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Análise: Mass Effect 2 (PS3)

Imagine seu jogo preferido. De todos os tempos. Agora imagine-se escrevendo sobre ele. Pois então, bem vindo ao meu mundo nesse momento. ... (por Unknown em 26/07/2011, via PlayStation Blast)

Mass Effect 2 (PS3)Imagine seu jogo preferido. De todos os tempos. Agora imagine-se escrevendo sobre ele. Pois então, bem vindo ao meu mundo nesse momento. Eu digo isso apenas para ficar claro o quanto é difícil para mim separar o fato de que eu acho esse jogo absolutamente incrível do fato que preciso escrever essa análise de forma objetiva.

Sim, eu amo Mass Effect 2. Concordo com todos os críticos que o elegeram como o melhor jogo da atualidade. Tenho consciência de que ele não é perfeito, mas o maior trunfo de Mass Effect é que ele, de uma forma ou de outra, é capaz de cativar praticamente qualquer gamer.

“Mas eu vou pegar a história pela metade?”

Mass Effect 2 é, obviamente, a segunda parte de uma história. O primeiro da série foi publicado pela Microsoft, e, é claro, não foi e nem jamais será lançado para Playstation 3. Além disso, Mass Effect 2 foi lançado para PS3 um ano após o lançamento no Xbox 360 e PC. Tudo isso soa como um dos “poréns”, certo?

Errado. Completamente errado, e aqui estão os porquês:

1. A engine gráfica usada nessa versão para o PS3 é a mesma (ou pelo menos bem parecida) com a que será usada em Mass Effect 3. Então, com ele, você terá um game ainda mais bonito que a sua versão para Xbox 360.

2. Adquirindo uma cópia nova de Mass Effect 2, você tem acesso a diversos DLCs de forma gratuita, num pacote chamado Cerberus Pack, usando um código que vem dentro do manual. Esses DLCs não são apenas fillers. São dois personagens extra para serem recrutados (ambos com missões de lealdade bem interessantes), duas missões longas e com impacto na história, uma sequência de missões, e, finalmente…

História em quadrinhos interativa Genesis

3. Para quem não jogou o primeiro jogo não perder a chance de ver suas decisões impactarem a história desse, a BioWare produziu uma história em quadrinhos interativa em parceria com a Dark Horse, chamada Genesis. Nela, você pode acompanhar a história do primeiro jogo e pode tomar seis decisões que têm repercussão em Mass Effect 2 e que terão também no terceiro.

“Eu não gosto dessa coisa de espaço sideral”

Mass Effect não é só uma história de guerra interplanetária e raças alienígenas se estranhando. Mass Effect é sobre as pessoas (humanos ou não) envolvidas nesse contexto. E, acredite, Mass Effect é sobre você.

Customização do personagem é um dos focos do jogo.

Antes de falar mais sobre a história, saiba que ao início do jogo você tem a oportunidade de escolher se seu(a) protagonista é homem ou mulher, mudar a aparência dele(a), escolher uma classe e até um “background” para ele. É um nível de customização bastante avançado, considerando a ênfase na história. Mas menciono isso apenas para dizer que vou me referir aqui ao Comandante Shepard como homem, mas ele pode ser uma mulher, se você assim quiser.

A história acontece num futuro não-tão-distante, ano de 2185. Os humanos descobriram uma forma de viajar através das galáxias em portais chamados Mass Relays (algo como Retransmissor de Massa). Assim, eles tiveram acesso a diversos outros planetas e culturas alienígenas, e não foram bem recebidos por todos. Foi formada uma Aliança, uma espécie de Marinha Espacial, à qual pertence o protagonista, Shepard. No primeiro game, Shepard esforçou-se para salvar a galáxia de uma ameaça alienígena (que não vou detalhar aqui, pois vale a pena acompanhar o Genesis e tomar as decisões ali contidas) e foi bem sucedido. Se isso fez os outros povos respeitarem os humanos ou não, isso depende das decisões que o jogador tomou durante a história em quadrinhos interativa.

No início de Mass Effect 2, no entanto, o nosso protagonista morre. Sua nave, a Normandy, é atacada e destruída por uma outra nave desconhecida. Ele flutua no espaço até sufocar. Seu corpo então é resgatado por uma organização chamada Cerberus, que tem como objetivo declarado “proteger a raça humana”, mas na verdade tem fortes tendências à xenofobia, tendo inclusive feito alguns ataques de natureza terrorista a outras espécies. A organização utiliza tecnologia de ponta para trazer Shepard de volta à vida e combater uma nova ameaça: colônias humanas estão sendo atacadas e seus moradores estão desaparecendo. Tudo indica que eles estão sendo sequestrados e que isso tem relação com os Reapers, a tal ameaça que Shepard combateu no jogo anterior. Cabe a ele (e você) recrutar pessoas por toda a galáxia e formar um time competente o bastante para viajar através de um determinado Mass Relay pelo qual ninguém jamais conseguiu passar. E, claro, destruir essa ameaça alienígena.

