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Análise: Death end re;Quest (PS4): uma história de jogos, mistério e combates

Game traz mistura de Visual Novel com JRPG com trama repleta de segrados.

Death end re;Quest, novo jogo das japonesas Idea Factory e Compile Heart a chegar no ocidente, é uma obra que merece atenção. Ele faz algumas misturas interessantes, sendo uma peça que não se vê todo dia. E por incrível que pareça, mesmo com um escopo até um pouco inchado ao meu ver, ele mais acerta do que erra. Traz uma ótima narrativa e um gameplay com mecânicas bem fundamentadas, embora o aproveitamento delas seja questionável. Mas de qualquer forma, é tudo só um jogo. Ou não.



A Odisseia do mundo real

O ponto mais forte de Death end re:Quest é sua narrativa. Ou melhor dizendo, suas narrativas, pois o game traz uma dupla de protagonistas que atua em mundos distintos, mas conectados. Shina Ninomiya é uma jovem programadora da empresa desenvolvedora de jogos Enigma. Ela desapareceu a um ano atrás, durante o desenvolvimento de World’s Odyssey, um MMORPG de realidade virtual. Foi a gota d’água para que o projeto, que já passava por problemas, fosse engavetado.

O outro protagonista é Arata Misunashi, programador chefe da Enigma. Mesmo com o sumiço da colega, ele continuou com seu trabalho. Em certo dia, ele nota uma movimentação estranha no servidor de World’s Odyssey, que em teoria deveria estar desligado. Para sua surpresa, lá ele se reencontra com Shina, que embora tenha retomado sua consciência, não se lembra de nada do último ano, nem onde possa estar no mundo real.

É ai que começam os problemas. Ambos não sabem porque o jogo está funcionando e de onde veio um tipo específico de bug que parece mudar as regras do mundo do MMO. A opção de log-off foi desabilitada e a única forma de Shina acordar é fazendo o Final Verdadeiro do jogo. Em paralelo a isso, Arata tentará descobrir no mundo real quem está por trás dessas atitudes suspeitas, que estão culminando em eventos problemáticos para a Enigma e seus funcionários. Além é claro de localizar o paradeiro da amiga.


A premissa inicial pode até parecer um pouco confusa, mas o desenrolar da narrativa possui um ótimo ritmo. Shina, enquanto dentro do MMORPG, vai juntando companhias que a ajudam a avançar pela aventura. E embora os NPCs tenham personalidades únicas e bem complexas, a protagonista não pode agir de maneira que os personagens do computador saibam que não são reais, sob risco de quebrar ainda mais o mundo virtual.

Com Arata as coisas são um pouco mais pesadas. Conforme ele começa a investigar o que acontece, um plot maior vai se revelando, com tentativas de assassinato, teorias de conspiração, fenômenos sobrenaturais e sociedades secretas.



Não demora muito para que essas duas linhas se unam, o que não significa que os segredos diminuam. E esse é o grande mérito de Death end re;Quest. Ele consegue te prender com boas viradas sempre te instigando a querer chegar no próximo passo.

Quase todos os personagens principais são bem carismáticos e, mesmo tendo ciência que muitos são só NPCs, não tem como não se importar com eles. Isso dá mais força e sentimentos para os acontecimentos da trama, especialmente os trágicos.

Minha única reclamação é com algumas “barrigadas” bem pontuais na história. Alguns trechos poderiam ser mais diretos e tomar menos tempo de jogo.

Um jogo, dois modelos

Os dois mundos distintos do game também tem suas diferenças de gameplay. A parte referente a Arata é completamente Visual Novel e de certa forma, limitada. Ela funciona especialmente para avançar a história, sem objetivos paralelos. Porém é nela que ocorrem alguns dos acontecimentos mais pesados do jogo.

A parte RPG fica a cargo de Shina e suas companheiras, com equipamentos, magias, diferentes status, tudo que o gênero tem direito. O destaque fica para as batalhas em si que apresentam um sistema bacana. As lutas acontecem em arenas fechadas e se dão por turnos, embora a movimentação seja livre. O posicionamento é importante pois os ataques têm áreas de ação diferentes.

