Os males da nostalgia gamer

Seu jogo preferido tem mais de dez anos de idade? Você critica os jogos atuais sem tê-los jogado? Vive começando frases com “na minha época”... (por Unknown em 16/08/2012, via PlayStation Blast)

playstationblast_nostalgia_01Seu jogo preferido tem mais de dez anos de idade? Você critica os jogos atuais sem tê-los jogado? Vive começando frases com “na minha época” e falando mal da “nova geração”? Passa dias lembrando com saudade de seu primeiro console, apenas para um dia pegá-lo novamente e descobrir que não era nada como você se lembrava? Parabéns, você é um gamer nostálgico! Mas esse comportamento pode ser prejudicial e limitar sua experiência como jogador. Entenda como e aproveite para abrir seus horizontes com este Especial!

Que fique claro: essa nostalgia exagerada e cega não é privilégio ou exclusividade de nossa geração. Ela está apenas evidenciada por causa da internet. É muito comum ver um senhor de idade dizendo que “nos tempos da ditadura o Brasil era melhor”. Ele não pensa realmente isso, é apenas a nostalgia falando.

“Mas eu gostava tanto!”

Existe uma verdade triste de admitir: crianças se divertem muito mais e muito mais facilmente que adultos. Elas ficam felizes com basicamente qualquer coisa que inspire alguma criatividade e que seja novo. Existem duas explicações para isso: a primeira é que as crianças não têm as preocupações de um adulto – ela não precisa estudar tanto, nem pagar contas, muito menos trabalhar; a segunda explicação é que conforme nossa vida passa, a rotina começa a tornar as coisas mais banais, e isso também explica porque nos lembramos tão claramente de alguns fatos da infância e nos confundimos com algo que comemos há dois dias.

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Isso não quer de forma alguma dizer que os jogos que amávamos quando crianças não eram bons. Alguns, inclusive, continuam sendo bons pois envelheceram bem. Mas os jogos de ontem não são os únicos que existem, e temos atualmente verdadeiras joias no mercado. Os gamers excessivamente nostálgicos se esquecem disso.

“Ah, no meu tempo não era assim!”

Nesse ponto, os nostálgicos estão certos: as coisas mudam. Mas não necessariamente para pior – no caso dos games, a tecnologia evoluiu muito rápido, possibilitando coisas que há dez anos seriam motivo de piada. Quem diria que teríamos um jogo tão grande e imersivo quanto Skyrim? Ou gráficos tão lindos quanto os de Crysis 2?

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É verdade: existiam jogos inovadores “no seu tempo”. Final Fantasy VII deixou multidões de jogadores chocados ao matar uma protagonista, Resident Evil tinha um clima interessante de tensão e por aí vai. São duas franquias que mudaram de formas diferentes: Resident Evil buscou algo mais amplo, para agradar novos públicos. A reclamação constante dos nostálgicos é que “se não está num espaço fechado, não é Resident Evil”, mas não avaliam de fato o todo. O clima de tensão está presente em todos os jogos da série, inclusive no quinto, que deu um belo passo em direção aos jogos de ação. Isso não tira o mérito da franquia.

Já Final Fantasy mudou de outra forma: em 1999, quando Final Fantasy VIII foi lançado, os RPGs japoneses eram uma febre. A Square lançava muitos jogos todos os anos e vendia absurdamente bem, apesar da época favorecer muito a pirataria. Hoje em dia, o gênero está bem próximo da morte, em uma geração que não tem grande apreço pela linearidade excessiva e os excessos visuais típicos de mangás e animes. Isso não quer dizer que Final Fantasy XIII seja ruim, ele apenas não se adequa muito bem ao mercado atual.

