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Análise: 100ft Robot Golf (PS4) aterrissa longe do buraco

Robôs, golfe e realidade virtual, o que pode dar errado?


Quando surgiu a oportunidade de jogar e analisar 100ft Robot Golf (PS4), não pude deixar de ficar animado com a ideia. Afinal, é um jogo que une várias coisas que me interessam: golfe, robôs gigantes, McElroys e realidade virtual. Meu pai joga golfe há uns 16 anos, então eu tenho um conhecimento e um interesse razoável no esporte desde pequeno. Como amante de tecnologia e ficção científica, a ideia de jogar golfe gigante com robôs (na verdade, mechas, por serem pilotados por humanos (ou cachorros)) soou divertida pelo absurdo. Também sou ouvinte assíduo de podcasts e os irmãos Justin, Travis e Griffin McElroy, cujas vozes acompanho semanalmente, estão presentes como narradores das partidas. Finalmente, 100ft Robot Golf conta com um modo em realidade virtual, perfeito para estrear meu recém-comprado PlayStation VR.

Com tantas ideias legais aplicadas, seria uma pena se o jogo acabasse não sendo muito bom. Infelizmente, foi exatamente isso que ocorreu.

A premissa é simples: cada jogador (até quatro local ou online) controla um mecha (com, aproximadamente, 100 pés de altura) armado com tacos de golfe: um driver, um wedge e um putter. Seu objetivo? Bater em uma bolinha até fazê-la entrar no buraco localizado a alguns quilômetros de distância. Exceto pela escala, que faz com que obstáculos sejam edifícios em vez de árvores, os cenários são imediatamente reconhecíveis como campos de golfe, incluindo os diferentes tipos de gramado fairway, rough e green.



A principal diferença em relação ao esporte que conhecemos por Tiger Woods e Rory McIlroy (existem videogames deles, confira) é que, no modo principal, a jogabilidade por turnos foi substituída por uma em tempo real. Ou seja, enquanto em golfe o objetivo é alcançar o buraco no menor número possível de tacadas, em Robot Golf é chegar ao buraco em menos tempo.

Em um primeiro momento, essa modificação parece dar um twist interessante à jogabilidade: na minha primeira ou segunda tacada, fui surpreendido quando minha bola parou antes do esperado porque ela colidiu com outro robô gigante que estava andando pelo campo. No entanto, rapidamente se percebe que as jogadas alternadas é parte do que torna golfe tão estratégico e fascinante. Em Robot Golf, perdem-se os minutos considerando o taco, o spin, o vento, a jogada do atleta anterior e, no seu lugar, o jogador é incentivado a simplesmente jogar a bola o mais rápido e o mais longe possível, contanto que ela voe mais ou menos na direção certa.

Isso tudo seria aceitável se o jogo se esforçasse para adicionar profundidade às suas mecânicas. Um pouco disso é visível pela forma em que cada robô tem uma forma diferente de tacar: por exemplo, um deles tem dois motores controlados pelos gatilhos do controle: pressionar os gatilhos define a força da tacada, mas é necessário pressioná-los com a mesma força para garantir a precisão. Mesmo essas diferenças, no entanto, são rapidamente compreendidas pelo jogador e tornam a tarefa de voar até a bola e tacá-la longe novamente repetitiva. Cada robô tem uma habilidade especial também, mas, sinceramente, nunca senti necessidade de usá-las: quase sempre que elas terminavam de carregar, eu já estava prestes a dar meus últimos putts.



Não que o uso desses especiais fosse fazer muita diferença. Seja no modo em tempo real ou no mais tradicional stroke play (onde o número de tacadas importa), o jogo nunca me recompensou por jogar bem, tampouco me puniu por jogar mal. Isso acaba parecendo uma decisão preguiçosa de design, pois parece que os desenvolvedores sabiam que poucos jogadores se interessariam o suficiente nas mecânicas para tentarem se aperfeiçoar nelas.

A campanha inclui uma narrativa que claramente se inspira em animes de ficção científica, mas apresenta tudo com um tom de extrema galhofa. O estilo artístico é agradável, porém as animações são extremamente rústicas, tendo frequentemente apenas as bocas dos personagens se movendo. Já a dublagem é claramente feita por dubladores amadores, não deixando o jogador esquecer que se trata de um produto indie, produzido com pouco dinheiro (mas isso deveria ser problema do jogador em um produto de 20 dólares?). Em alguns momentos, a galhofa é suficiente para trazer um sorriso ou até algumas risadas, mas em boa parte do tempo acaba sendo desinteressante ou até desagradável.

A narração dos McElroys é um dos pontos positivos, pois eles conseguem aliar o contexto extremamente absurdo de robôs destruindo prédios para poder jogar a bola na direção certa com o tom suave esperado de narradores de golfe. O maior problema neste ponto é que o jogo nem sempre alia corretamente as frases com o que está acontecendo: por exemplo, já ouvi coisas como “ele está demorando muito para jogar” após meros segundos do início da partida.


Por último, tem o modo de realidade virtual. Enquanto o jogo na TV utiliza uma perspectiva tradicional de terceira pessoa, em realidade virtual a sensação é de ser uma GoPro acoplada no topo do robô. Apesar de ser, às vezes, divertido poder realmente olhar para a esquerda ou para a direita a fim de encontrar a direção do buraco e planejar sua tacada, muitas vezes a câmera se posiciona de forma extremamente confusa, com sua visão obstruída por pedras, edifícios ou seu próprio robô. Se a bola não fosse marcada por uma gigante coluna amarela, seria praticamente impossível achá-la próximo aos pés do próprio robô. O modo não é terrível (eu joguei diversas partidas da campanha assim), mas tem vários problemas claros que fazem pensar sobre o processo de decisão por trás deles. Ah, e o multiplayer só funciona na TV.

É difícil dizer que 100ft Robot Gold é um jogo ruim. Na maior parte do tempo, ele é apenas desinteressante, o que torna difícil de recomendar considerando o preço. Em uma boa promoção (ou, quem sabe, como jogo da PS Plus), ele vale o download por algumas partidas casuais com seus amigos, mas como um todo acaba parecendo um jogo não só independente mas amador. Quem sabe, a desenvolvedora No Goblin aprenda com seus erros em seu próximo jogo.

Prós

  • Direção artística bacana com inspiração em animes;
  • Algumas boas piadas na história e na narração;
  • Formas interessantes de fazer os robôs darem tacadas;
  • Conceito absurdo pode ser divertido por si só.

Contras

  • Jogabilidade em tempo real desfaz quase toda a estratégia do golfe;
  • Ausência de recompensas ou punição por habilidade;
  • Dublagem amadora;
  • Narração nem sempre combina com o que está acontecendo;
  • Modo em realidade virtual aceitável mas problemático.
100ft Robot Golf — PS4 — Nota: 5.0
Revisão: Ana Krishna Peixoto

Quando não está ocupado sendo diretor, redator, newsposter, podcaster e RP do PlayStation Blast, Renan Greca gosta de jogar videogames. Às vezes, lembra de focar em seu mestrado também.

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