Jogamos

Análise: Tomb Raider (PS3)

A expectativa pelo novo jogo da Lara Croft, desenvolvido pela Crystal Dynamics em parceria com a Eidos Montreal e publicado pela Square... (por Samuel Coelho em 22/03/2013, via PlayStation Blast)

A expectativa pelo novo jogo da Lara Croft, desenvolvido pela Crystal Dynamics em parceria com a Eidos Montreal e publicado pela Square Enix, remexeu e fez fervilhar numa escala global o espírito aventureiro dos amantes da heroína mais famosa dos games de uma forma que já não acontecia há muito tempo. Promessas de uma exploradora de tumbas mais humanizada e de uma jogabilidade que valorizasse tanto a ação quanto a exploração atraiu a atenção de olhares de gamers ao redor do mundo todo. Acompanhe nossa análise e confira se o renascimento de Lara valeu ou não a pena.

Perdidos no Triângulo do Dragão 

A nova jornada começa mostrando a recém-formada Lara junta de uma equipe de pesquisa arqueológica passando por sérios apuros numa grande embarcação chamada Endurance, que atravessava as proximidades de uma zona do Triângulo do Dragão quando o grupo buscava por vestígios e indícios da localização de Yamatai, um império lendário e muito antigo que diziam possuir uma rainha que, por intermédio da própria vontade, podia conjurar tempestades e controlar a força do Sol.

Endurance, pouco tempo depois de levantar âncora.

Ao enfrentar uma forte tempestade, o navio acaba se partindo violentamente ao meio e sua tripulação é arremessada à própria sorte nas águas revoltas e destruidoras do Mar do Diabo. É assim que Lara e seus colegas de empreitada acabam indo parar numa ilha que a princípio parece deserta, mas que logo depois acaba se revelando como um lugar cheio de construções que parecem datar da época da Segunda Guerra Mundial, destroços de aeronaves e embarcações marítimas. E, para completar o cenário da situação com um toque até macabro, tudo indica que o lugar parece também já estar habitado por um grupo de cultistas fanáticos e que ele carrega os tais vestígios que comprovariam a existência do lendário Império de Yamatai e da poderosa e temida rainha Himiko.


É basicamente dessa forma que o jogo começa. Daí em diante nossa jovem e inexperiente heroína será jogada cara a cara contra os mais adversos obstáculos, que a colocarão em uma situação onde ou ela evolui e aprende a sobreviver ou ela morre. Felizmente ela evolui. E evolui muito rapidamente. A imagem que a princípio fora passada pela mídia de que Lara estaria mais humana do que nunca acaba se consolidando, mas talvez não da forma como alguns esperavam. Na trama, ela jamais se mostra como uma garota frágil e inocente. Aliás, vale ressaltar que o fato de ela ser uma garota em nenhum momento é utilizado como bengala para nos sensibilizar com as situações adversas vivenciadas pela jovem. Desde o princípio, Lara se apresenta como uma pessoa forte, corajosa, determinada e resiliente.


O único traço evidente de fraqueza que ela pode passar está ligado a uma certa dose de insegurança. E isso se dá por ela não conhecer bem seus próprios limites devido a sua falta de experiência. Contudo, a personagem percebe rapidamente que é muito mais capaz do que a princípio imaginara ser. Ela logo se dá conta de que, se necessário, para assegurar a sobrevivência de seus colegas e a sua própria, ela consegue matar e subjugar inimigos com muita facilidade.

Uma sinergia entre ação, narrativa e exploração 

As formas de atuação em combate são diversificadas em gênero e estilo. Você pode, em grande parte das situações, tanto escolher por "tocar o terror" com armas de fogo quanto optar por elaborar armadilhas e estratégias inteligentes de ataque furtivo. Ambas as opções de aproximação em combate são extremamente funcionais e intuitivas. Há à sua disposição um arsenal de armas que podem ser amplamente customizadas e que possuem níveis de características e atributos variados envolvendo dano, área de fogo e nível de ruído. O mais interessante é que boa parte delas pode ser usada de formas diversas e incomuns, tanto no combate quanto na exploração.


Por falar em exploração, o jogador possui meios que facilitam em muito esse processo. Além de contar com a mecânica de uma habilidade chamada Instinto de Sobrevivência, que pode ser ativada a qualquer momento durante o jogo e que realça no mapa tudo o que merece uma atenção maior do jogador, o game conta também com um amplo e bem planejado esquema de mapas, que nos permite saber o que ainda pode ser descoberto em cada uma das seções da ilha.


A movimentação pelos mais variados tipos de terreno é fluida e o progresso de exploração é salvo a cada nova descoberta ou façanha conquistada.

Há no título várias sidequests envolvendo coleta de tesouros e relíquias. Estes colecionáveis não são colocados para o jogador como simples itens avulsos de pouco significado. Além do fato de adquiri-los implicar em uma boa quantidade de pontos de experiência, quando isso acontecer, Lara ainda torna tudo melhor ao nos explicar, com sua perspicácia de exploradora e arqueóloga, a correlação destes itens com os valores histórico-culturais da ilha.

Os cenários do jogo são incrivelmente belos e cheios de detalhes.
Os cenários do jogo são ricos de personalidade atmosférica, beleza, ótima física e propósito, sendo que é fácil perceber que cada pedacinho do ambiente foi projetado com esmero. Definitivamente dá gosto de explorar, reexplorar e admirar todos os cantos possíveis da ilha. Até mesmo quando embarcarmos na realização de algumas sidequests bobinhas, quase sempre ainda assim prevalece a sensação de que estamos fazendo alguma coisa em favor do progresso da história e de que realmente estamos imersos no universo do jogo. Raramente sentimos que já nos afastamos demais da linha ideológica principal do que está acontecendo, principalmente porque somos facilmente envolvidos pelas motivações e interesses da personagem principal.