A premissa é simples. Enquanto joga, você pode perceber que a história do primeiro jogo era mais intrincada, cheia de reviravoltas. Elas existem aqui, mas em menor quantidade, já que Mass Effect 2 é um ponto intermediário entre o primeiro e o terceiro jogos e é mais focado no desenvolvimento dos personagens e do universo do que em revelações bombásticas.

“Não gosto de alienígenas”

Não se preocupe, muitos personagens (humanos ou não) no jogo concordam com você. Os personagens de Mass Effect pertencem a raças diferentes, cada uma com um detalhe interessante.

Todo o esquadrão que é possível recrutar.

Desde os membros da Cerberus, Miranda e Jacob (obviamente humanos) até Grunt, membro de uma raça que se assemelha a dinossauros fortes e com um gosto genético pela violência; passando pela Quarian Tali, que não pode tirar uma roupa protetora para evitar que seu organismo frágil seja destruído por micróbios e a Asari Samara, que é de uma raça unissexual apenas com fêmeas com grande poder biótico (é o equivalente aos poderes mágicos dos RPGs comuns).

Suas peculiaridades não se limitam a suas raças. Cada personagem tem uma motivação e uma missão de lealdade. Nessa missão, você sempre poderá aprender um pouco mais sobre a história do personagem em questão e tomará decisões importantes que irão influenciar o desenvolvimento dele. Elas são side quests, totalmente dispensáveis se você não quiser “perder seu tempo”. Mas elas são, sem dúvidas, algumas das missões mais interessantes, e, caso você opte por não fazê-las, espere por consequências mais para o final do jogo.

Ah, o amor inter-espécies...

O mais interessante é como esses personagens reagem a diferentes decisões tomadas e como você pode desenvolver o relacionamento com cada um deles, podendo até ter relacionamentos amorosos com alguns (vide a foto, em que a versão feminina de Shepard tem um momento de romance com Garrus. Sim, o jogo permite romance entre espécies). Se você gosta de ter uma ideia bem profunda do pano de fundo da história e gosta de conhecer a fundo os personagens dela, você vai querer passar um tempo entre as missões dentro da Normandy conversando com os membros do seu time. Se você não gosta e quer é partir para a ação, fique à vontade. O jogo não te obriga a acompanhar os diálogos.

“Mas eu gosto de RPG”

Ótimo. Mass Effect 2 tem elementos de RPG, mais focados no desenvolvimento do personagem, através de níveis, pontos, habilidades e classes, na customização deles e no poder de decisão.

Diversas escolhas para seu Shepard

Como já foi dito, logo de início você escolhe a classe para seu(a) Shepard. Elas são variadas, partindo do Soldado, com grande poder bélico e uma boa variedade de armas pesadas para usar e indo até o Adepto, que usa os poderes bióticos e tem acesso a poucas armas. Isso ajuda o game a se adaptar ao tipo de jogador que você é. Você é do tipo que gosta de entrar atirando? Escolha o Soldado ou o Vanguarda, que mistura poderes bióticos com armas. Gosta de ser discreto e pegar os inimigos de surpresa? Escolha o Infiltrador, que pode ficar invisível por alguns segundos. Tudo com habilidades que podem ser melhoradas usando pontos que você ganha ao subir de nível.

E diversas escolhas para seus diálogos!

O poder de decisão em Mass Effect é bem amplo. Durante os diálogos, você tem uma roda na parte de baixo da tela, com algumas opções de respostas ou de atitudes que você pode tomar. Essas decisões podem ser voltadas para atos bondosos, altruístas e dignos de um herói ou mais bad ass, como um anti-herói, que não se importa de quebrar alguns ovos para fazer uma omelete. Esse “alinhamento” é medido pelo jogo, que classifica o seu Shepard como Paragon (bondoso) ou Renegade (maldoso). Esses dois alinhamentos permitem também que você use comandos para interromper diálogos, que são oferecidos através de prompts na parte inferior da tela. Além disso, quando você tiver um nível maior de Paragon ou Renegade, o jogo te dá opções dentro do diálogo de Encantar, através de palavras positivas e pensando no fator humano ou Intimidar, que, como o próprio nome diz, trata-se de decisões menos altruístas.

