Discussão

Discussão: Os jogos de terror morreram?

WTF ? Essa é a expressão comumente usada pelos gamers ao testarem um novo jogo de “ horror ” do mercado. Parece que a indústria não liga mu... (por Unknown em 04/04/2012, via PlayStation Blast)

siren-blood-curse-this-is-what-i-get-to-see-in-first-personWTF? Essa é a expressão comumente usada pelos gamers ao testarem um novo jogo de “horror” do mercado. Parece que a indústria não liga muito para a opinião dos fãs que querem jogos de “survival horror” ao invés de uma ação desenfreada, camuflada com alguns requintes que nem de longe são assustadores. O que aconteceu com aqueles jogos que interrompiam o sono de milhares de jogadores? Há salvação ou esse gênero morreu? Acompanhe a nossa discussão e opine com a gente.

O que diabos aconteceu com Resident Evil? Essa é a pergunta que norteia a nossa discussão. Como é possível uma franquia decair tanto? Seria descaso da produtora? Ou os novos jogos são um reflexo de um mercado cada vez mais acostumado com o gênero FPS, ou o que gosto “carinhosamente” de chamar como “geração Call of Duty”?

Qual a razão da falta de bons títulos de horror atualmente? São essas questões que procuraremos abordar ao longo da discussão. Como toda matéria, é preciso fazer escolhas. Por isso, é impossível discutir todos os jogos lançados com essa temática. Assim, faremos menção apenas aos que consideramos fundamentais para o cerne da questão.

O horror de Resident Evil


resident_evil1(1)O ano de 1996 foi uma marco para os jogadores. Era o ano em que a Capcom lançava, ainda de modo tímido, um jogo chamado Resident Evil. O game possuía uma temática diferente, inovadora para a época, misturando exploração com zumbis, tiroteios e o que mais nos interessa aqui: sustos. Era uma época onde o gênero “survival horror” fazia sentido. Ainda me lembro da primeira vez que joguei o game e de como fui dormir à noite.


Obviamente, não demorou para que a Capcom fizesse uma sequência, que veio dois anos depois. Resident Evil 2 conseguiu a proeza de ser ainda mais assustador do que o seu antecessor. As cenas iniciais do game eram fantásticas, reproduzindo fielmente todo o horror que você encontraria na mansão. Era indescritível a sensação de andar por um corredor e, sem o menor aviso prévio, um cão zumbi pular a janela e lhe atacar, ou então quando você abria uma porta e dava de cara com um zumbi vindo em sua direção. São momentos como esses que mais marcaram os dois primeiros games da série.

Mas já ouviram aquela clássica frase “Tudo o que é bom dura pouco?” Pois é. Apesar de ainda seguir alguns aspectos dos jogos anteriores, Resident Evil 3 já não tinha mais aqueles sustos característicos, talvez devido à própria ambientação do game, em uma cidade. Ainda assim, o game foi bem visto pela crítica e muitos ainda o consideram como um legítimo jogo da série. 

capaPorém, foi em 2004 que os fãs da série levaram o primeiro tombo. Toda a essência magnífica da franquia acabou com o lançamento de Resident Evil 4. Infelizmente para a Capcom, os milhões faturados com os jogos anteriores não eram suficiente. Era preciso mais, algo inovador. E foi nesse ápice de inovação que Shinji Mikami, criador da série, construiu a trama de Resident Evil 4. Totalmente inovador em jogabilidade, inimigos e estratégias. Resultado? Vendeu muito mais do que os clássicos games. Mas aí entra a questão: toda essa inovação agradou os antigos fãs?

NÃO, não agradou. A “inovação” foi tamanha que toda a essência do survival horror que fez da série um sucesso simplesmente sumiu. O ponto mais importante: como assim não há mais zumbis? Eles eram o axioma de todo a saga. Retirar os zumbis de Resident Evil é a mesma coisa que retirar os dinossauros de Dino Crisis, ou seja, não faz sentido nenhum. Soma-se isso a um enredo bem clichê e pronto, facada no coração de todo fã da série.

Depois disso a coisa só foi desandando, Resident Evil 5 seguiu o mesmo esquema, sem zumbis e com criaturas cada vez mais estranhas, caindo ainda menos nas graças dos fãs. O último fiasco da série foi o recente Resident Evil: Operation Raccoon City, game que parece tudo, menos “survival horror”. Pode até ser bom como um shooter em terceira pessoa, mas convenhamos que aquilo não é nem de longe Resident Evil.

