Jogamos

Análise: The Cave (PSN/PS3)

Produzido pela Double Fine Productions ( Psychonauts e Brütal Legend ), The Cave foi criado pelo aclamado desenvolvedor Ron Gilbert ( Mo... (por Alberto Canen em 02/02/2013, via PlayStation Blast)

Produzido pela Double Fine Productions (Psychonauts e Brütal Legend), The Cave foi criado pelo aclamado desenvolvedor Ron Gilbert (Monkey Island e Maniac Mansion). O jogo, que mistura os gêneros plataforma e aventura, conta a trajetória de sete personagens distintos que devem explorar uma caverna misteriosa com o intuito de realizar seus desejos mais íntimos. Contudo, nada é tão simples como possa parecer e eles terão muitos puzzles para resolver antes de conseguir o que pretendem. Tudo isso imerso em muito humor, característico das obras de Ron Gilbert.

As inspirações de Gilbert para criar The Cave foram, principalmente, Maniac Mansion - ao utilizar o esquema de escolher um time de três personagens dentre sete possíveis, para controlar durante a jogatina - e o game indie Limbo, no tocante à parte de plataforma do jogo, em especial quanto aos seus elementos 2D - ainda que o cenário seja apresentado com gráficos 3D.

Os sete personagens do jogo são de diferentes épocas, cada um com um poder especial e com um desejo diferente para adentrar a Caverna, que supostamente deve garantir esse desejo, mas não sem providenciar uma boa dose de resolução de problemas. Apenas três deles podem ser escolhidos por vez para a incursão dentro da Caverna. Dessa forma, para resolver o jogo por completo é necessário jogar pelo menos três vezes, na medida que cada personagem possui uma área própria que pode ser acessada apenas por ele.

Apenas três personagens podem ser escolhidos por aventura
O problema dessa fórmula é que, em cada nova aventura, existem três partes que são comuns a todos os personagens e há as partes exclusivas de cada personagem. Por isso, já na segunda incursão, mesmo com três heróis diferentes, a parte comum torna-se repetitiva, já que um puzzle depois de resolvido perde completamente a sua razão de ser. A terceira e última aventura acaba por ter muito pouco de novidade para se ver - apenas do último personagem que ficou faltando - e muitas áreas repetidas.

Apesar desse problema de repetição dos puzzles, não dá para negar que o humor apresentado por Ron Gilbert em The Cave é algo que vale a pena ser visto mais de uma vez. Além do mais, é bem mais rápido passar pela áreas repetidas na segunda vez. Mesmo assim, pode incomodar alguns jogadores.

Da Mansão para a Caverna

O esquema de times de três personagens que devem ser escolhidos dentre sete foi inspirado em Maniac Mansion. Contudo, em The Cave essa fórmula foi melhorada, pois possuía algumas falhas. Agora, os personagens são bem balanceados, o que não acontecia em Maniac Mansion, no qual alguns eram muito fracos, como Jeff. A outra mudança está no fato de anteriormente ser possível acessar todas as áreas da Mansão com qualquer escolha de time, o que não é possível agora, já que existem áreas exclusivas, que só podem ser acessadas por um determinado personagem, como o caipira (Hillbilly), que tem a capacidade de segurar o fôlego por muito tempo e pode passar por uma área subaquática para alcançar uma outra localidade da Caverna.

O caipira consegue alcançar áreas nadando que são inacessíveis para os demais
Outra novidade nos jogos de aventura incluída por Gilbert foi a ausência de um inventário. Cada personagem pode levar apenas um objeto em mãos, que pode ser encontrado pelo cenário, não existindo uma necessidade de guardar itens em uma bolsa para usá-los posteriormente. Dessa forma, mesmo os iniciantes no gênero de aventura não terão dificuldades de jogar, pois o formato dos puzzles está voltado para eles, e não para fórmulas mais complexas, o que acaba deixando a jogatina mais dinâmica.

Como dito anteriormente, The Cave é uma mistura dos gêneros aventura e plataforma. Se o jogo brilha em relação à resolução dos puzzles, o mesmo não pode ser dito em relação à parte que temos que andar pelo cenário de forma ágil, principalmente quando precisamos subir e descer por escadas ou por cordas. É um processo tão lento que chega a chatear quando sabemos que precisamos passar por uma mesma parte novamente e ela tem alguns desses obstáculos.

Cada escada dessa é uma eternidade para subir/descer
Apesar disso, a utilização do estilo plataforma realmente é um bom recurso. Segundo Ron Gilbert, o estilo plataforma ajuda os jogadores a resolverem os puzzles nos quais estão com mais dificuldade, pois o simples ato de correr, pular e escalar em cordas utiliza uma parte do cérebro enquanto a outra parte fica com mais liberdade para resolver os problemas. É a ideia de dar uma volta para pensar melhor sobre um assunto.

