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Análise: The Mage's Tale (PSVR) é um ótimo dungeon crawler para realidade virtual

O game da inXile Entertainment lançado para o PC em 2017 finalmente chega ao PlayStation VR e o resultado é ótimo!

Que a Sony é uma das empresas que mais dá base para o desenvolvimento de jogos em realidade virtual, isso já não é tanta novidade. Além do PSVR ser o óculos de realidade virtual mais vendido atualmente, já surgem boatos da continuidade do suporte à tecnologia para o “PS5”. Isso faz com que vários games anteriormente lançados somente para PC venham para a plataforma, como é o caso do incrível The Mage’s Tale (PC/PSVR), que chega ao PS4 para dar uma ótima opção de dungeon crawler para os amantes da realidade virtual.


O game que fora lançado em 2017 para o HTC Vive no PC, recebeu recentemente uma versão para o periférico do PS4. Com uma história divertida e ótimo design de fases, o jogo é uma opção muito válida para os amantes de exploração de masmorras e até de RPGs em geral. Mas algumas melhorias precisavam ser feitas principalmente na movimentação do jogo, mas falaremos disso mais adiante.


O aprendiz que salva o mestre

The Mage’s Tale conta a história de um aprendiz de um poderoso mago que se vê em uma controversa situação: precisar salvar seu próprio mestre de um poderoso feiticeiro demoníaco. Logo nos primeiros minutos da história presenciamos esse fatídico momento, logicamente na visão do aprendiz, que presencia o mestre ser derrotado e raptado por um poderoso feiticeiro das trevas.

Assim, com a ajuda do braço direito do poderoso mago, precisamos desbravar as ruínas nas quais fomos largados para reencontrar nosso mestre. O divertido dessa história é que ela traz uma aura que lembra bastante o enredo de jogos de RPG e dungeon crawler da década de 1990. A simplicidade aqui não é nem de longe um problema, pois o pano de fundo da história se encaixa muito bem nas boas horas de jogatina que temos explorando essas masmorras.



O interessante disso é que, mesmo que o enredo seja bem simples e direto, conseguimos uma imersão o suficiente na história para nos apegar a nossa própria evolução como aprendizes de magia. Isso porque, ao passar de níveis vamos descobrindo novas mecânicas; explorando as masmorras vamos descobrindo novos itens que podem servir de ingrediente para novas magias e muito mais. Assim, de forma bem orgânica, sentimos que a evolução de gameplay acompanha a evolução da narrativa de forma muito eficaz.

Fazendo magia com as próprias mãos

The Mage’s Tale usa e abusa dos controles de movimento do PSVR, o que aumenta consideravelmente a imersão do jogo. Logo de cara percebemos essa imersão ao fazer magias. Runas elementais, por exemplo, precisam ser carregadas em nossa mão e depois literalmente arremessadas, sendo necessário um movimento de arremesso do jogador para que, por exemplo, a bola de fogo, alcance uma boa distância.



Além dessa mecânica muito imersiva, a variedade de magias que utilizamos com as nossas mãos é muito boa, aumentando a dinamicidade da experiência de jogo e deixando o resultado final bem divertido. Com toques rápidos podemos mudar o tipo de runa que estamos utilizando, bem como conjurar escudos mágicos num estilo que lembra muito o personagem Doutor Estranho, o mago supremo da Marvel Comics. 

Como a progressão é um dos pilares do jogo juntamente com a exploração das masmorras, temos uma evolução muito divertida do uso das magias. Com o tempo, aprendemos magias de raio, fogo, gelo, escudos maiores e muitas outras coisas. Ao mesmo tempo também aprendemos instintivamente a atacar enquanto nos mantemos em movimento, defendendo na hora certa e trocando rapidamente de runas, tornando os combates muito divertidos e orgânicos.



Inclusive, falando dos combates, estes têm um nível de desafio bem interessante, com inimigos variados e mecânicas igualmente distintas para vencer cada um deles. Não existe exatamente um único método para vencer cada tipo de oponente, fazendo com que as batalhas sejam bem diversificadas e a experiência de combate seja quase única para cada jogador.

Masmorras curiosas e cativantes

Um ponto chave de qualquer dungeon crawler é justamente a confecção das suas dungeons. Sendo um ótimo exemplo do gênero, The Mage’s Tale possui um ótimo level design, mesmo que este seja praticamente linear na maior parte do tempo. As masmorras claustrofóbicas são coloridas e cheias de luz, não dando necessariamente a sensação de sufocamento que outros jogos como a série Dark Souls dão. 



No lugar dessa sensação de “aperto”, temos um ambiente convidativo a ser explorado, com a cereja do bolo sendo os segredos por trás de cada possível puzzle que encontramos pelo caminho. O bacana disso é que esses enigmas não são necessariamente obrigatórios de serem completados para se passar das fases. Na verdade, é possível superar ao menos os primeiros cinco desafios sem parar para pensar no que você está fazendo.

Porém, um ponto muito positivo do level design de The Mage’s Tale é que esses enigmas são organicamente convidativos de serem resolvidos. Não existe necessariamente um texto ou alguém te apontando o que fazer ou para onde olhar. Mas os elementos cruciais de cada enigma estão organizados pelas salas das masmorras de forma tão bem pensada que o jogador se sente motivado a tentar entender a lógica por trás de tudo aquilo.



