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Análise: Disgaea 5: Alliance of Vengeance (PS4) — grinding e exagero

O quinto jogo da série Disgaea traz muitas batalhas, piadas e um mundo gigantesco.

Dê 10 trilhões de dano”. Essa frase com um valor astronômico é a descrição de um dos troféus de Disgaea 5: Alliance of Vengeance e, de certa forma, consegue resumir um pouco do espírito do jogo. A série sempre foi superlativa, e nesta quinta entrada as coisas estão ainda mais absurdas, no bom sentido. A fórmula segue o mesmo padrão que acompanha a franquia desde Disgaea: Hour of Darkness (PS2/DS): os mesmos tipos de personagens demoníacos, o mesmo enredo bem-humorado, a mesma dublagem exagerada e a batalha tática cheia de mecânicas e sistemas. E do enredo às várias novidades, Alliance of Vengeance deixa tudo ainda maior.

A guerra dos bilhões de netherworlds

No universo da série, existem os netherworlds, que são mundos habitados por demônios. Cada um desses mundos tem seu chefe, o Overlord. Disgaea 5 conta a história da guerra de dominação dos vários netherworlds. Em tal ocasião, o temido overlord Dark Void começou a dominar e controlar bilhões de mundos demônicos. Todo local que seu exército (Lost Army) chega, é controlado ou destruído, e seus habitante ou obedecem ou morrem.
O começo de cada capítulo conta o que os historiadores analisavam sobre esses eventos que participamos no jogo.
O jogo começa em meio a essa grande guerra, quando Killia conhece a Overlord do mundo Gorgeous, Seraphina. Assim como ela, o jovem guerreiro quer se vingar de Dark Void. A partir daí eles vão viajando por vários netherworlds, conhecendo outros overlords com sede de vingança até que a aliança rebelde é formada, com o objetivo de resistir e vencer o Lost Army e o temido Dark Void. O interessante é que todo mundo tem um poder meio exagerado: dois personagens do grupo já tiveram o poder para destruir um planeta inteiro e o antagonista Dark Void foi o único a vencer tantos demônios e a dominar tantos mundos. Do ponto de vista da história, a dimensão dos confrontos é gigantesca.

Em termos de progressão narrativa, Disgaea 5 não traz muitas novidades ao gênero, e nem mesmo à própria série. A grande maioria dos personagens tem uma forte veia cômica, assim como o tom geral do enredo. Muitos destes personagens repetem tipos que já vimos ao longo da franquia, mas essa falta de novidade não quer dizer que as piadas não funcionam, e nem que não se trata de um cast simpático. A dublagem é, como sempre, exagerada. É possível que ela seja ruim, mas como eu sempre considerei que esse exagero é proposital, cumpre de maneira coerente seu papel e consegue divertir. O game traz várias palhaçadas e piadas, além de um certo humor pastelão. Novamente, isso pode até soar como uma crítica negativa, mas não é, tudo isso faz parte da proposta do jogo e é bem executado.


O enredo se desenvolve em conversas pela base da aliança, e sobretudo em cenas e diálogos que acontecem antes e após as batalhas. Não é tarefa fácil conseguir manter uma boa progressão da narrativa em um jogo tão grande, em horas e conteúdo. Mas dado o caráter leve e bem-humorado, Alliance of Vengeance consegue instigar a continuar a história e missões principais, mesmo com a liberdade de realizar inúmeras atividades paralelas.

Aqui se conta level nos milhares

Disgaea sempre teve um sistema de batalha tático refinado. E está tudo aqui: as barras de bônus, os combos, os ataques em conjunto, os efeitos do cenário, os geo-panels, as habilidades e proficiências em várias armas, e, claro, diferentes tipos de inimigos que vão do LV 1 ao 9999. A novidade no campo de batalha é a possibilidade de cada personagem entrar em modo Revenge.


Nesse modo, seu personagem ganha melhorias, como acertar ataques críticos, por exemplo. E, para os personagens que são overlords, também é possível usar o ataque overload, que é único para cada um (uns são de ataque, outros de cura, ou até mesmo de suporte). O legal é que os inimigos também podem entrar neste modo, ficando mais fortes e, no caso de serem overlords, também usarem o especial. Ao vencer um inimigo que está em modo vingança, ganhamos um item que aumenta atributos permanentemente, dando mais bônus de status conforme mais poderoso é o inimigo.