O que podemos fazer? Infelizmente, só nos resta esperar pra ver como será Resident Evil 6. Mas é melhor não ficar muito esperançoso ou animado, afinal, a Capcom atualmente só se preocupa em lançar DLCs que mudam o sapato de personagens, isso sem falar na produção de versões "Ultra”, “Mega”, “Super Master Extreme” de suas franquias de luta.

Mas é só com Resident Evil?


SilentHill1Novamente, não. Os games desse gênero vêm perdendo fôlego faz tempo. Quem não se lembra do primeiro Silent Hill? Aquela atmosfera de andar pela cidade sem direção, em meio àquela névoa aterrorizante e para completar, com uma música que tocava toda vez que os problemas se aproximavam. Era um belo exemplo de como o suspense funciona tão bem em jogos quanto o medo constante de zumbis.

Só que isso, de novo, começou a mudar a partir do momento em que o roteiro e a própria narrativa da série foram ficando cada vez mais genéricos. Seria uma espécie de maldição advinda com o lançamento do PlayStation 2? Pois tanto Resident Evil quanto Silent Hill eram ótimos games até migrarem para o sucessor do tijolão cinza.

Brincadeiras à parte, a situação de Silent Hill é ainda melhor que a do game da Capcom. Por mais que o enredo mude, a série, em tese, não perdeu sua essência, pois ainda aborda conflitos psicológicos, alucinações e aparições macabras como uma válvula de escape para os horrores do mundo real. Tanto é que o segundo game da série ainda é considerado por muitos como uma dos jogos mais assustadores dos últimos tempos. 

Silent_Hill_DownpourIsso sem falar que a série recebeu um novo fôlego no PlayStation 3. Silent Hill: Downpour não é um game ruim, apesar de ter recebido diversas críticas negativas. Nele, o jogador assume o papel de Murphy Pendleton, um prisioneiro fugitivo que vai parar em Silent Hill após um acidente. Novamente ressalto que, por mais que a série em si tenha mudado, ela ainda cumpre sua função como “survival horror”, mesmo que vagamente.
Mas não é só com as duas franquias citadas que isso acontece, é com o gênero em geral. Muitos jogos prometeram mundos e fundos no que diz respeito ao terror, mas não chegaram nem perto de cumprir com o combinado.
Um bom exemplo é Siren: Blood Curse. Um jogo de terror oriental ao melhor estilo de filmes como “O Chamado” e “O Grito”. Contando com lendas urbanas e sacrifícios humanos, o jogo em si não convence. Assim como F.E.A.R, que mais parece um shooter com monstros. Há mais alguns que entram no pacote, tais como: Alone in the Dark e Obscure.

Os Salvadores?

 

Apesar de toda essa desilusão com o gênero, houveram gratas surpresas para os fãs mais desesperados. E Bioshock foi um dos principais games que chegaram para surpreender o público. Não é nenhum dos monstros e nem mesmo os cadáveres mutilados que tanto assusta os jogadores, mas sim a história de um mundo utópico e perfeito, e como a sua busca pode nos levar literalmente ao Inferno. Cada escolha sua leva-o à salvação ou à danação eterna. Sem falar que nada no jogo é mais cruel que a reação entre as “Little Sisters” e seu “Big Daddy”. Seria possível salvá-las? Ou o melhor mesmo seria livrá-las de seu sofrimento e sede de poder? A sequência do game também não decepciona, trazendo novamento os elementos que deram certo e incorporando alguns novos. 

Dead_Space_PS3E o que dizer de Dead Space? “O mais puro horror espacial”; é essa a frase que define o game. Na história, Isaac Clarke, um engenheiro espacial, recebe um pedido de socorro de uma estranha nave, e ao tentar ajudar, descobre que ela está repleta de monstros. A partir daí é sangue e membros para todos os lados, onde vale tudo para escapar. Mas o principal do jogo não é isso, e sim a questão da sobrevivência. É impossível não pular da cadeira quando um monstro horripilante surge em cima de você. Soma-se isso a um ambiente escuro, e você tem o mais próximo que poderemos chegar de um sucessor do gênero de terror.

Render -Resident Evil Operation Raccoon CityOk! Tudo muito bonito, mas cadê a discussão?

 
Calma que antes de tudo é preciso dar alguns exemplos que funcionam e outros não. Qual a conclusão tirada ao analisar os jogos atuais? Bom, a questão é que fica difícil criar um jogo de terror para uma audiência que está acostumada a encarar toda espécie de monstruosidades e aberrações como paisagens comuns em gêneros que vão dos jogos de tiros até os jogos de estratégia.