Tomada: 1, AÇÃO! 

Desde a invenção da modalidade do salto de cabeça sobre precipícios, existe uma atividade bastante apreciada por alguns dos fãs mais sádicos da série Tomb Raider, que é ver Lara se esfolar, se espatifar e estrebuchar de uma forma ao mesmo tempo graciosa, grotesca e violenta. No novo Tomb Raider as mortes de "game over" continuam bastante dramáticas e até mais aflitivas, graças ao excelente trabalho de animação, captura de movimento, controle de câmera e também à ótima atuação que deu vida ao cerne da jovem Lara.

A forma de transmitir o universo do jogo para o jogador recebeu vida nova e uma natureza cinematográfica empolgante jamais vista antes num jogo da série. A câmera é praticamente um personagem à parte para representar, em primeira pessoa, o espírito do jogador observando e quase sentindo o que Lara sente. Ela ajuda a criar de forma artisticamente bela toda a tensão do game ao nos transmitir senso de urgência e sensações como claustrofobia, vertigem e frio, só para citar algumas.

A câmera o faz viver todo o drama da personagem de perto e intensamente.

Camilla Luddington, a Larinha da vez.
Lara, protagonizada pela atriz Camilla Luddington, também desempenha seu papel de maneira brilhante para criar esse envolvimento, reagindo de forma muito realista tanto fisicamente como emocionalmente aos vários elementos do ambiente. Sua forma de andar, e alguns de seus outros trejeitos, muda significativamente de acordo com a tensão da situação e com as propriedades do lugar por onde ela está se aventurando, sendo que é bastante fácil olhar para a personagem e saber o que ela está sentindo.


Os elementos de RPG, usados para dar forma à curva de desenvolvimento de Lara, ajudam a conectar mais ainda os momentos de ação e exploração com os elos narrativos do jogo. Muito do que você fizer enquanto joga é revertido em pontos de experiência que, quando acumulados, lhe habilitam a comprar novas habilidades de sobrevivência e de combate para Lara. Isso resulta numa sensação maior de realmente estar fazendo parte na determinação da forma e da qualidade do processo evolutivo da heroína.

A maçã podre 

O modo multiplayer é com certeza a parte que mais tenta tirar o brilho desta obra-prima, por não oferecer nada de muito interessante ou original e por ser extremamente genérico.

Depois de uma aventura épica, é quase tortuoso ter que encarar o modo online.
O pior disso tudo, principalmente para os que gostam de platinar games, é que a aquisição de um bom número dos troféus depende de o jogador cumprir um monte de objetivos nesse tedioso modo online. Isso, por enquanto, é só chato, mas no futuro, quando os servidores do jogo finalmente forem desativados, algo assim impossibilitará por completo que o jogador consiga todos os troféus do jogo. Um combo de mancadas desnecessárias que poderia ter sido facilmente evitado.

"Lara Drake" e "Nathan Croft" caminham de mãos dadas 

Não é de agora que jogos de videogame de diferentes franquias se misturam e se "copiam" para tentar criar coisas novas baseadas em coisas já existentes, isso tudo com o intuito de assim proporcionar ao jogador experiências que ao mesmo tempo sejam diferentes e familiares. É assim que se dá boa parte da evolução no mundo dos jogos e, em um nível de abstração bem alto, mas bem alto mesmo, é inclusive devido a isso que ficamos aptos a classificar jogos por gênero.


Até que formam um belo casal.
Logo nos primeiros minutos do jogo, aqueles que já se aventuraram pelos games da série Uncharted logo sentirão um forte déjà vu conectando o "espírito" do título de renascimento de Lara Croft com o do título protagonizado por Nathan Drake. Isso acontece porque o jogo realmente tem muitos elementos da mecânica dos games da série Uncharted, que, por sinal, também utilizou na idealização de seu conceito original alguns elementos que já eram utilizados pelos games da série de Lara. Contudo, ainda assim Tomb Raider consegue com sucesso reinventar sua própria identidade através da contextualização de tais elementos já familiares com o novo modelo de universo criado para a série, que valoriza não só o envolvimento de Lara consigo mesma e com as tumbas, como também o envolvimento psicológico da garota com as várias pessoas que fazem parte da sua história. Dito isto, podemos afirmar com convicção que os desenvolvedores do reboot obtiveram grande sucesso na tentativa de criar bases sólidas para o recomeço das aventuras de nossa amada e intrépida arqueóloga.

Prós 

  • Sistema de combate diversificado e bem integrado; 
  • Controles precisos e naturais; 
  • Excelente trabalho de localização de conteúdo para português do Brasil; 
  • Cenas de ação de tirar o fôlego; 
  • Desenvolvimento narrativo competente; 
  • Elementos de RPG equilibradamente bem utilizados; 
  • Sistema de mapas com dados sobre localização de tesouros associado a cenários belíssimos e com alto grau de interatividade tornam o processo de vasculhar a ilha um grande prazer. 

Contras 

  • Modo multiplayer genérico e nem minimamente tão fluido e empolgante quanto o modo single player;
  • Associação do ganho de alguns troféus com tarefas a serem realizadas no modo multiplayer. 
 Tomb Raider – PlayStation 3 – Nota: 9.0
Revisão: Rafael Becker 

é apaixonado por literatura, música, filosofia e arte digital. Ex-aluno de Ciência da Computação na UFPa, ator amador e notívago inveterado, ele passa noites e noites em claro se afogando em tudo o que o fascina. Encontre-o no Facebook ou no Twitter.

Comentários

Google
Disqus
Facebook