Os puzzles apresentados pelo jogo não são tão complexos a ponto de fazer o jogador ficar estagnado por muito tempo, mas também não são tão óbvios que simplesmente passemos por eles sem pensar muito. O pessoal da Double Fine encontrou o ponto exato para divertir sem comprometer a jogatina. Algo interessante está no fato de muitos puzzles só poderem ser resolvidos com a colaboração dos três personagens, que devem ser colocados estrategicamente para a resolução de um único problema, bastando apertar no D-Pad para alternar entre eles.

Não dá para passar pelo dragão sem ajuda
The Cave conta ainda com a possibilidade de jogar localmente de forma cooperativa com até três jogadores. Entretanto, Gilbert preferiu não acrescentar uma opção de tela dividida, pois, para ele, isso faria que um jogador fizesse algo bem diferente do outro, principalmente se um for mais habilidoso. A ideia de Ron é a de manter as pessoas unidas, garantindo que eles realmente estejam engajados em cooperar. A verdade é que não há como negar que a tela dividida permitiria terminar o jogo muito mais rápido e, considerando que muitos puzzles exigem cooperação dos três personagens, não dá para afirmar que seria uma ideia ruim. Seria até mais natural. Quem sabe no próximo jogo de Gilbert exista essa opção, além de um modo cooperativo online, que ficou faltando.

Parceria que deu certo

É interessante notar que The Cave tem um ar de jogo independente, e isso graças a participação da SEGA como editora do jogo, pois ela se preocupou apenas em distribuí-lo e não exigiram que o time de desenvolvedores fizesse qualquer tipo de alteração. Muitas distribuidoras não tem o menor respeito pelo processo criativo dos desenvolvedores e exigem alterações que acabam por tirar a personalidade do mesmo. Por isso, a empresa criadora do Sonic está de parabéns.

Com toda essa liberdade, Ron Gilbert e a Double Fine puderam se concentrar apenas na criação do game. Uma decisão acertada foi o visual com estilo cartunesco, que combina perfeitamente com o clima de humor criado por Gilbert. Por outro lado, com a intenção de fazer um jogo mais ágil, com menos distrações, como intermináveis cutscenes, acabou polindo demais o game. Realmente, quando as cutscenes são muito demoradas, impedindo que o jogador prossiga no jogo, acaba sendo algo prejudicial, mas disponibilizar apenas algumas pinturas para contar a história dos personagens - que os motivaram a ir até a Caverna - é um pouco de exagero. Melhor seria ter uma breve cutscene com a opção de pulá-la para assistir depois, em um local acessível no menu principal. Juntando isso com o fato de os personagens não falarem, acaba por não criar uma verdadeira empatia do jogador para com eles. Caso bem diferente da própria Caverna, que atua como narradora do jogo e tem comentários pontuais e muito engraçados, sem exageros.

Pintura do Cavaleiro
Por sinal, em um primeiro momento, Gilbert afirmara que havia colocado a Caverna com muitas falas, dando dicas o várias vezes durante a jogatina, mas que os jogadores que testaram o game previamente ficaram bem incomodados com o fato de estarem pensando nas soluções para os puzzles com a Caverna falando o tempo todo. Dessa forma, os desenvolvedores resolveram diminuir a atuação da Caverna, que agora fala apenas em pontos importantes, para manter o jogador focado, e não para dar dicas. Decisão bem acertada, pois a Caverna é o melhor personagem do jogo, com humor na medida certa.

O primeiro de muitos

Depois de muitos anos, finalmente pudemos nos deleitar com um jogo com a assinatura de Ron Gilbert, famoso pela excelente série Monkey Island. The Cave mostrou-se um jogo muito divertido, que demonstra a personalidade carismática do desenvolvedor. A parceria com a SEGA, que permitiu que Gilbert e a Double Fine tivessem toda a liberdade para criar o game provaram ser uma aliança de sucesso. Esperemos que não haja um novo hiato prolongado até o próximo jogo desse excelente criador de games e que esse seja apenas o primeiro de uma grande sequência.

Ron Gilbert e os sete aventureiros: que venham mais jogos

Prós

  • Visual cartunesco;
  • Puzzles com dificuldade na medida certa;
  • Muito humor, característico das obras de Ron Gilbert;
  • A Caverna, que tem muita personalidade.

Contras

  • Necessidade de repetir os puzzles para terminar o jogo por completo;
  • A parte de plataforma deixou a desejar, sendo lento subir escadas e cordas.
  • Apenas pinturas para contar as histórias dos personagens, faltando mais extras nesse sentido, como cutscenes;
  • Ausência de um modo cooperativo online.
The Cave - PSN/PS3 - Nota: 8.0
Revisão: Leonardo Nazareth

é formado em Direito pela UFRN. Joga videogame desde os tempos do Atari e sempre acompanha as novidades na indústria de jogos. Está no Facebook e no Twitter.

Comentários

Google
Disqus
Facebook