Analógico

R.I.P: PlayStation Vita TV morre com um conceito mal utilizado

De uma luz no fim do túnel para o sistema da Sony o aparelho se tornou mais uma mancha em sua já complicada história.

O ano de 2013 não foi muito favorável para o PlayStation Vita — o portátil mais poderoso do mercado até aquele momento — graças aos baixos números de venda e falta de títulos de peso, principalmente se comparados com os alcançados pela plataforma concorrente, o Nintendo 3DS. Foi aí que dois anúncios aqueceram a mente de consumidores do mundo todo: um deles foi a versão Lite do aparelho, e a segunda (e mais importante) o chamado PlayStation Vita TV.


Anunciado inicialmente somente para o mercado asiático, o microconsole da Sony fez os olhos dos fãs da marca brilharem: era a oportunidade do console oferecer um grande diferencial. Entre eles a oportunidade de jogar grandes sucessos como Uncharted: Golden Abyss na tela grande da TV ou na pequena do portátil facilmente; ao mesmo tempo, serviria como um ponto de acesso remoto ao PlayStation 4; e de quebra ainda tornaria o acesso aos aplicativos mais fácil para quem viaja bastante.
E não era só isso! Uma provável alta nas vendas provavelmente atrairia mais desenvolvedoras com jogos mais interessantes, a biblioteca cresceria e por aí vai. Era um verdadeiro milagre da tecnologia! A salvação! Mas infelizmente, como o anúncio do fim do envio do Vita TV às lojas do Japão mostra, não foi muito bem isso o que aconteceu. O que exatamente levou à queda do que parecia ser tão promissor? Vamos tentar descobrir.

Ótimo conceito, péssima execução

No papel, todos esses benefícios são ótimos, porém, quando levamos as propostas para o mundo real vemos que a execução poderia ter sido muito melhor. E, logo de cara, a razão de ser de um console, e especificamente este, é praticamente jogada fora: boa parte do já limitado catálogo da plataforma não pode ser acessada no aparelho (pelo menos não nativamente).

Pois é! Alguns dos títulos exclusivos mais cruciais para quem possui o portátil, incluindo, além de Uncharted, jogos como Gravity Rush, Tearaway e outros que tenham seu gameplay muito dependente das funcionalidades únicas ao PS Vita, não podem ser atualizados. Mesmo com o lançamento no Ocidente, onde seu nome foi modificado somente para PlayStation TV, alguns títulos não foram atualizados para os novos comandos.

Claro, há ótimos jogos que funcionam com o aparelho, mas grande parte deles são jogos de nicho, como os das séries Atelier, Hyperdimension Neptunia, Freedom Wars e Soul Sacrifice. “Mas calma! Com certeza esse pessoal iria querer investir em um para jogar esses jogos diferentes na tela grande”, alguns podem dizer. Em teoria sim, mas, novamente, podemos ver que nem sempre os conceitos se traduzem em resultados.

Canibalismo eletrônico

A verdade é que uma outra onda do mercado dos jogos fez com que a proposta do PS TV se tornasse ainda mais falha: grandes produtoras japonesas começaram a desenvolver os jogos não só para o portátil da Sony, mas também para os grandes consoles de mesa da casa. Apesar de predatória, a estratégia é compreensível, já que o número de adeptos do PlayStation 4 e PlayStation 3 no mundo é altamente atrativo para qualquer empresa.


Com isto, alguns dos maiores lançamentos da plataforma no gênero RPG, como God Eater 2: Rage Burst, Digimon Story: Cyber Sleuth, The Legends of Heroes: Trails of Cold Steel, Sword Art Online: Lost Song, entre outros, podem ser encontrados em versões melhores e mais atraentes para quem quer se sentar à televisão para jogar.

Mas claro, há sim alguns títulos que valem a pena serem jogados aqui, como Persona 4 Golden, que é inclusive o único motivo para comprar o portátil (brincadeira) e Tales of Hearts R. Ainda assim, a funcionalidade parece ter se tornado praticamente obsoleta e um motivo a menos para investir no pequeno.

