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Análise: Catherine (PS3)

Muitos jogadores criticam a geração atual de videogames pela grande quantidade de shooters genéricos. Criou-se até um nome para isso: “gera... (por Unknown em 17/10/2012, via PlayStation Blast)

2b7d6ca75024ee3d95e8780839832e81[1]Muitos jogadores criticam a geração atual de videogames pela grande quantidade de shooters genéricos. Criou-se até um nome para isso: “geração Call of Duty”. Seja verdade ou não, existem alguns jogos que se destacam por sua originalidade e estranheza, fugindo completamente do estilo mais “convencional”. Catherine é um exemplo brilhante de como uma história bem contada somada a um estilo único faz toda a diferença e pode sim ser bem sucedido comercialmente. Empurre esses blocos, beba alguma coisa e aproveite nossa análise.

Lançado originalmente no Japão em fevereiro de 2011, o jogo chamou a atenção pelo conteúdo provocante e pelo estilo único de seus puzzles. Ele chegou ao Ocidente em julho de 2011, com um sucesso inesperado. Catherine foi desenvolvido pelo mesmo time de Persona, trazendo algumas semelhanças com a série, incluindo a ambientação moderna, passando pelos figurinos dos personagens e chegando aos elementos sobrenaturais da história. Isso sem contar o sistema de relacionamento entre os personagens, implantado de maneira brilhante.

Vincent%25255B1%25255D[1]Katherine amava Vincent, que amava…

O protagonista do jogo se chama Vincent Brooks, um cara que chegou aos trinta anos de uma forma um tanto decepcionante. Ele tem um trabalho meia-boca, um apartamento pequeno que vive imundo e uma namorada de longa data, chamada Katherine, que vive tentando fazê-lo crescer um pouco, sem sucesso. Ele se diz feliz com as coisas como estão, e isso inclui sair toda noite para beber com os amigos.

Mas como todo status quo está aí para ser quebrado, de repente Vincent começa a ter pesadelos em que ele precisa escalar uma torre de blocos, além de encontrar-se com ovelhas que falam e tentam escalar a mesma torre. Cair da torre significa a morte na vida real. Simultaneamente a isso, ele conhece uma garota chamada Catherine. Ela é a mulher de seus sonhos, e após uma bebedeira, Vincent acorda com ela deitada ao seu lado.

Esse é o ponto de partida para Vincent e para nós como jogadores. Na verdade, é seguro dizer que a linha entre o que é o protagonista e o que é o jogador é muito tênue. Catherine é uma daquelas obras de arte (sim, tratarei como obra de arte) que são capazes de nos levar para a pele do protagonista, e ao final é impossível não descobrir um pouco sobre si mesmo. O jogo alcança essa façanha através dos numerosos diálogos ao longo da trama. Em diversas situações, o jogador precisa responder a perguntas feitas por uma entidade dentro dos sonhos. Essas perguntas costumam ser ligadas a relacionamentos, como: “Você deixaria seu parceiro ver todo o conteúdo do seu celular?”, e elas sempre têm duas respostas. Responder faz com que um medidor de “Ordem” e “Caos” se mova para um lado ou para outro, moldando a personalidade do protagonista e influenciando no final.

Ovelha perdida

Catherine é dividido em dois “segmentos”: os sonhos e a vida social de Vincent. Falarei mais sobre os sonhos a seguir. Os segmentos sociais acontecem no bar que Vincent frequenta, chamado Stray Sheep. Ele se reúne lá todas as noites com seus amigos Toby, Jonny e Orlando.

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É nessas partes que temos a maioria dos diálogos, alguns contendo as decisões e alterando o medidor moral. Além disso, Vincent recebe SMS de Katherine e Catherine, e é possível responder da forma que quisermos, através de opções predeterminadas. Essas interações sociais são realmente incríveis e mostram a alma do jogo. Adicionalmente, o bar recebe outros clientes, com quem Vincent pode conversar. Aos poucos, o jogador pode perceber que quase todos eles estão presentes também nos sonhos, e através das conversas (tanto nos sonhos quanto no bar) é possível salvá-los da morte, encorajando cada um. Um método inteligente de implementar side quests.

Ah, sim! No bar, Vincent também pode beber (existe um comando no controle só para isso), e finalizando um copo, o jogador tem acesso a uma curiosidade sobre a bebida escolhida. Ainda no Stray Sheep, há um fliperama com o jogo Rapunzel, que o jogador pode jogar até o fim, e uma jukebox com músicas que são desbloqueadas no decorrer do jogo (incluindo algumas de Persona).

Fora do Stray Sheep, enquanto ele está acordado, vemos Vincent indo ao trabalho, encontrando-se com Katherine num café e em seu apartamento, mas somente em cutscenes.

