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Análise: FEZ é o puzzle que estávamos esperando no PlayStation 4

Um dos mais aclamados jogos indies dos últimos anos finalmente chega à família PlayStation!


Quando lançado em 2012, FEZ foi uma das maiores sensações da indústria. O puzzle desenvolvido pela pequena Polytron Corporation era visto como algo tão genial que chegou a receber prêmios de jogo do ano de portais renomados, como o Eurogamer. Após o fim do contrato de exclusividade da desenvolvedora com a Microsoft, jogadores de todo o mundo que não possuíam um Xbox 360 ficaram ansiosos pela chegada do título a outras plataformas, seja em seus consoles ou até mesmo no PC. Os computadores receberam o título sem muitas delongas, mas só agora, quase dois anos depois da primeira versão do jogo, é que os consoles da Sony estão tendo o privilégio de possuir o título em sua biblioteca. Porém, mesmo com a demora, o jogo é uma adição e tanto!


Choque dimensional

FEZ conta a história de Gomez, um ser que vivia uma vida pacata em seu vilarejo até que um gigantesco hexaedro dourado ‒ que aparentemente mantinha a coerência de todo aquele universo – se divide em 32 cubos que se espalham por todo o mundo. Neste mesmo momento, Gomez recebe um chapéu que lhe dá o poder de viajar pela terceira dimensão de um cenário que antes era apenas bidimensional, algo que aumenta substancialmente sua capacidade de explorar o mundo. Cabe então ao personagem encontrar os cubos do hexaedro dourado para salvar o seu pacato mundo da destruição iminente.

Logo no início da jornada, Gomez recebe o poder de girar os cenários por onde passa
Apesar de possuir uma história simples, FEZ desenvolve sua narrativa de forma impecável, fazendo uso até mesmo de elementos metalinguísticos para tornar tudo mais interessante. Com um visual retrô que lembra muito os grandes clássicos da era 8-bit, tudo no jogo parece ter sido feito com todo o cuidado para que o jogador mergulhe em seu universo. Um bom exemplo da genialidade do título se dá no momento em que o hexaedro explode e Gomez recebe o chapéu: o jogo simula um erro de sistema e é reiniciado, para mostrar ao jogador que tudo acabara de mudar e que dali em diante estaremos jogando um jogo novo. São pequenos detalhes como este que tornam o jogo tão encantador e interessante.

Quebrando a cabeça

Apesar do jogo ser essencialmente um quebra-cabeças, FEZ incorpora diversos elementos tradicionais dos títulos de plataforma, como saltos, escaladas e até mesmo interação com alguns NPCs. Todo o cenário é projetado como se fosse um cubo em que Gomez pode se locomover em um plano bidimensional. Ao pressionarmos um dos gatilhos (L ou R), o cubo gira em 90 graus e nos revela mais uma face daquele cenário, possibilitando maior exploração e até mesmo revelando novas plataformas que levam a lugares antes inalcançáveis. O mais divertido é que, apesar de toda a dinâmica de tridimensionalidade promovida pelo chapéu utilizado por Gomez, o jogo nunca deixa de lado sua jogabilidade bidimensional, o que acaba se revelando como algo extremamente inovador e impensado até o lançamento do título.

Extensos e cheios de nuances a serem exploradas, os cenários do jogo são incríveis
Todo o progresso de FEZ se baseia unicamente no senso de descoberta dos jogadores. Sem muitas dicas do que fazer, você deverá explorar os cenários em busca de cubos, relíquias e outros itens para evoluir e finalmente conseguir salvar o mundo. Sendo completamente contemplativo, FEZ não possui inimigos, um contador de tempo ou sequer algum tipo de punição para o jogador, o que estimula muito a experimentação e a curiosidade dos jogadores, que sabem que podem tentar o que bem entenderem naquele mundo, desde que esteja de acordo com as suas leis naturais.

