

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