Discussão

Discussão – Pirataria, e eu com isso?

Esta discussão tem como objetivo informar sobre como funcionam os artifícios da pirataria e como ela afeta cada estágio da cadeia de produ... (por Unknown em 19/04/2012, via PlayStation Blast)

Esta discussão tem como objetivo informar sobre como funcionam os artifícios da pirataria e como ela afeta cada estágio da cadeia de produção de games, do diretor ao cara que vende jogos aí na esquina da sua rua há mais de 15 anos. Eu não vou ser hipócrita de dizer que a escolha é sua, mas é impossível uma pessoa não saber que, se ela compra um produto pirata, está prejudicando toda uma cadeia de desenvolvedores e trabalhadores que dependem daquela indústria. Esta discussão também tem como objetivo debater opiniões diferentes e, principalmente, informar o leitor sobre as consequências dos seus atos.

Como tudo começou?

O termo “pirataria” remete ao século XIV, quando assaltantes abordavam navios em alto-mar e capturavam-nos para poderem roubar e contrabandear suas cargas. Com isso, fica bem claro que, desde o seu início, a prática entra em conflito com a lei. Em relação à tecnologia, a pirataria começou a se disseminar por meio da gravação e da venda de fitas cassete com cópias de músicas e, mais tarde, de filmes. Não tardaria muito a chegar aos videogames, mercado sempre em ascensão.

Na família PlayStation, a pirataria sempre agiu de maneira pesada. Quem não se
lembra de quando voltava da escola e via o camelô com a famosa promoção “trêis game por dé real”?

O desbloqueio do PS1, assim como do PS2, é feito por meio da instalação de um Modchip, um circuito integrado com uma função específica. Aqui está o famoso chip Matrix Infinity, que fez a felicidade de muitos donos de PS2 por aí :

E é por causa desse componente que você pode rodar jogos, homebrews, ISOs e até a baiana, se você quiser! Explicando de uma maneira simples: cada jogo original que você compra tem um número de série embutido dentro do código dele, e esse código é único para cada cópia do jogo. Quando você o insere dentro do seu console e liga, aparece sempre a inicialização com o logo do console e, logo após isso, esse código é verificado para saber se a mídia que está rodando é oficial ou não. Quando você simplesmente baixa o jogo e o grava em um CD, esse código não é gerado. É aí que esse tal Modchip entra em ação: ele faz com que o console “pule” essa parte de verificação e faça a leitura da mídia.

No PS3, a história é bem mais complicada, pois a Sony já projetou o console com o intuito de barrar a pirataria. Ela conseguiu isso por um bom tempo, pois demorou mais de quatro anos para a comunidade hacker encontrar uma maneira de desbloquear o console. Para isso, é necessário o uso de um hardware extra, feito exclusivamente com a finalidade de burlar o sistema. O processo é complicado e foge do escopo deste texto explicar seu funcionamento nos mínimos detalhes; basta saber que, com isso, foi possível rodar jogos que estavam armazenados em um HD externo, mas por um alto preço: uma vez desbloqueado, você perde seu acesso à PSN. Pois é, o embate entre a Sony e o hacker GeoHotz deu muito o que falar…

Impostos: a eterna desculpa dos pirateiros

Ah, os impostos... Como não poderia deixar de ser na sociedade brasileira, eles nos afetam mais uma vez. É uma grande verdade dizer que os impostos pioram, e muito, a questão da pirataria no Brasil, mas dizer que isso é a causa seria inocência de nossa parte.

Para entender melhor como funciona: se, no exterior, um jogo é lançado a US$ 50, como justificar que ele sai por aqui a módicos R$ 199? Impostos, é claro. Para se ter uma ideia, para trazer um videogame fabricado no exterior e lançá-lo oficialmente aqui, a empresa tem de pagar:

– 20% de imposto de importação, pago simplesmente porque ele não é fabricado
por aqui. Essa é uma medida claramente protecionista, com intuito de forçar o consumidor a comprar produtos nacionais.