Outro comentário bastante repetido é que “na minha época os jogos eram lançados completos!”, falando sobre os DLCs que se tornaram hábito das desenvolvedoras. É verdade: antes, um jogo chegava aos consoles e nunca mais era tocado por seus criadores. E embora a prática de cobrar por DLCs seja um tanto abusiva, a verdade é que isso foi uma enorme melhoria para o mercado: conteúdo novo para um jogo já lançado sai muito mais rapidamente do que os dois ou três anos que costumamos esperar para ter um novo capítulo da história.

Os males

pac-man[1]Finalmente, o assunto principal: qual o grande problema nessa nostalgia excessiva? Como qualquer coisa que se sinta e não se entenda ou perceba, ela reforça comportamentos negativos. Exemplo: “essa geração Call of Duty é muito irritante, nunca jogaram um bom RPG japonês”, esquecendo-se que na década de 1990, Doom, Quake e outros FPS eram muito bem sucedidos. Outro exemplo: “esses jogos de mocinha de hoje em dia não estão com nada, não quero pensar no que eu tô fazendo, jogo videogame para me divertir”, esquecendo-se que em 1989 Earthbound tinha uma história complexa e emocionante que focava, basicamente, em uma relação familiar.

Em vez de perceber que nós mudamos mais do que as coisas externas, essas pessoas se apegam a noções falsas de suas próprias lembranças. É bastante comum um gamer nostálgico resolver jogar um de seus supostos jogos preferidos apenas para perceber que aquilo não é mais divertido. O jogo não mudou, mas o jogador cresceu, experimentou coisas diferentes, e sua percepção hoje em dia é outra.

A conclusão é simples: existiam jogos excelentes antes, como existem agora. E existiam jogos horríveis, como existem agora. Nostalgia não faz mal a ninguém, desde que seja ponderada e que o jogador não ignore as coisas boas que surgem em prol das coisas boas que passaram.

Revisão: José Carlos Alves


Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.
Este texto não representa a opinião do PlayStation Blast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

Comentários

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  1. Tirei o Chapel para essa matéria !! Muito boa, parabéns !!

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  2. Discordo, hoje em dia você paga muito caro para um jogo de 4, 5 horas ja está salvo e acabou. Ponto final! Tenho o Xenogears comprado na PSN, e estou salvando ele pela segunda vez em 2 meses, zerei a primeira em 42 horas... Agora estou jogando pra upar todos os chars no maximo, conseguir os itens que não peguei e acompanhar a maravilhosa história que se tem o jogo, os graficos são ruins pra atualidade. Mas e dai? O enredo do jogo é algo maravilhoso que ti prende as 40 e la vai horas de jogo! Hoje em dia os jogos são ruins, com histórias fracas e todos são EXTREMAMENTES FACEIS. Nem o modo Hard ou Extreme, coisa que na geração SNES, PS1 e PS2 eram só pra gamers realmente bons assustam hoje em dia! Não troco meu passado pelo presente! Não mesmo!

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  3. Tem muitos jogos hoje em dia em que você chega a 40 ou até 60 horas de jogo facilmente, e ainda dá pra jogar de novo e ver tudo diferente. Mass Effect, Skyrim (esse passa das 200h de jogo facilmente), GTA IV, Red Dead Redemption, só para citar alguns.

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  4. Gostei do artigo. Mas discordo dele em alguma coisas. Por exemplo: os jogos ficaram mais fáceis. Isso não é mera ilusão causada pela nostalgia. É fato. Hoje, temos vidas e chances infinitas... Antigamente, você tinha 3 vidas e, talvez, 3 "continues" e tinha que se virar com isso. Podia estar no final da última fase e teria que começar de novo.
    Mesmo os RPGs atuais... Antigamente, para ser chamado de RPG, não bastava que suas habilidades fossem incrementadas ao longo do jogo e nem havia um ponto piscando no mapa dizendo para onde você tinha que ir. Muitas vezes, você tinha que se virar para entender um longo diálogo (em inglês) para descobrir o que e como tinha que fazer. Em termos gerais, penso que os jogos ficaram mais fáceis. Mas isso não significa que deixaram de ser bons.

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