“Mas eu gosto de jogos de ação”

Melhor ainda. O combate de Mass Effect 2 é extremamente variado, de acordo com a sua classe. O jogo conta com um sistema de cover, em que você pode proteger-se atrás de estruturas enquanto seu inimigo atira, e sair para alvejá-lo com suas armas/poderes.

As sequências de combate são empolgantes. Muitos inimigos são inteligentes o suficiente para te cercar, e por isso é importante sempre pensar bem quais membros do seu time você levará para cada missão. Você pode levar mais dois personagens além de Shepard, e cada um deles tem uma classe e poderes específicos.

O jogo também oferece uma grande quantidade de armas e poderes para você escolher. Lança-mísseis, armas que criam buracos negros, que congelam os inimigos, poderes bióticos que fazem os inimigos flutuarem no ar, habilidades envolvendo robótica, como lançar um robô circular que ataca e atrai a atenção dos inimigos para longe dos personagens… enfim, uma infinidade de opções para atacar ou se defender.

Você também tem a opção de usar os ataques corpo-a-corpo de Shepard. Aqui reside o primeiro problema do jogo: eles não são precisos e em diversos momentos, o jogo parece não entender o que você quer fazer. Isso se acentua com um determinado tipo de inimigo recorrente que tem uma certa resistência a balas, mas que te imobiliza se chega muito próximo. Consequência: você fica preso, sem conseguir usar os ataques corpo-a-corpo e suas armas fazem pouco efeito. Não é um problema absurdo, mas prejudica a diversão em alguns momentos.

“Mas eu gosto de jogos de mundo aberto!”

Um universo à sua disposição.

Ótimo! Mass Effect 2 é um jogo de universo aberto. Desde o início do jogo, você tem acesso a uma nave espacial e pode viajar para diferentes sistemas solares dentro da galáxia. Você não poderá pousar em todos os planetas, apenas naqueles que tenham missões ou sejam cidades. Mas você pode explorar cada planeta usando um scanner que te permite localizar minerais. Esses minerais são usados para fazer melhorias na Normandy e nas armas e armaduras dos personagens, o que é essencial para o sucesso da missão de Shepard.

O famigerado minigame de mineração.

Esse sistema de escanear planetas é um minigame sem grandes atrativos. Ele não me incomoda, particularmente, mas é uma tarefa bastante repetitiva e sem muita diferenciação. Esse é o segundo ponto em que Mass Effect 2 fraqueja um pouco, mas também não é um problema absurdo, sendo muito menos irritante do que a questão do combate corpo-a-corpo.

De qualquer maneira, além dos muitos e muitos planetas para explorar, cada um com um detalhado “artigo”. Esses artigos contêm informações das mais diversas sobre os planetas e são compilados num Codex. Prato cheio para aqueles que, como eu, gostam de admirar a criatividade e esforço postos num jogo.

E, sim, temos side quests! Muitas. Nenhuma delas, no entanto, parece forçada ou aleatória. Algumas são enviadas a Shepard por e-mail, outras você recebe durante as muitas perambulações espaciais, e outras você encontrará por acaso escaneando planetas. Muitas dessas missões servem apenas para ganhar pontos, subir de nível e conseguir armas. Outras têm grande impacto na história e oferecem escolhas ao jogador. Por exemplo: numa side quest, você escolhe entre salvar uma zona residencial ou uma zona industrial numa colônia humana. Se você salvar a zona residencial, a colônia terá de ser evacuada e todos perderão as casas. Se salvar a industrial, eles morrerão, mas a colônia pode ser repovoada posteriormente. Saber que essas decisões terão impacto no terceiro jogo dão a elas um peso muito maior.

“Isso é um port? Não tem bugs?”

Chegamos a um ponto delicado no jogo. De certa forma, sim, Mass Effect 2 é um port. Ele foi feito para o Xbox 360 e PC. As três versões têm bugs, alguns já corrigidos através de patches, outros ainda gritantes e irritantes.

O maior problema durante todo o tempo que eu joguei (mais de 100 horas) foram travamentos. É um problema relatado por vários jogadores, que já foi supostamente corrigido através de patches, mas persistiu durante todo o tempo que passei jogando. Não é uma coisa constante e, na verdade, aconteceu poucas vezes, mas é o tipo de coisa que simplesmente não deveria existir num jogo desse tipo.

O outro problema são os loadings. São bastante longos e muitos travamentos acontecem justamente após um período longo carregando um estágio. Esse tempo longo esperando um elevador chegar ao seu destino ou esperando Shepard e seu time voltarem à Normandy após uma missão quebram um pouco o ritmo do jogo e da história, e podem irritar um jogador acostumado com a rapidez de outros títulos.

