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Análise: Grand Kingdom (PS4/PS Vita) é um JRPG estratégico sólido e criativo

Comande mercenários em guerras divertidas em um título repleto de mecânicas interessantes.

Os RPGs japoneses são conhecidos por explorar fórmulas e estereótipos similares. Grand Kingdom, novo título do gênero para PlayStation 4 e PS Vita, tenta inovar ao combinar algumas características familiares com elementos únicos. O jogo mistura turnos, estratégia e ação em tempo real e o resultado é uma aventura densa e divertida. Além disso, Grand Kingdom conta com uma modalidade online bem interessante — algo raro quando o assunto é JRPGs.

Mercenários em um mundo em guerra

O foco de Grand Kingdom é nas mecânicas de jogo. Sendo assim, a história serve mais para construir a ambientação e é bem básica. No controle de um grupo de mercenários, o jogador faz contratos com uma das quatro nações do continente de Resonail em busca de prestígio e fortuna. Há uma campanha principal, mas ela é bem curta (são 12 capítulos, o que totaliza umas 15 horas de jogo) e não é profunda. Após concluir a história desta campanha, são liberadas missões focadas em cada uma das quatro nações do jogo, o que ajuda a entender a motivação de cada uma delas. O tom da trama, no geral, é bem leve e lembra um anime: as nações estão em guerra, mas parece que é por pura diversão.


A premissa é simples: monte equipes de guerreiros e complete tarefas. As missões se passam em um tabuleiro com espaços definidos e você controla um peão que representa o seu grupo. Os mapas apresentam várias atividades, como obstáculos naturais, tesouros escondidos e inimigos. Há um limite de turnos para completar cada missão, sendo assim, é importante navegar com cuidado pelos cenários. Itens e habilidades especiais estão disponíveis para facilitar a vida do jogador.

Grand Kingdom apresenta boa variedade nos tipos de missões. Algumas são simples, como alcançar um ponto específico do mapa, já outras têm objetivos diferentes, como defender espaços contra ataques inimigos, chegar em algum local sem ser detectado ou coletar itens espalhados pelo mapa. Há, também, missões livres: explorar as regiões do mundo em busca de tesouros e segredos sem a limitação de turnos. Existem inúmeras missões opcionais e que não fazem parte das histórias, sempre há o que fazer no jogo.

Conflitos em um anime

Tecnicamente, Grand Kingdom é bem competente. O mundo de Resonail apresenta bons gráficos 2D, por mais que a direção de arte lembre um anime sem muita personalidade, principalmente em relação aos personagens — felizmente, existem vários acessórios para personalizar a aparência deles. Em raros momentos, conseguimos ver alguns modelos 3D extremamente simples e feios, destoando completamente do visual. A música, de autoria do estúdio Basiscape (Final Fantasy XII, Odin Sphere, Muramasa), conta com várias composições animadas e que combinam com a ambientação “guerra em um anime” por conta do uso dos metais e de uma gaita de foles — os temas de combate são especialmente memoráveis.

O jogo está disponível tanto para PlayStation 4 quanto para PS Vita e ele está praticamente idêntico nas duas versões. No PS Vita, em um primeiro momento, o texto pode parecer um pouco pequeno demais, mas é algo fácil de se acostumar. Uma coisa que me incomodou é a quantidade frequente de carregamentos, alguns deles de vários segundos, inclusive na versão para PS4, o que é estranho em um jogo com visual não tão elaborado.

Batalhas que combinam turnos e ações em tempo real

Quando o grupo encontra inimigos, é hora de entrar em combate. O sistema de batalha de Grand Kingdom ocorre por turnos e conta com uma forte pegada estratégica. Você controla o grupo de personagens em um cenário 2D com três linhas horizontais de posicionamento e usa vários ataques diferentes para derrotar os inimigos. A movimentação é por turnos, contudo, o legal é que na hora de atacar é necessário realizar os comandos manualmente: unidades focadas em ataques físicos podem fazer combos, já magos e arqueiros precisam apertar os botões no momento correto.


O posicionamento também é importante, pois é possível colocar armadilhas, obstáculos ou feitiços que atrapalham o avanço dos inimigos (ou aliados). Alguns ataques mais fortes necessitam ser carregados por alguns turnos, o que exige levar em consideração o posicionamento dos oponentes. A variedade de estratégias é imensa, pois o jogo conta com 17 classes diferentes e vários objetos de defesa que podem ser colocados nas formações de batalha. Há, também, vários detalhes interessantes, como ataques de assistência, que trazem profundidade ao combate.

O jogo permite ao jogador montar várias equipes, mas não há incentivos para isso. Se for conveniente, basta utilizar-se da mesma equipe sempre — eu mesmo usei um único grupo em todas as missões da história principal e não encontrei problemas. Seria legal ter missões nas quais você controlasse vários grupos simultaneamente ou situações em que certas classes se saíssem melhor. Mas, infelizmente, não há nada disso no jogo. No modo online até existe a opção de trocar de equipe durante uma batalha, mas não faz muita diferença por conta da simplicidade dessas missões.