Para completar sua missão, Gomez deverá coletar os cubos dourados perdidos pelos cenários
Durante sua jornada, Gomez ainda encontra baús que, ao serem abertos, homenageiam a franquia The Legend of Zelda com todo o suspense seguido de euforia que é típico de quando se adquire um novo item no jogo. E as homenagens não param por aí! Desde pequenas falas de NPCs a até mesmo certos elementos da própria jogabilidade do título, muito do que nos é apresentado pode ser claramente considerado como uma homenagem a grandes sucessos dos videogames, principalmente àqueles  que nasceram já na distante época do Nintendinho.

"Ta na na naaaaaa!!!"`
O universo de FEZ é bastante extenso e cheio de detalhes, contando com dezenas de ambientes para serem explorados. Tal dinâmica exige um mapa para que os jogadores se situem e para que eles possam desenvolver rotas para retornar a ambientes já visitados. E é nesse único aspecto que o título falha. Apesar de possuir um mapa, este é confuso e difícil de ser entendido, pelo menos a princípio. Isso porque a intenção da desenvolvedora era mostrar, de maneira tridimensional, cada interseção entre as salas e a maneira como elas se ligam. Apesar da boa ideia, a execução está longe de ser boa e acaba deixando o jogador até um pouco confuso sobre como ele chegou até o local em que está.

Cuidado com os detalhes

Como se não bastassem todas as qualidades inerentes ao modo de jogar, FEZ ainda surpreende pela imensa qualidade de seu estilo artístico, principalmente por meio de suas músicas. Com o mundo todo pixelado que também remete a jogos lançados ao final dos anos 1980, todo o universo de Gomez é adorável e concebido com muito esmero e cuidado. Cada elemento do cenário existe nele por algum motivo, e mesmo quando aparentemente alguns desses elementos não servem para nada, ainda assim eles ajudam a dar o clima de descontração e apreciação que o jogo transmite.

A bela direção de arte faz do jogo uma experiência inesquecível
Em todos os cenários, que são muito coloridos, habitam coelhos, pássaros e outros adoráveis animais que mal interagem com o jogador, mas deixam tudo mais alegre e festivo. A variedade de ambientes também choca. Com ambientes completamente distintos uns dos outros, o jogador sempre sente como se estivesse descobrindo um mundo novo a cada nova porta encontrada. E isso prende os jogadores e os faz sempre querer descobrir o que lhes espera pela frente.


A trilha sonora é um show a parte, e as composições de Rich Vreeland beiram a perfeição. Com um clima nostálgico, as batidas ao estilo anos 1980 fazem com que o jogador se sinta ainda mais imerso no incrível universo do jogo, que o deixa completamente hipnotizado. Lembrando bastante o estilo musical de títulos da era 8-bit, mas com um toque incrível de modernidade e senso de estética, as composições são a cereja do bolo de um dos mais incríveis bolos que já experimentei em toda a minha vida.

O poder da criatividade

FEZ foi desenvolvido por apenas três pessoas e é a prova de que a criatividade sempre vence quando colocada em oposição a gráficos e outras maravilhas do mundo moderno. Enquanto grandes empresas recebem milhões para desenvolver franquias anuais que mal conseguem inovar seu próprio escopo entre uma versão e outra de seus jogos, alguns títulos simples e feitos com esmero mostram que a indústria tem salvação. Os videogames já foram muito mais que gráficos, e a paixão dos desenvolvedores já se opôs à gigantesca ambição de certas grandes empresas que buscam tirar cada centavo dos jogadores. FEZ é a prova de que a paixão pelos games ainda existe em muitos. Para quem já nasceu na época em que a publicação de mil jogos de tiro por ano é algo normal, talvez seja hora de parar de gastar 60 dólares em jogos iguais e tentar dar uma chance a um título muito melhor e mais criativo que custa seis vezes menos.

Prós

  • Mundo criativo e imersivo;
  • Personagens carismáticos e divertidos;
  • Jogabilidade genial;
  • Referências a franquias clássicas dos videogames;
  • Trilha sonora devastadora;
  • Gráficos nostálgicos e bem desenvolvidos.

Contras

  • A falta de dicas do que fazer pode afastar jogadores menos experientes;
  • Mapa confuso.
FEZ – PlayStation 4 – Nota 9.5
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Stéfano Genachi

Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

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