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Análise: Além do horizonte, existe um lugar... em BioShock Infinite (PS3)

Poucas empresas podem se dar ao luxo de ter visionários em sua equipe. Há seis anos, o gênero FPS foi revigorado com um jogo produzido po... (por Unknown em 14/04/2013, via PlayStation Blast)


Poucas empresas podem se dar ao luxo de ter visionários em sua equipe. Há seis anos, o gênero FPS foi revigorado com um jogo produzido por Ken Levine que chamou atenção pela sua excêntrica mecânica e história espetacular e brilhante. Agora, temos uma sequência digna, que expande a mitologia e se reinventa, saindo de sua zona de conforto e assumindo riscos.

A cidade além do horizonte!

Você é Booker DeWitt, um veterano de guerra afundado em dívidas que recebe uma proposta irrecusável: traga a garota e sua dívida será zerada. Para isso, ele deve ascender até Columbia, uma cidade utópica nas nuvens, governada pelo Profeta Zachary Comstock e localizar Elizabeth de qualquer maneira. Porém, é mais fácil dizer do que fazer, pois a situação fica fora de controle e ele deve evitar hordas e hordas dos seguidores do Profeta a fim de cumprir o seu objetivo.

A cidade que serve de pano de fundo é extremamente rica e diversa. No momento que você põe os pés, a cidade enche os olhos, de tão colorida e cheia de vida que ela é. Diferentemente do primeiro e segundo BioShock, você desembarca quando a cidade ainda está repleta de habitantes, em toda sua glória. Isso permite que você a conheça melhor e veja a transformação de um céu na terra para um inferno.

Bem-vindo a Columbia
A cidade é conectada por trilhos que podem ser acessadas utilizando o Skyhook, que serve como uma espécie de gancho, facilitando assim a transição entre as diversas áreas da cidade. Mas isso não quer dizer que você passará muito tempo pendurado, pois há bastante chão para ser andado e descoberto.

A história de Columbia e do jogo é contada através de Voxophones (aparelhos de gravação com os pensamentos de diversos habitantes) espalhadas pela cidade e Kinestoscopes (pequenas filmagens de propaganda), ampliando a história de fundo e dando "dicas" sobre o arco geral do jogo.

Columbia não é aquele paraíso que parece ser. Há inúmeros temas que permeiam o jogo, como sexismo, racismo, escravidão e religião. São temas que são expostos de forma bruta e direta, mostrando que nem mesmo o "paraíso" é perfeito. Aqui, não há "bom" ou "ruim", mas sim personagens de moralidade questionável. Saem os finais múltiplos dos primeiros jogos da série para um final único, que é conduzido pelas escolhas morais das personagens da história, não do jogador.

Utopia para poucos
Assim, temos dentre eles a revolucionária Daisy Fitzroy, que luta contra o status quo da sociedade e que defende reformas, mesmo que por meio de armas. Há também Jerimiah Fink, um capitalista degenerado que explora a população mais pobre, colocando-os em condições desumanas a fim de aumentar seu lucro. Por fim, mas não menos importante, temos Cornelius Slate, um veterano de guerra que se opõe ao Profeta, discordando de suas atitudes e o meio como conduz Columbia.

Um dos pontos fracos de Columbia é que você anda de forma linear por ela, desviando pouco do seu caminho. E mesmo para aqueles que possam se perder, há um sistema de navegação que aponta para onde você deve ir. O lado positivo é que você acaba por ver toda a glória da cidade, com vistas magníficas.


Minha querida Elizabeth


A evolução dos NPCs companheiros dos jogadores chega a um novo ápice com a adição de Elizabeth, a donzela que deve ser salva. Logo após DeWitt resgatá-la e tirá-la de sua "prisão", ela passa a ser uma companhia valiosa, provendo munição e energia durante as batalhas, nunca atrapalhando durante o combate. Mas não é só isso, ela possui uma I.A. diferente, programada especificamente para esse jogo.

Ela analisa o cenário, aproveita o ar puro e encontra graça nas pequenas coisas da cidade, se divertindo com tudo aquilo que lhe fora privado desde sua infância. Apesar de sua idade, sua ingenuidade é cativante, como a de uma criança vendo o mundo pela primeira vez.

Elizabeth se divertindo pela cidade
Essa dinâmica com DeWitt é tão natural que se torna um dos grandes alicerces do jogo. O diretor, Ken Levine, fez questão que os dubladores não só dessem opinião sobre a história, mas também ajudassem na construção das personagens, tornando as conversações mais fluídas. Se você jogar prestando atenção nela, ficará encantado por todo seu charme e beleza. Senão, dependerá apenas do que a história e o jogo apresentam para conhecê-la. Coisas como uma das cenas em que ela canta enquanto DeWitt toca violão são tão pequenas mas que, no grande arco do jogo, são inteiramente relevantes.



