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Análise: Star Ocean: Integrity and Faithlessness (PS4) é um JRPG nada especial

O quinto título da série tem ideias interessantes, mas desaponta com a execução mediana.


Os RPGs japoneses tentaram se reinventar durante os últimos anos. O gênero era conhecido principalmente por seus combates por turnos e narrativas complexas. Star Ocean é uma série que nasceu no SNES e que foi pioneira no sentido de explorar temas não muito comuns na época, como a viagem interestelar, e também ao incluir sistemas únicos e interessantes. Star Ocean: Integrity and Faithlessness é o quinto título da série principal e tinha como principal missão resgatar as características mais marcantes da franquia, ao mesmo tempo que a apresenta a novos jogadores. O RPG para PlayStation 4 apresenta várias ideias promissoras, que, infelizmente, não alcançam seu potencial por conta da execução mediana.

Conflito de tecnologias e clichês

Uma característica da série que é sempre destacada é a ambientação e a trama, que normalmente exploram o resultado do encontro de raças de desenvolvimento tecnológicos diferentes. Integrity and Faithlessness tem isso: as nações do planeta Faycreed IV estão em guerra e suspeita-se que uma delas está recebendo ajuda alienígena. No meio de tudo isso, controlamos um espadachim chamado Fidel, que encontra Relia, uma garota com amnésia que é detentora de poderes misteriosos. Junto com sua amiga de infância Miki, Fidel decide ajudar a garota sem memórias a encontrar seus pais.


A premissa, em um primeiro momento, é interessante, afinal os habitantes desse planeta não têm contato com tecnologia avançada. Contudo, infelizmente, é muito mal executada. A trama é repleta de clichês já conhecidos do gênero e tem vários momentos previsíveis (como a habilidade especial de Relia de sempre ser raptada mais uma vez). Além disso, a ficção cientifica é timidamente explorada. Isso não seria problema se os personagens fossem interessantes, mas isso não acontece: o grupo é composto de estereótipos já conhecidos, como o espadachim altruísta, a feiticeira sensual e o cara durão que esconde segredos. Há uma tentativa de desenvolver os heróis com o sistema de cenas extras Private Actions, mas elas não são suficientes (além de serem bem monótonas).

Um recurso novo desse quinto título é o foco em fluidez, ou seja, a ação apresenta menos transições. Isso é utilizado muito na narrativa: a maior parte das cenas não interativas acontecem no mesmo local da exploração, sem transição de cenas. Você pode andar livremente pelo cenário enquanto observa os diálogos. Aparentemente, a intenção era colocar o jogador mais próximo das cenas, mas a sensação que tive é que usaram isso como recurso para economizar algum dinheiro. O motivo disso é que as cenas são bem simples e basicamente só têm os personagens em pé, parados, conversando. Para piorar, a câmera é ruim e é difícil encontrar um bom ângulo para observar direito as conversas. O resultado são cenas sem graça e sem imersão alguma.

RPG nos moldes de sempre

A estrutura básica de Star Ocean 5 segue a fórmula básica de RPGs e é dividida em momentos de exploração e combate. Os heróis visitam várias localidades, como cidades, planícies e praias, tudo com uma temática meio medieval. Os mapas são simples e lineares, e existem baús com tesouros e pontos de coleta de materiais para incentivar a exploração.

Para deixar as coisas mais interessantes, estão disponíveis várias missões paralelas. São tarefas como derrotar certos monstros ou coletar itens e têm como principal recompensa livros que desbloqueiam habilidades especiais. Algumas dessas técnicas são bem úteis (radar de inimigos e tesouros, por exemplo), já outras servem somente para diversão (como a possibilidade de Fidel fazer caretas durante as cenas de conversa). Por fim, está de volta o sistema de criação de itens, mesmo que simplificado: basta ter os materiais necessários e pronto.


Mesmo tendo uma trama bem linear, há muito o que fazer em Star Ocean 5, por mais que o jogo não apresente nada de novo ou especial nesse aspecto. No geral, é uma aventura curta: são necessárias por volta de 20 horas para terminar a trama principal e mais algumas para explorar o pouco conteúdo opcional (um calabouço extra e algumas arenas). Há variações no final e dificuldades adicionais. Particularmente, eu não senti vontade de fazer as missões opcionais, pois as tarefas são desinteressantes e não adicionam muito à experiência de jogo. A sensação geral é que foi tudo feito às pressas, já que tudo é bem básico.

