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Análise - God of War 3 Remasterizado (PS4): muito sangue em alta resolução

Lançado cinco anos atrás para o PlayStation 3, a última aventura da trilogia de Kratos chega com visual e som melhorados na nova geração.


Quando falamos dos jogos de PlayStation, uma das primeiras imagens que vem na mente de muitos jogadores é a de Kratos. Isso não ocorre à toa, já que os três principais jogos da franquia God of War são considerados como clássicos pela Sony, tendo grandes números de venda e críticas extremamente positivas.


Finalizando a história do deus da guerra, God of War 3 trouxe o tão famoso método de combate utilizado nos dois primeiros jogos para o PlayStation 3 em 2010, contando com novos gráficos e controles muito mais intuitivos e precisos. Apesar de ser totalmente baseado nos antigos jogos “hack’n slash” (em que o personagem anda em progressão lateral e realiza combos para atacar inimigos), o que tornou o jogo um grande diferencial foram os diversos elementos de outros gêneros presentes em sua jogabilidade.
Todas as imagens utilizadas neste texto foram tiradas diretamente do PlayStation 4, enquanto jogávamos. Os detalhes são impressionantes!

Cinco anos depois, com o lançamento do PlayStation 4, vemos o retorno de Kratos em uma remasterização inesperada, enquanto a maioria dos jogadores ainda espera por um jogo feito exclusivamente para o console. Contando com texturas atualizadas, 60 quadros por segundo e imagem em 1080p, ele é um dos grandes nomes da Sony para o mês de julho, fazendo com que muitos questionem o investimento.

Com duração em torno de 15 horas, passamos os últimos dias jogando God of War 3: Remasterizado (PS4), e por mais que ainda gostemos muito do jogo, fizemos alguns questionamentos.

Confira, abaixo, alguns minutos do jogo enquanto a nossa equipe tentava vencer de Poseidon, logo no início:

A busca pela vingança

Ao pausar e tirar fotos do jogo, é possível ver diversas expressões de Kratos, que recebeu tratamento especial para a nova geração.

A história de God of War 3 é uma continuação direta da anterior. Para alguém que acompanhou a saga de Kratos, isso não é um problema, mas os que tiverem a primeira experiência com a franquia em um PlayStation 4 sentirão-se perdidos em diversos momentos. Há diversas menções a inimigos e personagens mortos sem qualquer explicação, transformando a necessidade de vingança do “herói” em uma repetição constante de gritos e ameaças exageradas. A escolha da Sony em lançar apenas este jogo remasterizado é estranha.

Caso haja um entendimento sobre o que ocorre anteriormente à abertura do jogo, God of War 3 oferece uma aventura com foco na jogabilidade. A maior parte da narrativa coloca o personagem em situações de “batalhas por conta de sua atitude vingativa”, com pequenas reviravoltas e surpresas, que ocorrem em grande parte nas últimas horas do jogo. A aparição da maioria dos inimigos é feita com pouca profundidade, deixando a sensação de estarem lá apenas para oferecer barreiras durante a jornada. Mas isso não chega a incomodar perante o incrível sistema de batalha e melhorias.
As batalhas contra os chefes pedem por uma atenção maior do jogador, que precisa encontrar brechas para atacar.

O maior erro dos que não jogam God of War (ou fazem isso no nível mais fácil) é o de achar que o jogo não oferece desafios, bastando apertar o mesmo botão repetidamente até terminar a fase. Após um curto e belo tutorial, é fácil de perceber que aprender a defender nos momentos corretos renderá menos telas de game over e ataques mais poderosos: é na arte de estudar os movimentos do inimigo que se encontra a beleza do jogo.

Todas as melhorias de armas são feitas em um menu principal, e só podem ocorrer ao gastar pontos vermelhos coletados pelos caminhos. Além de aumentar suas forças, novas combinações de botões são desbloqueadas, trazendo novas possibilidades de atacar e vencer oponentes. Há também especiais liberados ao pressionar o botão R2, que destroem grandes quantidades de inimigos e gastam pontos de magia, encontrados em baús.
Vários itens são ganhos durante o jogo, auxiliando em diversos momentos e solucionando enigmas. E é assim que Kratos enxerga no escuro: utilizando uma cabeça.

Outros grandes momentos do jogo ocorrem em pausas das frenéticas batalhas. Diversos quebra-cabeças e enigmas estão espalhados em momentos específicos e integrados à história, envolvendo empurrar caixas, escalar paredes e se pendurar em ganchos para pegar impulso. É difícil que possamos julgar suas dificuldades, tendo em vista que ainda conseguimos lembrar suas soluções (afinal, jogamos a primeira versão há cinco anos, apenas), mas mesmo assim tivemos grandes momentos de diversão ao resolvê-los.
As batalhas contra chefes e monstros maiores costumam ser resolvidas com elementos de Quick Time Events, em que é preciso pressionar os botões indicados na tela nos momentos exatos. Apesar de muitos não gostarem, a maneira como tudo é feito e as cenas de ação resultantes são tão conectadas ao universo que conseguem melhorar a experiência.
Infelizmente, há alguns problemas. Muitas batalhas tornam-se repetitivas, cansando o jogador que já se sente pronto para seguir adiante, além de não trazerem grande desafio para quem já derrotou o mesmo monstro anteriormente. Ao mesmo tempo, alguns quebra-cabeças parecem forçados: em um dos únicos momentos do jogo que podemos carregar outro personagem conosco, diversas localizações ficam acessíveis apenas com a sua ajuda. Nesses momentos lembramo-nos que estamos sentados em um sofá, quebrando a diegese e tornando óbvia a falta de recursos para integrar história e jogabilidade.
Dividir inimigos ao meio ou empurrá-los contra paredes se torna cansativo após realizados em sequência.