Isso cria, no mínimo, uma corrida contra o relógio para vencer logo o inimigo e ganhar o bônus, e, nos melhores momentos, um momento de tensão e escolha: tento vencer este inimigo que está aprimorado agora e corro o risco de morrer? Também é interessante que a barra se enche cada vez que seus companheiros são agredidos ou morrem, fazendo sentido com a ideia de vingança que guia o enredo. Falando em aspectos que estão tanto no enredo quanto na batalha, é importante citar a descontração e o humor presentes, também, na hora da treta:

É possível, e até mesmo encorajado, fazer bastante grinding (ficar treinando em atividades extras) para ser cada vez melhor, o que é uma prática geralmente mal vista nos RPGs, porém muito comum. Em Disgaea existem algun poréns: o primeiro é que sua proposta de design é, em si, centrada no grinding; segundo, em alguma medida estas atividades extras e a necessidade de treinar são opcionais; e, por fim, existem diferentes atividades e modos para conseguir treinar os personagens.

Tem o item-world (no qual enfrentamos diversos andares dentro do mundo do item para evoluir os atributos do próprio equipamento), os mapas da história (que podem ser revisitados para enfrentar inimigos e tentar conseguir o bônus máximo), o modo chara-world, no qual cada personagem pode passar por um jogo de tabuleiro para aumentar seus atributos, e como bons demônios, podemos até mesmo passar algum projeto negado na assembleia através da força.
Muitas vezes é necessário usar e abusar da opção do Lift, que nos faz levantar blocos e guerreiros e arremesá-los pelo campo de batalha.
Eu disse que o grinding é, em alguma medida, opcional. Mas ele é necessário, sim, dentro do jogo. Já que para juntar dinheiro, itens e aumentar o nível dos personagens é importante realizar certas atividades extras. Mas para poder vencer os mapas principais e ver a história do jogo, esta necessidade se limita a um mínimo, o que é bom. A proposta do jogo gira em torno do exagero, do grinding e de várias horas de conteúdo, mas mesmo que você queira gastar muito menos tempo, é possível. O jogo abre as possibilidades e o grande conteúdo para quem quiser mergulhar.

Mas ao mesmo tempo vai introduzindo cada nova mecânica em diferentes fases, para que o jogador possa se acostumar com elas. São sistemas tranquilos de entender, mas difíceis de dominar completamente.

Netherworld de bolso

E também tem muita coisa para fazer no HUB da aliança, o Pocket Netherworld. A base dos rebeldes traz vendedores de equipamento, hospital, quadro de quests, ala de recrutamento, ala de treino, etc. Grande parte disso vai sendo disponibilizado aos poucos, geralmente no começo de um novo capítulo. O destaque vai para os modos de edição (podemos editar estágios para outros jogadores desafiarem, além de haver a opção de customizarmos o nosso pocket netherworld) e, principalmente, o esquema de esquadrões.

Cada esquadrão tem uma função e traz habilidades e melhorias aos seus membros. Para além disso, podemos também enviar membros da aliança em missões de pesquisa, investigando os mundos que passamos pela história, além de descobrir novos mundos (tudo isso para conseguir novos itens, prisioneiros e, até mesmo, desafiar o overlord do planetóide). Não são mundos que você vai ter que vencer em cinco estágios, como aqueles da história, mas os que têm um overlord trazem novas batalhas. E traz cada lugar mais esdrúxulo do que o outro, no bom sentido.
Outra possibilidade é usar o "quarto de interrogação".
Falando nesses mundos, o visual do jogo é simples, mas agrada. Os modelos são polidos, e, para além disso, a presença de diferentes netherworlds, todos eles com identidade e carisma, ajuda a criar a atmosfera. A música também acompanha os momentos sérios e os outros de palhaçada, mas acaba se repetindo muito.

Um exagero de vingança

Disgaea 5: Alliance of Vengeance não reinventa a franquia, mas traz um bom número de novidades para compor um conteúdo vasto, pronto para ser acessado conforme a vontade do jogador. Traz os mesmo tipos (mas que são carismáticos) e muito clichê na história, é verdade, mas não deixa de trazer muito bom humor e momentos engraçados. Refina ainda mais as mecânicas e sistemas para entregar uma experiência de qualidade em jRPG tático. Não irá desapontar os fãs de longa data, e também tem potencial para agradar a novos jogadores. Agora me deem licença que aquele congressista LVL 820 não vai se vencer sozinho.

Prós

  • Simpático e bem-humorado;
  • Conteúdo vasto e não obrigatório;
  • Mecânicas e sistemas ainda mais refinados;
  • Novos modos de jogo;
  • Executa sua proposta de maneira mais que competente.

Contras

  • Traz clichês e muitos momentos que já vimos nos anteriores.
Disgaea 5: Alliance of Vengeance — PS4 — Nota: 8.0

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Peterson Barros

é um homem sem qualidades. Para se esquecer das décadas de fracassos de sua vida real, resolveu passar parte do seu dia jogando. Iniciado nos games por Adventures e JRPGs, hoje em dia joga de tudo. Gosta muito de escrever sobre jogos, mas só dá nota 10 para games em que você pode dar Suplex em um trem.

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