Plug and Blast

Um mês com o PlayStation VR

Compartilho algumas das minhas impressões após passar um tempo com o aparelho.


Quem acompanhou meus textos no GameBlast em 2016 pode ter notado meu fascínio com realidade virtual. Fiz um longo especial na Revista GameBlast #19, comparei os principais headsets na E3 e fiz um resumão dos detalhes mais importantes do PlayStation VR. Em casa, a única forma de se ter uma experiência similar era com um humilde Google Cardboard, que pode ser divertido por alguns momentos, mas claramente não foi feito para uma experiência longa e imersiva.

Foi em novembro que resolvi fazer a fantasia da realidade virtual tornar-se… bem... realidade, aqui em casa. Gastando um pouco mais de dinheiro do que eu provavelmente deveria (minhas contas estão em dia, então, tudo bem), comprei um PlayStation VR, o headset da Sony que nos permite usufruir de realidade virtual com o PlayStation 4. No dia 16, chegou aqui uma caixa grande e branca.

Não registrei o momento do unboxing, mas tenho certeza de que existe uma infinidade disso pela internet. Após retirar todos os plásticos e conectar as portas corretamente, finalmente chegou hora de começar. Como eu já havia experimentado o PSVR e outros dispositivos de realidade virtual antes, minhas emoções estavam razoavelmente contidas, mas eu ainda estava animado para poder ter a experiência fora de um centro de convenções barulhento e com limite de tempo.

Há um processo de adaptação no começo, pois realmente é um tipo de experiência diferente do convencional. Primeiramente, é necessário entender quais são os possíveis ajustes do headset para garantir conforto ao usuário e qualidade de imagem. Pequenas diferenças de posição podem ser suficientes para tirar a imersão da experiência e deixá-la cansativa (ou até causar dores de cabeça). Para mim, ao menos, esse período foi breve. Claro, até hoje preciso gastar alguns segundos para ajustar o headset corretamente, mas eu já conheço o processo. Ao jogar games que exigem muita movimentação da cabeça, é natural que o headset se desloque um pouco. Quando isso acontece, pode ser interessante pausar o jogo e reajustá-lo ocasionalmente.

Após passar um tempo experimentando as demonstrações incluídas no pacote do headset (como Until Dawn: Rush of Blood (PS4), DriveClub VR (PS4), Resident Evil Kitchen Demo e outros), comecei a jogar 100ft Robot Golf (PS4), o primeiro jogo completamente jogável em VR à minha disposição. Infelizmente, o modo VR desse game não é muito agradável (e, de quebra, o jogo não é muito bom), então não foi a melhor primeira impressão. Foi com Thumper (PS4/PC) que veio o verdadeiro impacto do aparelho.

Nos dois jogos, 100ft Robot Golf e Thumper, toda a campanha é jogável em 2D ou com o VR. Ou seja, VR nesses jogos representa uma experiência completa, mas opcional. O fascinante é como ambos lidam com isso de forma diferente: 100ft Robot Golf troca a perspectiva em terceira pessoa por outra que não é exatamente primeira pessoa, enquanto Thumper praticamente não muda nada além do campo de visão imersivo. Mas Thumper é o jogo que eu mostro para meus amigos que querem conhecer VR. A jogabilidade pode não mudar entre os dois modos, mas estar imerso naquele mundo incrementa fortemente a tensão e a adrenalina durante a jogatina.

Depois, ainda joguei Batman: Arkham VR (PS4), que é uma experiência exclusiva para realidade virtual. O jogo é ótimo, mas acaba deixando evidente alguns dos problemas da primeira geração de títulos para PlayStation VR. Enquanto Thumper aproveita o VR para proporcionar imersão visual utilizando comandos tradicionais, Arkham VR tenta colocar o jogador nos pés de Batman, exigindo que ele olhe ao seu redor e interaja com objetos para resolver enigmas. Até aí, tudo bem, mas o excesso de configurações e a fragilidade da experiência acabam mostrando que ainda há um longo caminho pela frente para se alcançar imersão real. Arkham VR exige uma distância muito específica entre a câmera e o headset, sendo pouco tolerante a variações. Após testar várias posições, consegui encontrar uma que fosse satisfatória, mas provavelmente poucos jogadores terão essa paciência.

