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Análise: CounterSpy (PS3) revive a Guerra Fria em toda sua loucura

O destino da Lua (e da Terra!) está em suas mãos neste criativo jogo de espionagem.

A Guerra Fria foi um dos períodos mais emblemáticos da história recente. Muitos de seus eventos, como a Crise dos Mísseis Cubanos e a Corrida Espacial, acabaram influenciando livros, filmes e até jogos, principalmente de espionagem — um dos mais notáveis é Metal Gear Solid 3: Snake Eater (PS2).


CounterSpy (PS3) usa a época como ambientação, também dando enfoque à espionagem. Mas, em vez de se basear nos eventos mais conhecidos, o jogo toma como inspiração fatos inusitados (e malucos) do período. Sua maior fonte é o Projeto A119, plano ultrassecreto verídico dos EUA de detonar um míssil nuclear… na Lua.

Na história do jogo, o mundo está dividido entre duas potências: os Estados Imperialistas, no ocidente, e a República Socialista, no oriente. Elas estão numa disputa para ver qual será a primeira nação a explodir o satélite natural da Terra. Em sua paranoia mútua de tentar superar o rival, ambas ignoram os efeitos catastróficos do projeto. Sem a Lua, a vida terrestre seria aniquilada. Resta à organização C.O.U.N.T.E.R. intervir e impedir a aniquilação da humanidade.

Espiões proibidos a partir deste ponto

Controlando o protagonista identificado tão somente como Espião, o jogador deve invadir as bases secretas das potências e roubar documentos com os projetos, planos de voo, códigos e locais de lançamento dos mísseis. Antes de iniciar a missão, o agente pode escolher qual das duas nações deseja invadir, com informações de quantos documentos secretos encontrará durante a incursão. Na operação também podem ser coletados esquemas de armas, fórmulas secretas e dossiês de figuras importantes — recursos que podem ser usados nas missões seguintes. Cada investida é diferente da outra, com os níveis e salas sendo gerados aleatoriamente.

Sigilo absoluto é requerido durante as operações. Este é, afinal, um jogo de stealth. Mas, diferente de outros games do gênero, que punem o jogador caso ele seja descoberto, o importante aqui é não deixar testemunhas.

A jogabilidade mistura elementos de plataforma 2D com tiro em terceira pessoa. Os movimentos do espião são limitados a um plano bidimensional, sendo necessário mover-se com cautela para não ser avistado por inimigos e eliminá-los silenciosamente. Entretanto, há pontos de cobertura no decorrer dos níveis. Uma vez neles, o ângulo da câmera muda, ficando sobre o ombro do protagonista. Nesta visão, é possível mirar livremente com sua arma e tomar uma atitude mais agressiva. Desde que todos os soldados sejam eliminados rapidamente, antes que possam alertar seus superiores, não há problemas em trocar alguns tiros.

Há a sua disposição uma variedade de armas, permitindo várias estratégias, mais ou menos ofensivas. Elas se dividem em basicamente em três categorias: armas comuns, eficientes para matar oponentes, mas fazem bastante barulho e alertam os soldados por perto; armas silenciosas, fracas, exigindo um tiro certeiro na cabeça para lidar com o inimigo; e dardos químicos, que têm variados efeitos, de colocar soldados para dormir a fazê-los atacarem uns aos outros.

Estratégias ofensivas acabam sendo privilegiadas pela forma como os níveis são gerados. Os inimigos podem se mover em todas as direções, muitos deles ficando no fundo do cenário. Em alguns casos, passar por eles sem ser avistado é quase impossível. Além disso, o cenário conta com vários explosivos, muito bem localizados para gerar o máximo de dano. Estratégias mais furtivas só acabam sendo consideradas seriamente perto do fim do jogo, quando o número e força absurda dos inimigos tornam os tiroteios em situações mortais.

Você está sendo monitorado

Caso um soldado consiga usar o rádio para contatar o comando ou o espião saia da sala deixando alguma testemunha para trás, o nível de alerta da base aumentará. Ele é medido pelo Nível DEFCON, que começa em 5, podendo chegar até a 1 antes que a base entre em alerta vermelho e inicie a contagem regressiva para lançar o míssil. A única forma de conter o lançamento é chegando até o fim da fase, deixando de lado qualquer item ou documento no meio do caminho.

O Nível DEFCON é independente em cada nação e constante. Por exemplo, se você terminou uma missão nos Estados Imperialistas com estado de alerta 2, sua próxima operação no país continuará com Nível DEFCON 2. Só existem duas maneiras de aumentá-lo: rendendo oficiais (soldados brancos) após matar todos os outros inimigos na sala ou usando uma fórmula especial no início da missão.

Em cada missão você também ganha um Rival — outro jogador com pontuação maior que a sua. Superá-lo lhe dará a oportunidade de encontrar seu corpo na missão seguinte, recompensando-o com uma grande soma em dinheiro. É um multiplayer assimétrico e não invasivo, que motiva o jogador a ser mais furtivo para conseguir pontuações melhores.

Alerta vermelho!

Apesar de divertido, CounterSpy tem seus problemas. O maior deles é seu tamanho. É possível terminar o jogo em cerca de três horas sem muitos problemas. Um sistema de rankings e outros níveis de dificuldade aumentam o fator replay, mas ele é prejudicado por outro aspecto: a geração procedural de níveis.

Em tese, níveis aleatórios aumentam a longevidade de um game. Infelizmente, o algoritmo usado aqui acaba criando várias salas idênticas no decorrer da campanha. Além disso, ele afeta o balanceamento, tornando algumas missões extremamente fáceis, com pouquíssimos inimigos, enquanto outras ficam bem estressantes, com oponentes em todos os cantos.

Mas o problema mais irritante são os constantes loadings e quedas de FPS. Os carregamentos ocorrem no início de cada missão e podem durar até dois minutos. Há outros problemas técnicos também, como falhas ao salvar o progresso. Em uma ocasião, o jogo chegou a travar completamente durante minha experiência.

Missão completada

O jogo pode não ser tão longo quanto a Guerra Fria, mas o trabalho estético faz jus à época. O visual é fantástico, lembrando em muito as introduções animadas dos filmes de James Bond, mas com uma abordagem mais cômica dos clichês de espionagem. Há várias piadinhas nos cenários, com cartazes dizendo “Espiões Não Permitidos” e “Guias Para Identificação do Inimigo” espalhados por todos os lados.

Também é possível encontrar esse humor na narrativa. Entre as missões, há diálogos entre o Espião e a agência C.O.U.N.T.E.R. A atitude insana e irreverente que eles lidam com o iminente fim do mundo certamente arrancará algumas risadinhas. O melhor: não é preciso saber inglês para aproveitar o conteúdo. O jogo é todo traduzido para o português brasileiro, com excelente trabalho de localização.

Prós

  • Ótimo visual, muito coerente com o tema;
  • Bom senso de humor;
  • Jogabilidade interessante e divertida;
  • Multiplayer assimétrico criativo e bem implementado.

Contras

  • Campanha pequena;
  • Muitos loadings e quedas de FPS;
  • Apesar dos níveis serem gerados proceduralmente, tornam-se repetitivos rapidamente.

CounterSpy — PS3 — Nota: 7.0

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Diego Migueis

é analista de sistemas web por profissão, gamer por vocação. Tem grande interesse em game e level design, o que o levou a escrever para o PlayStation Blast. Em seu Facebook e Twitter também fala de outras coisas, como HQs, música e literatura.

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