Acessório para o PlayStation 4 e outras tecnicalidades 

Outro quesito que tem sido tema de debate nos últimos dois anos é o papel do aparelho como um acessório do console de mesa da empresa e, principalmente, sobre a qualidade da conexão entre os dois. Muitas pessoas encontram até hoje problemas para fazer o streaming do sinal gerado do PS4 para o Vita TV como é feito no aparelho original.

E mesmo trabalhando com conexões físicas entre roteadores, outro problema é a sua resolução de saída, limitada aos 720p ou 1080i. Ou seja, não é possível fazer o streaming de jogos de PS4 em Full HD, uma perda que deve fazer com que muitos optem por simplesmente transportar o console de um quarto para outro.

O ponto positivo é o streaming de jogos de toda a biblioteca da família PlayStation por meio do serviço Playstation Now. Apesar de não ter testado — já que ele não está disponível no país —, o consenso é que ele funciona muito bem em outras localidades, sendo uma alternativa para ampliar o acesso a um maior número de jogos. Mesmo que alugá-los seja caro e seja bem mais vantajoso para a maioria das pessoas comprar um PS3.

Ainda falando de streaming, o que deixa a desejar bastante é a oferta de aplicativos que podiam ser acessados pelo Vita portátil, que, adivinhem, caiu bastante. A maior perda é do todo-poderoso Netflix, ausente na versão para mesa, mesmo estando disponível em qualquer outro dispositivo moderno na face da terra (já checou sua torradeira hoje?).

Isso acaba quebrando outro propósito de sua existência de competir com outros aparelhos como Apple TV e Fire TV, conceito visível até mesmo na mudança de nome que sofreu ao chegar a estas bandas.

Ter ou não ter? Eis a questão

Agora que a largada para o fim da plataforma foi dada, resta se perguntar se ainda vale a pena investir em um desses brinquedinhos. Sinceramente? Não há uma resposta clara para a questão. Mais do que em qualquer outro aparelho lançado nos últimos tempos, quem se interessar por este precisa analisar o que o console ainda consegue fazer bem para chegar a uma conclusão.

Um dos pontos mais positivos de minha longa experiência com o Vita TV (importei um do lançamento asiático) é o acesso aos jogos de PSP na tela grande e com filtros que dão aquele up no departamento gráfico. E a biblioteca é bastante interessante, incluindo The 3rd Birthday, Mega Man: Maverick Hunter X, Dissidia 012 [Duodecim]: Final Fantasy, Final Fantasy IV The Complete Collection, Persona 2: Innocent Sin, Lunar: Silver Star Harmony e Ys Seven.

A performance dos jogos nativos da plataforma também é bem impressionante, sem muitos problemas de gráficos estourados e serrilhados para todos os lados. Há também um modo de aumentar a lista de compatibilidade do aparelho de modo não oficial, ao mandar ao console um script que bloqueia a trava logo ao iniciar o jogo.

Por fim, deixo vocês com uma declaração do mito Shuhei Yoshida, presidente da Sony Worldwide Studios, que em entrevista o site Game Informer resume em algumas palavras o X de toda a questão:

“Ele não capturou a imaginação do consumidor. É um conceito difícil de explicar. Você pode dizer que ele é um miniconsole, que é um dispositivo de streaming de vídeo. Se dissermos que é um miniconsole, como outros miniconsoles, as pessoas esperam um dispositivo como o PS4 ou o Xbox One. Quando você diz que é um dispositivo de streaming, existem outros dispositivos com maior definição. Ele possui algumas coisas únicas, como permitir jogar games de PS4. Ele pode fazer muitas coisas, mas não é fácil dizer que uma delas é extremamente forte.“

Revisão: Vitor Tibério
Capa: Diego Migueis

Escreve para o PlayStation Blast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original do mesmo.

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