Empurrando blocos

Quando Vincent cai no sono é que a ação do jogo acontece. O protagonista é transportado para uma torre com oito partes, cada uma com um número de andares e um chefe no final. Para subir, é preciso empurrar e puxar blocos, criando escadas e plataformas para superar os obstáculos. Existem diversos tipos de blocos, incluindo alguns que Vincent não pode puxar ou empurrar, outros que o fazem escorregar e até alguns que explodem. Caso o jogador erre um movimento, existe uma forma de desfazer (que conta com uma voz sexy dizendo “Undo”) e sempre há checkpoints no decorrer da torre. É difícil de explicar em palavras, então confira este vídeo abaixo (e não se preocupe: é o primeiro desafio no jogo, um tutorial).

Os puzzles são difíceis mesmo com o nível mais baixo de dificuldade, mas a curva de aprendizado é boa: você não terá de fazer nada mirabolante até chegar mais ou menos na metade da torre. De qualquer maneira, o jogo está bem acima do nível de dificuldade da geração atual, que facilita ao máximo a vida do jogador. O desafio é bem-vindo, e mesmo sendo um pouco punitivo, até mesmo essa faceta do jogo faz sentido dentro da história.

Entre cada andar da torre, Vincent chega a um landing, um trecho plano onde o protagonista pode conversar com as outras ovelhas e perceber o paralelo com os personagens do bar. Além disso, é possível salvar o jogo e comprar itens para facilitar a subida do próximo trecho. Para seguir adiante, basta entrar num confessionário e responder uma pergunta feita por uma voz sobrenatural, daquele estilo que mencionei anteriormente.

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Ao final de cada andar, é necessário enfrentar um chefe. É sempre um monstro com alguma relação com o momento atual da história e os medos de Vincent que o persegue até o topo da torre, aumentando a dificuldade, já que alguns chefes destróem blocos, atacam Vincent ou até transformam blocos normais em blocos especiais.

Quase um anime

O visual de Catherine não é apenas único, mas é também apaixonante. Num estilo anime, temos as cutscenes. Mas o interessante mesmo são os gráficos in-game. O jeito desenhado das formas, as cores e o movimento dos personagens já seria o suficiente para tornar esse aspecto de Catherine incrível, mas foi tudo tão bem feito que o resultado é superior a muitos jogos que se auto-proclamam a última maravilha gráfica. Exemplo: cabelos se movem, copos são esvaziados em tempo real, a expressão no rosto dos personagens muda… são pequenos detalhes que mostram um nível de qualidade impressionante.

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Mas aí temos o lado ruim da semelhança com um anime: a dublagem. Embora a maioria dos dubladores seja excelente (incluindo Vincent, Katherine e a voz sobrenatural do confessionário, além da voz do “Undo” e o narrador), outros são irritantes, principalmente a dubladora de Catherine. Ok, a personagem em si é uma fantasia bem japonesa, mas a voz meio infantil que às vezes fala quase gritando é uma distração. Alguns efeitos de som também caem nesse aspecto ridículo, enquanto outros são deliciosos de se ouvir (especialmente os que estão ligados aos sonhos). Ou seja: o som do jogo é um caso clássico de acertos perfeitos e erros fatais.

ts[1]Algumas ressalvas

Talvez a maior fraqueza de Catherine esteja em não ser um jogo muito abrangente. Primeiro: jogadores que não gostam de diálogos e do foco na história devem passar longe do título. Segundo: o conteúdo adulto do jogo (e nem falo de conteúdo sexual, já que não há sequer uma cena de sexo em Catherine – falo mesmo dos dramas dos personagens e das referências psicológicas, um tanto fortes para um menor de idade). Terceiro, e mais importante: o jogo é feito para homens. Vincent não é apenas um protagonista homem, ele é todo planejado para espelhar o jogador. Qualquer mulher jogando Catherine não vai se conectar de forma eficiente à história, já que o universo do jogo é todo moldado ao redor do universo masculino.

Felizmente, nenhum dos três limitadores se aplicou a mim e o jogo me conquistou de forma muito eficiente. Até demais, eu diria: terminei o jogo em poucos dias, e quando ia dormir ficava vendo os blocos se movendo. Desnecessário dizer que estou pronto para jogar novamente.

Prós

  • Visual único e encantador;
  • História e interações sociais são uma verdadeira maravilha dos games modernos;
  • Capacidade de imersão;
  • A esquisitice do jogo é um fator positivo.

Contras

  • Dublagem e efeitos sonoros têm momentos excelentes e péssimos;
  • O jogo possui um público bastante limitado.

Catherine – PlayStation 3 – Nota Final: 9.5

Visual: 10.0 | Som: 8.0 | Jogabilidade: 9.0 | Diversão: 10.0

Revisão: Alberto Canen


Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

Comentários

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  1. Parabéns pela análise! Falam tanto deste jogo ("podcasters" e sites especializados) que tive que encomendar. Havia jogado a demo na PSN, mas não tinha me agradado. Gosto muito da narrativa dos jogos e, pelo que disseram nesta análise, vai ser uma boa experiência.

    Bom trabalho!

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