Dias depois, experimentei Job Simulator (PS4/PC, análise em breve), que exige a utilização de um par de controles PlayStation Move, e sofre de muitos dos mesmos problemas de Batman. Jogá-lo sentado no sofá é inviável, pois ele espera que eu interaja com objetos atrás de mim (ou seja, minhas mãos iam de encontro ao encosto do sofá). A minha melhor opção foi trazer todo o conjunto PS4/PSVR para outro quarto, que conta com um pouco mais de espaço, para poder jogar de pé ou com uma cadeira giratória. Tomando esses cuidados, o jogo foi muito divertido (apesar de ainda trombar com um armário ocasionalmente).

É interessante que existam tantas demonstrações de jogos em VR, pois esta é uma fase de experimentação em termos do que funciona ou não no sistema. DriveClub VR é divertido pela sensação de dirigir um carro, mas mostra como gráficos realistas se tornam-se problemáticos no headset devido à baixa resolução. Rush of Blood é um dos que melhor aproveitam a tecnologia, misturando montanha-russa com horror leve para transmitir uma variedade de emoções, mas pode causar problemas se os controles não estiverem bem calibrados.

Assim como DriveClub VR, outras das melhores experiências simulam atividades que na vida real seriam feitas sentadas (ou, pelo menos, sem andar). Além dele, Battlezone nos permite controlar um tanque, enquanto que nas missões bônus de Call of Duty: Infinite Warfare (Multi) e Star Wars: Battlefront (Multi), pilotamos naves futuristas em batalhas espaciais. Como um bom fã de Star Wars, adorei poder olhar ao meu redor para ver meus colegas de esquadrão e as TIE Fighters que iria derrotar.

Além de diversas outras demonstrações que valem a pena serem conferidas, na PlayStation Store também há algumas animações de curta-metragem para serem visualizadas  em VR, como The Invasion, Alumette e Gary the Gull. Estes vídeos e o serviço de streaming Within mostram que VR pode ser aplicado de forma interessante para outras mídias além de jogos, mas ainda é algo que precisa ser muito mais explorado. Faz falta um serviço do tamanho do YouTube para, pelo menos, podermos assistir vídeos em 360° sem depender de um longo processo de publicação.

Há mais uma coisa divertidíssima para se fazer com um dispositivo assim: mostrá-lo para outras pessoas. Algumas das minhas melhores lembranças que guardo até agora ocorreram enquanto eu via algum amigo experimentando o PSVR pela primeira vez, seja com Resident Evil, Batman ou Rush of Blood. Cada pessoa tem uma reação diferente e é sempre fascinante ver como elas se comportam. Alguns se impressionam pelos visuais, outros pelo rastreamento de cabeça, outros pelos controles de movimento. E, pelo menos até hoje, ninguém saiu insatisfeito.


Ainda há uma diversidade de jogos que eu quero experimentar em VR, mas os resultados desta primeira etapa têm sido satisfatórios. Não é algo que eu gostaria de usar para todos os jogos, nem mesmo todos os dias, mas é muito bem-vindo quando há a opção e a experiência é sólida.


Com várias experiências curtas, é possível identificar quais mais agradam cada jogador, e quais funcionam melhor de maneira geral. Resident Evil 7 (Multi) será o primeiro jogo tradicional com uma campanha completa jogável em VR, e talvez ele seja decisório para que as empresas decidam se irão apoiar a tecnologia. Apesar de alguns problemas, que cedo ou tarde serão corrigidos com atualizações de software e hardware, a tecnologia funciona. Então, basta criarmos uma boa biblioteca para mantê-la relevante.

Revisão: Érika Honda

Quando não está ocupado sendo diretor, redator, newsposter, podcaster e RP do PlayStation Blast, Renan Greca gosta de jogar videogames. Às vezes, lembra de focar em seu mestrado também.

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