Querendo ou não, o fato é que o público gamer mudou. Por mais que haja uma fiel resistência que se recusa a cair nos modismos, a chamada “geração Call of Duty” domina o mercado, são os seus membros que fazem filas quilométricas para comprar um produto que é o mesmo jogo com um nome diferente. Logo, é regra básica de mercado: se eu tenho um público X que gosta de determinado gênero, o meu produto Y tem que se adequar a esses moldes, ou então estou fora da disputa.
Quer exemplo mais claro do que o recente Resident Evil: Operation Raccoon City? O game é uma mistura trágica de FPS com ação em terceira pessoa. Os zumbis são meros coadjuvantes no cenário. Não estou dizendo que o game não é divertido, pode até ser; mas então não iluda os fãs prometendo algo mais do que simples ação desenfreada.

É por isso que a maioria dos jogos destinados a provocar terror nessa geração falhou miseravelmente. O que falta para a indústria cair nas boas graças do público fã dos jogos de horror se resume em apenas uma palavra: criatividade.
Não é necessário, naturalmente, que os jogos destinados a aterrorizar alguém precisem colocar o jogador na pele de um pai de família que deve sustentar oito filhos com um salário mínimo por mês. É perfeitamente possível se utilizar do escapismo para inspirar a sensação de medo no jogador, mas o nível de criatividade que isso exige atualmente é muito superior ao que os desenvolvedores tinham no passado.

Tanto Bioshock quanto Dead Space conseguiram atingir esse objetivo de forma razoável. A munição limitada de Dead Space, aliada a um personagem sem grandes poderes em particular, e inimigos bastante resistentes, que exigem respostas rápidas, ágeis e bem pensadas por parte do jogador, mantém o jogo em um estado de suspense permanente que é capaz de amedrontar quem vai avançando pelo cenário. Da mesma forma, a perfeita ambientação de Bioshock, acompanhada de um belíssimo trabalho de efeitos sonoros e inimigos que por si só já são enervantes até na forma de se locomover, conseguem criar um clima de tensão apropriado.
De uma forma mais clara, é óbvio que um game de terror deve ter ação, mas esse não é o seu ponto forte, e sim a narrativa. É a história que envolve o jogador, criando o ambiente de tensão, medo e surpresas ao decorrer da trama. 

Call_of_Cthulhu_-_Dark_Corners_of_the_Earth_CoverartÉ por isso que, até hoje, o game que mais se aproxima da perfeição em relação ao gênero de terror, é o respeitado Call of Cthulhu: Dark Corners of the Earth. E tudo isso deve-se a dois fatores primordiais: a perfeita sincronia entre ação/exploração e uma narrativa que desperta medo no jogador. Os roteiristas fizeram um trabalho fantástico ao recriar na tela toda a atmosfera de horror feita por Howard Phillips Lovecraft. Na trama, você assume o papel de Jack Walters, um homem que já frequentou uma instituição psiquiátrica mas que ainda sofre de amnésia e esquizofrenia. A partir daí, a história se desenvolve bem aos moldes dos escritos de Lovecraft, onde você não consegue distinguir o real do fantástico, e o mais aterrorizante de tudo é quando você percebe que não há distinção.

Conclusões?

 
Quem são os culpados? O público gamer que foi cada vez mais se distanciando do gênero de horror ou as produtoras que focam sua atenção cada vez mais nas regras de mercado e se esquecem que o púbico gamer não é, nem de longe, uma mistura homogênea?

Há de se pensar sobre isso: quem morreu, os jogos de terror ou o seu público?
O fato é que o lugar comum e a falta de investimento ou de preocupação com enredos de horror bem elaborados, aliados à uma genuína intenção de inovar são obstáculos que, se não forem superados, levarão o gênero de terror à extinção em um futuro próximo nos jogos.

Revisão: Rafael Becker

Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

Comentários

Google
Disqus
Facebook


  1. gostei da discussao resident evil era bom (ERA) agora ta uma merda se e pra dar medo pra que ter armas resident evil 4 so me deu susto algumas vezes na primeira vez que joguei o 5 nunca deu e silent hill shatered memories tambem nao faz medo coisa nenhuma so tive medo quando passou a sombra da garotinha gritando entre as cadeiras da sala de aula

    ResponderExcluir