O resultado é uma exploração divertida e desafiadora, com ótimas recompensas no final, visto que cada baú secreto ou item desconhecido que você encontra por trás de um enigma rende bons pontos de experiência extra, fazendo com que o personagem progrida mais rápido se comparado a experiência de apenas vivenciar a masmorra de forma linear.

Por fim, não são somente criaturas que se portam à frente do jogador como desafios ao longo das masmorras. Armadilhas perigosas, barreiras supostamente intransponíveis e pontos aparentemente inalcançáveis também são elementos muito bem utilizados na criação das masmorras, deixando a experiência bem completa.


Imersão sempre bem vinda

Como este deveria ser o foco de praticamente todos os jogos voltados para a realidade virtual, em The Mage’s Tale não seria diferente. Felizmente, neste dungeon crawler, temos uma ótima imersão envolvendo praticamente tudo do jogo. Como já falamos anteriormente, magias são um dos pontos chave dessa imersão, com movimentos corporais sendo necessários para arremessar bolas de fogo ou, por exemplo, a necessidade de levantar ambas as mãos para abrir um portal e voltar para o local de preparação do jogo.

Mas não é somente nas magias que sentimos essa viva sensação de estarmos realmente dentro da masmorra conjurando feitiços com as próprias mãos. A maior parte dos objetos tem um nível de interação muito bom, podendo segurar garrafas com uma mão e remover sua tampa com a outra. Ou então beber uma poção de cura literalmente virando-a na altura de nossa boca. Tudo isso deixa a experiência muito completa e bastante imersiva.



Outro ponto interessantíssimo é o da confecção de poções e magias, onde voltamos para a “base” dos magos para utilizar o caldeirão de nosso mestre. Aqui, literalmente escolhemos ingredientes específicos nas bancadas, jogamos em um caldeirão e mexemos com uma grande colher para confeccionar pedras de runas elementais e poções variadas.

Movimentação não tão boa assim

Mesmo que The Mage’s Tale tenha excelentes pontos no que tange a confecção das masmorras, a imersão no controle das magias e os combates muito divertidos, o jogo não é exatamente perfeito. Isso porque temos um ponto muito importante aqui que possui problemas consideráveis: a movimentação. Como outros jogos em realidade virtual, o game da inXile Entertainment possui configurações distintas para movimentação, visando uma diminuição do possível enjoo de movimento (cinetose) que alguns jogadores podem apresentar.



Entretanto, mesmo com várias configurações, o jogo ainda peca bastante na precisão da movimentação. Além de ser inicialmente confuso se movimentar de forma contínua, pois a direção que você se movimenta depende da direção onde sua mão esquerda está apontando, a movimentação por “saltos” também tem problemas de contato com objetos do cenário e até com paredes.

Em vários momentos meu personagem ficou agarrado atrás de um baú ou quando cheguei muito perto de uma parede, só conseguindo sair pela movimentação por “saltos”. Isso não chega a atrapalhar a exploração, mas durante combates contra vários inimigos, pode ser um elemento bem negativo, com potencial para atrapalhar o resultado dos embates. Além disso, movimentar-se por escadas é igualmente problemático, tendo várias vezes que utilizar os “saltos” para sair de quinas onde o personagem fica agarrado.


Uma ótima forma de “brincar de mago”

The Mage’s Tale (PSVR) é um excelente título que dá ao jogador uma ótima experiência de exploração de masmorras com combates dinâmicos e bem desafiadores. Com diversos elementos que dão uma ótima sensação de imersão combinados com um design de fases que nos convida a explorar e descobrir os mistérios de cada sala, o jogo mescla com excelência o gênero de exploração de masmorras com a realidade virtual.

Não fosse os problemas consideráveis com a movimentação e a interação com alguns objetos específicos, uma nota máxima seria algo bem possível para o jogo. Além disso, para um jogo de realidade virtual, sua duração é considerável, com um ótimo fator replay. Que The Mage’s Tale sirva de exemplo para que outros jogos do gênero possam ser criados, com cada vez mais imersão e senso de aventura.


Prós

  • Ótimas mecânicas para usar magia ao longo do jogo;
  • Combates divertidos e bem desafiadores;
  • Variedade de magias agrada bastante;
  • Enredo simples, mas divertido;
  • Level design inteligente;
  • Colecionáveis são divertidos de serem encontrados;
  • Mecânica de poções muito interessante;
  • Cheio de mecânicas que aumentam a imersão;
  • Progressão bem divertida;
  • Puzzles convidativos de serem resolvidos.

Contras

  • Movimentação tem alguns problemas complicados;
  • Algumas interações não são tão precisas.
The Mage’s Tale — PSVR — Nota: 9.0
Análise produzida com cópia digital cedida pela inXile Entertainment.


é Psicólogo e Mestrando em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014, onde é Redator e Diretor. Começou sua vida gamer bem cedo no NES e hoje divide seu tempo entre games antigos e novos. Pode ser visto por aqui sempre escrevendo algum texto polêmico, instrutivo ou nostálgico. Geralmente é visto em alguma discussão no Facebook ou no Twitter.

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