Além dos medidores comuns, cada personagem tem um nível de corrupção que começa em 0%. Essa numeração aumenta ao tomar dano e se bater em 100% é morte. Contudo, ao bater 80% as guerreiras entram no modo Glitch, no qual ganham um boost de poder (e perdem a roupa, para balancear eu acho). Podemos dizer que funciona como um Limit Break.


O que mais me chamou atenção foi o modo para se obter novas habilidades. Elas não são aprendidas por nível ou usando itens especiais mas sim com a combinação de outras técnicas. Explicando: ao usar certas habilidades em ordem específica (até três por turno), existe uma chance da guerreira ganhar uma nova habilidade. Quando uma combinação pode render algo novo, uma lâmpada aparece no canto da tela, indicando a probabilidade de sucesso.

É um sistema que incentiva a variação de combos para que o jogador procure novas habilidades. Uma ideia bem legal, mas senti falta de algum guia no qual pudesse ver quais receitas deram certo ou não.

Por fim, Arata pode ajudar nas lutas fornecendo alguns debuffs, invocações de chefes derrotados e usando cheats, que permitem usar outros estilos de jogo na batalha. Esse último recurso achei que seria bem importante mas ao jogar percebi que é só uma gimmick bobinha.


Vou chamar o GM

Embora tenha uma estrutura de batalha agradável, Death end re;Quest peca exatamente nas execuções de batalha e no balanceamento de forças. Para começar, eu não entendi até agora como é a estrutura de níveis dos personagens. Em um trecho do início do game eu literalmente fiz um nível por luta. Mais para frente deixa de ser essa festa, mas sempre tem alguém upando.

Dado isso, não demorou muito para que outro tipo de situação aparecesse: os inimigos não eram uma grande ameaça, mas ao mesmo tempo as lutas demoravam simplesmente pelos adversários serem resistentes. Ficou algo monótono e a partir daí eu fazia de tudo para evitar combates. Nas lutas contra chefes esse marasmo vai embora ao menos.


Que horror

Logo que ligamos o jogo, um aviso bem grande nos alerta sobre conteúdo violento. Esse aviso não está de graça e se temas assim te incomodam, é bom tomar cuidado. O game não mostra nenhuma sequencia animada de violência, mas há ilustrações e passagens bastante fortes nesse sentido. Alguns diálogos possuem trechos pesados, com gritos desesperados e situações com violência física, tortura e assassinatos.

Nesse tópico vale citar um último sistema importante. Com certa frequência no jogo irão aparecer situações chave na qual deveremos escolher uma entre duas ou três opções de ação. Somente uma é certa, as outras levarão a um fim trágico (geralmente envolvendo as cenas citadas acima) e consequente um Game Over. Enquanto que para a história só é preciso pegar o caminho correto, os desfechos “alternativos” rendem itens bônus e são necessários para completar o jogo 100%. Mas para quem só quer seguir a campanha, “perder” alguma dessas escolhas ruins não possui impacto significativo.


O jogo imita a arte

Death end re;Quest, é uma aventura que flerta com vários campos, sendo até bem diferente de outros jogos da produtora. A temática que usa jogos e realidade na mesma trama é muito boa, bem amarrada. É fácil comprar a ideia mesmo ela sendo um tanto quanto complexa. De longe o ponto mais alto do jogo.

As bases das mecânicas de batalha são boas e trazem um bom leque de variações. Pena que elas são comprometidas por falhas no balanceamento de força. De qualquer forma, o resultado final é bastante positivo. Uma grande aventura entre mundo virtual e real.

Prós

  • História principal repleta de viradas;
  • Personagens;
  • Ilustrações e direção de arte no geral;
  • Sistema de aprendizagem de habilidades;

Contras

  • Falta de balanceamento nas batalhas;
  • Trechos pontuais da campanha poderiam ser mais diretos;

Death end re;Quest — PS4 — Nota: 8.0

Análise produzida com cópia digital cedida pela Idea Factory International



Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

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