O combate é minha característica preferida de Grand Kingdom por conta da ótima mistura de mecânicas e das inúmeras possibilidades. A combinação de turnos, posicionamento de personagens e ataques realizados de forma manual  funciona muito bem. Mesmo sem muitos incentivos, gostei muito de testar as várias classes disponíveis — cada personagem possui nuances próprias, o que os tornam bem únicos. Um único porém é que as coisas podem ficar meio repetitivas em alguns momentos, já que boa parte das batalhas são bem parecidas entre si.

Sistemas versáteis e profundos

Grand Kingdom tem potencial para agradar aos vários tipos de jogadores. Aqueles que desejam somente aproveitar o básico e se divertir podem simplesmente montar um único grupo e pronto, sem se preocupar com coisas como proficiência de atributos, armas reforçadas e outros detalhes. Já para os dedicados, o jogo oferece muitas opções avançadas, como maneiras de treinar personagens mais efetivamente, equipamentos poderosos que precisam ser construídos e várias mecânicas sutis e complexas.

O problema é que título não explica direito alguns detalhes dos sistemas de jogo. Um exemplo é um tal de “just cancel” que aparece de vez em quando ao realizar um ataque: não sei o que isso significa e o jogo não me diz o que é. Também precisei pesquisar em fóruns detalhes como o que cada atributo faz ao subir de nível — informação importante, já que isso define a efetividade dos guerreiros em combate. O título até apresenta um menu com explicações, mas elas são extremamente básicas e pouco ajudam.

Mesmo assim, gostei muito dessa liberdade que a maneira de jogar Grand Kingdom proporciona: ele permite que eu me divirta não importando o quanto eu estou disposto a investir nele. A estrutura de missões me permite jogar o título em pequenos intervalos, sem grandes prejuízos — não há nenhum problema em pausar a jogatina durante uma missão e continuar depois, afinal, a história é mínima. É possível, inclusive, ignorar completamente as missões da campanha e só participar das guerras ou missões opcionais. Também gostei de não precisar ficar fazendo level grind ou outras coisas do gênero para avançar, pois a dificuldade é balanceada e é possível até mesmo aumentar a dificuldade de certas missões.

Guerreando no modo online

Grand Kingdom conta com um modo online robusto e repleto de atividades. Nessa modalidade, cada jogador faz um contrato temporário com uma das quatro nações e a defende em uma guerra online que envolve outros jogadores. As batalhas lembram missões comuns, mas a diferença é que o objetivo é conquistar ou defender territórios. Todos os oponentes são times de outros jogadores controlados pelo computador — aqui é necessário bolar boas estratégias, já que a maioria desses times são mais difíceis de derrotar do que o normal. Times ociosos podem ser despachados para receber experiência e dinheiro automaticamente. Por fim, é possível influenciar o rumo da guerra participando de votações e contribuindo com materiais na montagem de armas bélicas. Quanto maior for a sua contribuição na guerra, melhores serão as recompensas.


A guerra online é bem interessante e perfeita para continuar jogando mesmo depois de terminar todas as campanhas individuais. Acontece que eu não vi muitos incentivos para participar frequentemente dela por conta de alguns problemas. O primeiro deles é que eu não consegui sentir que estava contribuindo significativamente para a vitória da minha nação, não importando o que eu fazia — mesmo me esforçando, na maioria das vezes Magion, o país que fiz mais contratos, perdeu. Além disso, a guerra online é dominada principalmente por grupos extremamente fortes e no final das batalhas eles são sempre os destaques. O modo online é completamente opcional, mas exige dedicação. De qualquer maneira, é uma ótima alternativa para aqueles que querem enfrentar oponentes difíceis e conseguir equipamentos poderosos.

Uma ótima aventura

Grand Kingdom é um JRPG imersivo e repleto de coisas para fazer. O jogo possui um sistema de combate que combina bem características diferentes e o resultado é único e divertido. A estrutura de jogo é bastante livre, o que permite aproveitar a aventura de várias maneiras distintas. Além disso, é um título acessível para vários tipos de jogadores, por mais que algumas informações importantes não sejam explicadas direito. Por fim, há também um modo online robusto. Grand Kingdom é uma ótima opção para os fãs do gênero e para aqueles que procuram por algo um pouco diferente.

Prós

  • Ótima mistura de turnos e ação nos combates;
  • Muitas opções na hora de montar estratégias;
  • Boa variedade nos tipos de missões;
  • Modo online robusto;
  • Acessível para todos os tipos de jogadores.

Contras

  • Explicações vagas sobre detalhes dos sistemas de jogo;
  • Carregamentos frequentes.
Grand Kingdom —PS4/PS Vita — Nota: 8.5
Versão utilizada na análise: PS Vita
Revisão: Érika Honda

é brasiliense e gosta de explorar games obscuros e pouco conhecidos. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de boardgames, game music, fotografia e livros. Além de mostrar seus cliques no Flickr, tem também um blog onde escreve sobre inúmeros assuntos e também pode ser encontrado no Twitter.

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