– 1,65% de PIS (Programa de Integração Social). É um imposto que tem o objetivo de ajudar a arcar com os custos de seguro-desemprego dos funcionários.

– 7,60% de Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social).
Esse vai para a caixa do Governo, para ajudar a bancar os salários dos funcionários.

– 50% de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Ele existe apenas porque
um produto é industrializado, ou seja, seu objetivo é simplesmente arrecadar
dinheiro!

– 25% de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Enquanto
os outros impostos eram do governo federal, esse vai para os cofres do estado,
sendo que ele varia entre cada um.

E ainda faltam contar os custos de transporte com navios, compra de contêineres, e tudo o mais. Vale lembrar que essas porcentagens são aplicadas diretamente ao preço do produto importado, multiplicado pela taxa de câmbio. Acompanhe as contas comigo: você paga 100% do preço do produto, mais 104,25% só de impostos! Mas já existem movimentações sendo feitas para mudar um pouco essa situação. A AciGames (Associação Comercial, Industrial e Cultural de Games), por exemplo,  inaugurou um projeto chamado Jogo Justo, que tem o objetivo de produzir um relatório sobre o mercado de games e seu potencial no país e apresentá-lo à bancada federal. Será encaminhada, também, uma proposta de redução de impostos, que, se aprovada, reduzirá o valor de jogos que custariam R$ 250 para R$ 100!

Vale ressaltar que não é só de cópias ilegais que sobrevive a pirataria. E é aqui que entra o “mercado cinza”, o mercado do contrabando. A prática nada mais é do que comprar videogames no exterior e não declará-los na alfândega.

A indústria contra-ataca

É lógico que mais cedo ou mais tarde as desenvolvedoras iriam pensar em uma maneira de estancar essa perda gigantesca de dinheiro. Algumas foram boas medidas, outras, nem tanto. A maneira mais recente, aparentemente, foi a explosão das DLCs que vem atingindo os gamers. Com a desculpa de que cada vez mais pessoas têm acesso à internet, as empresas lançam conteúdo para download, desde músicas para Guitar Hero até personagens novos para Street Fighter, para a tristeza de alguns fãs e para a alegria de outros. Outra medida que foi ganhando popularidade foi o lançamento das edições de colecionador; afinal, quem não ficaria feliz em pagar um pouquinho mais na sua cópia de Street Fighter x Tekken só para ter um controle personalizado do Ryu?

Mas, com certeza, a ideia que mais deu certo foi a inauguração do Steam, um  programa desenvolvio pela Valve, a produtora de Counter Strike, para gerenciar as contas on-line do usuário. Com ela, você pode criar uma conta e baixar jogos pagando bem menos do que se fosse comprar a mídia física, pois são eliminados diversos custos com transporte e impressão de manuais. Com cerca de 30 milhões de usuários pelo mundo, a plataforma se tornou praticamente uma rede social, pois você pode ver em qual servidor seus amigos estão jogando e tudo o mais.

E o meu Brasil varonil?

Enquanto os gamers do exterior reclamam dos preços caros ou da falta de determinado game na GameStop, aqui o buraco é mais embaixo. Além do já citado problema dos impostos, aqui contamos com problemas de logística mesmo, pois os custos de transporte em território nacional são realmente altos em consequência da precária situação de nossas estradas. Outro problema é que lá existe muito mais suporte ao consumidor, visto que é muito fácil comprar on-line em lojas de grande alcance, como a Amazon. Se você prefere sair de casa e ir para a loja, sem problemas; é bem provável que você esteja bem perto de uma GameStop, uma das principais distribuidoras de jogos do mercado mundial.

Aqui no Brasil não existe algo mais centralizado. O trabalho fica por conta das
empresas que localizam o jogo, ou seja, adquirem os direitos de distribuição em
nossa pátria e traduzem ou adaptam o jogo pra cá. Por isso, é muito comum
encontrar o mesmo jogo com preços bem diferentes ao se rodar em algumas
lojas. Compras on-line são um suplício, pois a maneira mais viável é com o uso de cartão de crédito internacional. A falta de suporte a clubes de fidelidade, como a Club N, e de funcionalidades da PSN só agrava a situação.