Batalhas intensas e com muitos elementos

O combate de Star Ocean 5 segue os padrões da série e acontece em tempo real. Você assume o controle de um personagem e utiliza vários golpes e técnicas especiais para derrotar os monstros e inimigos. O sistema de batalha apresenta um conceito de prioridades bem interessante, que lembra o tradicional jogo pedra, papel e tesoura. Os personagens têm à disposição três tipos de movimentos: um ataque rápido e fraco, um golpe lento e forte e defesa. Ataques rápidos interrompem golpes fortes; ataques lentos quebram defesas; e golpes rápidos são anulados pela defesa. Sendo assim, é importante observar as ações dos inimigos para usar o golpe correto. Além disso, há também técnicas especiais e um ataque extremamente poderoso que consome uma barra.


Trata-se de um sistema de combate fácil de entender e bastam alguns poucos minutos para dominar tudo. Existem alguns detalhes mais avançados (como contra-ataques e cancelamento de golpes), o que o torna acessível para vários tipos de jogadores. Outra característica única é que todos os sete heróis participam simultaneamente das batalhas e é possível controlá-los a qualquer momento bem facilmente. Os demais personagens são controlados pelo computador e agem de acordo com as Roles, que são estratégias de batalha que podem ser melhoradas.

Combate com ideias mal aproveitadas

Infelizmente, no fim das contas, o sistema de batalha é subutilizado. Na maior parte dos combates, só precisei apertar X ou O repetidamente para derrotar os inimigos, sem estratégia alguma. Para piorar, é difícil se aproveitar do sistema de pedra, papel e tesoura, pois é muito difícil ver as dicas visuais dos ataques dos inimigos no meio do caos visual das batalhas (imagine sete heróis correndo e atacando, em conjunto com explosões e magias).

Também não vi incentivos para controlar outros personagens — usei somente Fidel o tempo todo e não tive dificuldades. No geral, as batalhas são bem fáceis, só tive problemas em algumas lutas contra chefes, mas nem foi por conta das minhas habilidades: o computador agia sem critério algum, mesmo eu alterando as Roles, o que resultava em personagens sendo atingidos por qualquer ataque (e morrendo no processo). Há, também, desbalanceamentos, como picos de dificuldade estranhos.

Visual inconsistente

Bastam alguns minutos em Star Ocean 5 para perceber que, aparentemente, o jogo teve baixo orçamento: Fidel, o protagonista do jogo, atravessa NPCs como se eles não existissem; a movimentação dos personagens não é muito natural; os mapas são bem pequenos e de variedade extremamente limitada; alguns cenários são completamente reutilizados. Observa-se, também, que muitos dos sistemas de jogo não foram muito bem desenvolvidos.

Quanto aos aspectos visuais do título, ele se mostra bem inconsistente. Algumas localidades são interessantes e belas (principalmente as cidades), já outras são bem básicas e sem graça (como florestas e praias genéricas mal trabalhadas) — no geral a direção de arte é bem regular. Isso é até justificável pelo fato do jogo também ter sido lançado para PS3 no Japão, mas como um título de PS4 ele é somente aceitável. Um ponto positivo é a ótima trilha sonora, que é de autoria do veterano Motoi Sakuraba (compositor dos jogos anteriores da franquia e de séries como Valkyrie Profile, Dark Souls e Tales of).


Somente competente

Star Ocean: Integrity and Faithlessness é um JRPG que aplica os conceitos do gênero de maneira satisfatória. O jogo tem inúmeras atividades para serem feitas e um combate fácil de entender, o que já garante horas de diversão. Contudo, olhando com calma, é possível observar vários problemas e aspectos subdesenvolvidos: a trama e personagens não empolgam, os detalhes do sistema de batalha não são bem executados e o visual é genérico. O resultado é sensação de que o título teve baixo orçamento, pois há ideias interessantes, mas tudo é mal desenvolvido. Star Ocean: Integrity and Faithlessness é somente competente e aqueles que procuram algo mais profundo podem acabar se decepcionando com ele.

Prós

  • Boa quantidade de conteúdo;
  • Ótima trilha sonora;
  • Combate fácil de entender.

Contras

  • Visual inconsistente;
  • Sistema de combate mal explorado e com problemas de balanceamento;
  • Personagens e trama não empolgam;
  • Muitos aspectos de jogo subdesenvolvidos.
Star Ocean: Integrity and Faithlessness — PS4 — Nota: 6.0
Revisão: Jaime Ninice 

é brasiliense e gosta de explorar games obscuros e pouco conhecidos. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de boardgames, game music, fotografia e livros. Além de mostrar seus cliques no Flickr, tem também um blog onde escreve sobre inúmeros assuntos e também pode ser encontrado no Twitter.

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