Por último, durante algumas cutscenes, o som se desencontra da imagem. Por exemplo: um personagem dispara uma arma, mas o som só pode ser ouvido depois. Isso ocorre com uma frequência maior do que deveria e também quebra a imersão. Muitas cenas são bem empolgantes, mas esse erro acaba tirando o impacto delas.

Loading... Loading... Loading...

Dito isso, esses defeitos não estragam o pacote. Sim, ocorrem travamentos, mas o jogo tem um sistema de Auto Save excelente e permite a você salvar a qualquer momento, exceto dentro de missões. Os loadings são lentos, mas enquanto você espera, o jogo te dá sempre uma dica na parte inferior da tela e mostra uma animação muito bem feita do que está acontecendo naquele momento, seja a Normandy pegando a nave de Shepard saindo do planeta e preparando a pressurização ou o elevador subindo os andares de um prédio.

“Ok, o que mais tem de bom?”

Como já foi dito, Mass Effect 2 no PS3 usa a engine gráfica de Mass Effect 3. Portanto, ele é visualmente lindo. Os personagens são bem detalhados, com rostos realistas (especialmente os alienígenas, que ganham níveis de detalhe impressionantes, como os desenhos na roupa protetora de Tali ou a textura da pele das Asari). Os ambientes têm texturas bonitas (exceto por um ou outro pixel visível) e a iluminação tem efeitos de cair o queixo. Até os menus são bonitos de se ver, e refletem o clima “tecnológico”.

Para completar, a dublagem do jogo é absolutamente incrível. Contando com atores famosos como Seth Green (dublador do Chris em Family Guy), Yvonne Strahovski (a loira bonitona da série Chuck), Tricia Helfer (a Cylon mais linda de Battlestar Galactica - e eu sugiro que qualquer um que goste de Mass Effect assista a essa série), Carrie-Anne Moss (a Trinity, de Matrix) e outros dubladores conhecidos por outros jogos, como Jennifer Hale, que dubla a Shepard na versão feminina e trabalhou na franquia Metal Gear Solid. O roteiro aproveita esses talentos com diálogos bem interessantes, melhorados pela liberdade que o jogo oferece para guiá-los.

E, por último, mas muito importante: é muito difícil não querer jogar uma segunda vez. Primeiro que fica aquela curiosidade para saber como o jogo seria jogando com um Shepard do outro sexo. Além disso, você pode escolher outra classe e tomar decisões diferentes para ver o impacto que elas têm durante a história. Fazendo um novo personagem você, inclusive, recebe bônus em pontos e habilidades. Esse aspecto do jogo é, além de encantador, envolvente. Nem todos gostam de ver cada possível desdobramento das decisões tomadas ali, é verdade. De qualquer maneira, é sempre bom saber que aquele jogo pelo qual você paga caro pode te render entre 60 e 70 horas de jogo (o dobro se jogar duas vezes, ou o quádruplo, se for como eu) e ainda vai te dar a chance de continuar a história que você ajudou a escrever num terceiro título. Mas, é claro, se você prefere aproveitar as sequências de ação e correr para o final do jogo, você pode fazer isso em cerca de 20 horas. Saiba, no entanto, que Mass Effect 2 não premia (e de certa forma pune) jogadores apressados, já que o foco principal da trama é preparar seu time e sua nave para uma missão suicida.

Prós

  • A história, o universo e os personagens extremamente envolventes e bem trabalhados. Os mínimos detalhes foram pensados.
  • Gráficos e som (dublagem, efeitos e trilha sonora) incríveis.
  • Customização e liberdade de escolha a um nível astronômico (piadinhas à parte).
  • Fator replay enorme: você vai se sentir obrigado a jogar novamente.
  • Importação das escolhas para o próximo jogo da série.
  • O jogo tem elementos para agradar desde o nerd fanático por Star Trek até o que adora headshots em jogos de tiro.

Contras

  • Combate corpo-a-corpo fraco e com problemas irritantes.
  • Travamentos ocorrem raramente, mas simplesmente não deveriam acontecer.
  • Loadings bastante longos e frequentes.
  • Bugs nas cutscenes em que o som parece atrasado.
  • Minigame de mineração de planetas é monótono e pode irritar alguns jogadores.

Mass Effect 2 – Playstation 3 – Nota final: 9.5
Gráficos: 10.0 | Som: 9.5 | Jogabilidade: 9.0 | Diversão: 10.0

Revisão: Jorge Gutierre


Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

Comentários

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  1. muito boa a análise! não sou nada fã de shooters, mas fiquei curiosa em função dos elementos de RPG, que eu imaginava que eram muito mais superficiais e subdesenvolvidos do que realmente são. bom saber!

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