Analisando um pouco mais a fundo a situação da Sony no Brasil, podemos
perceber que a pirataria sempre andou rodeando a empresa. Afinal, não há como negar que o custo baixo para desbloquear um PS1 (na época, era possível desbloqueá-lo por cerca de R$ 100), aliado a uma biblioteca gigantesca de jogos
sendo vendidos a preços muito baixos, foram a cena perfeita para o console ser
muito popular no país. Mesmo se você for um nintendista inveterado, você tem de admitir que o PS1 era muito mais popular do que o N64, certo?

Quando o PS2 foi lançado, a situação era ainda melhor para os pirateiros: havia
uma grande base de consumidores satisfeitos com o PS1 e, além do mais, o
desbloqueio saiu logo após o lançamento do console. O sucesso foi tamanho que surgiram muitas versões hackeadas de jogos famosos, sendo muito populares por aqui os mod’s de Pro Evolution Soccer, conhecidos como Bomba Patch, e os Guitar Hero Brazucas :

Entretanto, as coisas não foram tão bem assim para o PS3. Como os preços praticados pela Sony no lançamento do console eram muito altos em relação à concorrência, aliado ao fato de ele ter sido lançado bem depois do Xbox 360 e do Wii, era de se esperar que ele não vendesse tanto após seu lançamento.

Como remediar a situação, afinal?

Para resolver essa situação, não basta apenas tentar atingir um problema só, até porque vimos que a pirataria é fruto de um conjunto de fatores. A primeira medida óbvia é a diminuição dos impostos, mas não tem jeito: a solução final será apenas uma – e você já sabia disso antes de começar a ler este texto: parar de comprar jogos piratas. Essa é a melhor medida que você pode tomar para ajudar a desenvolvedora que tanto ama.

Quanto às produtoras, as estratégias devem ser mais abrangentes para
englobarem todos os gamers. Lançar um game simultaneamente no maior número de territórios possível; pois, onde o game não chega, a internet alcança – bem mais rápido. Se um jogo foi lançado na Europa e você o quiser muito, é provável que faça o download dele, ou o importe, rezando para não cair na alfândega. Se ele chegar a ser localizado no Brasil, dificilmente você vai comprá-lo novamente, certo? Você não vai querer gastar dinheiro novamente, ou então já terá zerado o jogo até lá.

Outra medida possível seria as empresas baixarem um pouco a margem de lucro
sobre os produtos, principalmente sobre os consoles. Isso vale especialmente para a Sony; afinal, é consenso geral que os preços praticados por ela são absurdos.

O que esperar do futuro?

Nunca se discutiu tanto sobre pirataria como nesses últimos anos, mas não resta dúvida que o assunto ainda vai render muito, principalmente com os rumores de que a nova geração de consoles não rodará jogos de segunda mão.

Nós aqui da Blast queremos saber: qual é a sua opinião sobre a pirataria? Se a utiliza, com qual frequência costuma comprar seus jogos? Se pudesse comprar somente jogos originais, você o faria?

Sinta-se totalmente livre para expressar sua opinião e comentar sobre a dos outros – só tome cuidado para não ofender quem tem opinião diferente da sua, afinal, estamos aqui para informar e conversar, não para polemizar um assunto tão impactante, certo?

Revisão: Felipe Biavo


Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

Comentários

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  1. Pra quem tem cartão internacional,vale apena comprar jogos de Xbox 360 no ebay.Jogos usados e também uma boa alternativa.Eu tenho um ps2 desbloqueado.As vezes e melhor pois tem muitos jogos hackados que são bons:GHBR(em guitar hero 2 com musicas do rock band 1 e de download),GTA Sonic e também emuladores como SNES,NES,Mega Drive,etc.E tive um Polystation,videogame parecido com ps1 que roda jogos de NES.

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