Há também de se destacar a presença do Songbird, o carcereiro de Elizabeth com o qual ela tem uma relação de amor e ódio. O relacionamento entre ambos é conturbado e simula aquele que existia entre os Big Daddies e Little Sisters. Porém, aqui ele é um mero coadjuvante, surgindo apenas para aumentar a dramaticidade e aparecer nos momentos de tensão. É um papel pequeno comparado aos Big Daddies, mas que deverá ser expandido nos próximos DLCs, explicando sua origem e motivações.

No fim, todas essas reações e emoções a fazem mais humana que o próprio jogador, cuja motivação é apenas seguir em frente, matando quem apareça para cumprir seu objetivo, contrastando com a dela, que vê beleza nas pequenas coisas e se sente culpada por tudo o que acontece. Por esses motivos que Elizabeth chama a atenção e eleva o patamar de IAs que acompanharão os jogadores em outros games daqui para frente.

Choverá fogo sobre os homens

A mecânica do jogo continua similar aos anteriores da série. Você controla sua arma (no máximo duas por vez) com o gatilho da direita e os Vigors (poderes similares aos Plasmids dos anteriores) com o esquerdo. Se antes o foco era nos Plasmids, aqui os Vigors servem apenas como mecânica de jogo, não tendo um destaque tão grande na história.

Essa jogabilidade já conhecida pelos fãs foi polida e refinada. As batalhas são desafiadoras, exigindo estratégia e paciência. Além de sua energia, você possui um escudo que se regenerará com o tempo, permitindo a você sair de cena por alguns instantes e repensar sua estratégia enquanto espera que ele se recomponha.

Use armas e Vigors para se defender
O único problema dessa abordagem é que o jogo coloca hordas e hordas de inimigos em sua frente para se sobrepor ao seu escudo. Se no BioShock original havia poucos inimigos e a estratégia era exigida a cada batalha, aqui você deve se expor e atacar, sempre recuando para regenerar seu escudo. Formas de jogar diferentes, com um tendo enfoque na ação e outro na estratégia, o que não chega a ser um problema, mas é algo digno de nota. Outro ponto é ausência de quebra-cabeças, mais uma vez enfocando na ação, sem quebras de ritmo.

A evolução continua a mesma, com você juntando dinheiro dos espólios de seus inimigos e comprando os upgrades das máquinas de venda. E aqui está mais um ponto forte, já que é impossível adquirir todas as evoluções, pois nunca há dinheiro suficiente, mesmo explorando tudo. Isso o força a priorizar certos Vigors e armas em detrimento de outros. Há ainda o modo 1999, que é o nível de dificuldade mais alto e que possui um troféu que é terminá-lo sem comprar nada das máquinas. Com certeza, um desafio e tanto para aqueles que desejam platinar o jogo.

Tire as mãos da minha Elizabeth!
Outro ponto interessante é a ausência do modo multiplayer. Enquanto o segundo jogo da franquia teve um modo multiplayer que foi até bem recebido, o mesmo foi cortado dessa sequência para dar um maior enfoque à história singleplayer. Aliado a isso, temos também o fato que o segundo jogo foi desenvolvido por uma equipe diferente do game original e de Infinite, assim justificando a ausência do modo multiplayer nessa sequência. Essa remoção foi uma decisão acertada, pois pôde trazer uma história mais rica e completa no fim das contas.

Uma história infinita

Bioshock Infinite é a prova que mesmo uma franquia já estabelecida pode ousar, seja na história, seja ambientação. Sua história singular adiciona à franquia uma mitologia única, que promete ser expandida por meio de novos DLCs e, possivelmente, por novas sequências. A atenção aos detalhes é evidente e, mesmo com pequenos aqui e ali fora de foco, é um excelente jogo.

Se você não jogou, corra e termine antes que contem o final. Não deixe que alguém arruíne a sua experiência, pois o encerramento é altamente satisfatório, como há muito não temos visto na indústria de jogos.
Infinitas possibilidades

Prós

  • Ambientação incrível;
  • Combate envolvente e diversificado;
  • História de cair o queixo, que adiciona mitologia à franquia;
  • Elizabeth leva as personagens que acompanham os jogadores a um novo patamar;
  • Trilha sonora excepcional, que traz significado dentro da história;
  • Remoção do modo multiplayer, focando na história.

Contras

  • Jogo bastante linear;
  • Carregamentos constantes dentro de fases;
  • Violência demonstrada não é para todos;
  • Alguns elementos vistos nos trailers não chegaram à versão final.
BioShock Infinite - PS3 - Nota: 9.5
Veja também nossa análise para PC. E também não deixe de conferir uma segunda versão dessa análise na 11ª edição da Revista PlayStation Blast, que será lançada até o fim desse mês

 Revisão: Ramon Oliveira de Souza
Capa: Daniel Silva




Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

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