Como estamos falando de um jogo de PlayStation 4, é impossível que não critiquemos a falta de controle da câmera. Vivemos em uma geração em que queremos ter o controle de tudo (vide mundos enormes e exploráveis como o de The Witcher 3, para os atuais consoles), e é extremamente irritante que tenhamos que apertar os olhos para ver Kratos quando o cenário é enorme. Mesmo que isso consiga trazer a dimensão do universo do jogo, seria muito mais interessante se pudéssemos optar por um controle manual e conseguir ver os objetos que estão escondidos em um canto até então escondido.

Nem tudo é antigo

As asas de Kratos ajudam-no a planar, trazendo alguns dos momentos mais belos do jogo.

É importante lembrar que God of War 3 sofreu uma remasterização no PlayStation 4. Portanto, não há grandes novidades que mudem o conteúdo apresentado na versão anterior, apenas melhorias no que já existia. A ideologia da Sony é a de trazer títulos que não conseguiram atingir o seu potencial máximo na geração passada para os que não puderam jogá-los na época ou querem relembrar sua experiência sem decepções.

Uma coisa é fato: o jogo parece ter sido feito para um console melhor que o PlayStation 3. Jogar com as imagens rodando em 60 quadros por segundo traz uma fluidez absurda, deixando os movimentos muito mais agradáveis e velozes. A alta definição também tornou mais fácil a visualização de coisas que estão à distância, o que é muito importante em momentos de batalhas sobre enormes plataformas e criaturas.
As texturas de alguns inimigos chegam a ser tão ruins que nos lembram a geração do PlayStation 2.

As melhorias nas texturas poderiam ter sido feitas com mais cuidado. Enquanto Kratos e alguns outros personagens estão muito mais detalhados, outros trazem o mesmo visual do PlayStation 3 e deixam claro o fato de não pertencerem a essa geração. Assim como em Final Fantasy Type-0 HD (PS4/XBO), isso causa uma enorme estranheza ao jogador que se sente preso em um jogo existente entre gerações e acaba com a suspensão da descrença. Não há como deixarmos de sentir que o conteúdo final poderia ser melhor se remasterizado com mais tempo e cuidado.

Uma grande e ótima inclusão é a do modo fotografia. Presente em grande parte dos jogos atuais, ela permite parar o jogo em qualquer momento para ajustar a câmera, colocar filtros e embelezar ainda mais a imagem. Ao pressionar o botão “share” no controle, o resultado final é salvo como uma foto e pode ser compartilhado em qualquer lugar. Infelizmente, esse recurso sofre com o mesmo mal do restante do jogo: não há como mudar a posição da câmera. Com isso, o jogador é limitado a aproximar a imagem caso queira criar novas composições.
O modo fotografia possibilita acrescentar quadros, filtros e modificar o brilho da imagem.

Por fim, a sensação de jogar em um console da nova geração é muito melhor e acrescenta muito à experiência. Os controles são muito mais confortáveis e intuitivos (apesar de ser muito fácil entrar no modo fotografia por acidente). Aos que não tinham a opção de comprar fones de ouvido sem fio para o PlayStation 3, é gratificante colocar um com fio no Dualshock 4 e ouvir a fantástica trilha sonora.

A vingança nunca é plena…

Batalhas contra personagens icônicos, como Hércules, estão presentes. 

Quando recebemos o anúncio da remasterização de God of War 3, tivemos uma reação parecida com a da maior parte dos jogadores que pudemos conversar: por que fazer isso com algo tão recente? Encontramos a resposta após terminar o jogo.

Para que pudéssemos comparar, assim que terminamos a saga de Kratos, colocamos o mesmo jogo no PlayStation 3 e tentamos jogar. A sensação foi muito estranha. Foi como se estivéssemos jogando em um computador, e diminuíssemos todas as configurações para o mínimo: tudo estava lá, mas de um jeito muito pior. Era mais difícil controlar o personagem, e os 30 quadros por segundo nos pareciam estar em câmera lenta. Tudo parecia errado, faltando elementos que tornassem o jogo tão belo.
Um dos momentos mais clássicos da saga de Kratos. Quem não jogou precisa jogar!

O maior problema, obviamente, é o preço. 150 reais não tornam o produto atrativo, sendo que ele pode ser encontrado por preços infinitamente menores em sua versão original. Obviamente também, a Sony sofrerá questionamentos e críticas severas enquanto lançar conteúdos antigos por preços maiores, enquanto seus concorrentes oferecem a retrocompatibilidade. Com isso, esta é uma remasterização que passará longe dos consoles de muita gente, o que é uma pena por se tratar de um clássico da empresa que merece ser jogado por todos em sua capacidade máxima.

Prós

  • Sistema de batalha divertido e intuitivo;
  • 60 quadros por segundo deixam tudo mais rápido e fluido;
  • Modo fotografia, para captar os melhores momentos;
  • Muitas texturas refeitas, deixando tudo mais bonito;
  • Legendas em português, com pouquíssimos erros.

Contras

  • Momentos repetitivos;
  • História e jogabilidade com falhas entre si;
  • Algumas texturas e pequenos bugs foram mantidos da versão original;
  • Nenhum controle da câmera;
  • Preço abusivo por um título antigo.
God of War 3: Remasterizado — PS4 — Nota: 8.5
Revisão: Luigi Santana
Capa: Jean Bohlen

se aventura nas terras de redação de games, livros e roteiros de fantasia. Extremamente apaixonado por universos imaginários, descobriu nos videogames o lugar perfeito para viver — o que resultou no crescimento de sua barba. Pode ser encontrado em seu Facebook, quando não estiver jogando.

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